Mosquitos do gênero Aedes são os principais transmissores da arbovirose
Dos 387 municípios baianos com casos confirmados de chikungunya em 9 anos, 39 são classificados como de alto risco para a doença. A conclusão faz parte de um estudo publicado na revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Desenvolvido em parceria entre a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Guarulhos (UNG), o trabalho pode orientar a criação de estratégias de prevenção mais eficazes, ajustadas ao tempo, ao espaço e às necessidades locais.
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A equipe reuniu os casos confirmados da doença registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, entre setembro de 2014 e dezembro de 2023, e calculou a taxa de incidência por município em cada ano. Os dados foram integrados a informações sobre cobertura vegetal, infraestrutura urbana, redes de esgoto e coleta de resíduos, assim como às temperaturas e aos níveis de precipitação obtidos em 62 estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e na base WorldClim.
Os resultados mostraram que, embora 92,8% das cidades da Bahia tenham registrado casos da doença no período analisado, as ocorrências se concentraram em 24 regiões (aglomerados) distribuídas em 39 municípios. Os aglomerados de maior risco estão nas mesorregiões Sul, Nordeste, Centro-Sul e Norte-Centro. Os meses de janeiro a junho, que correspondem ao verão e outono, foram identificados como de maior risco.
“Isso mostra que a chikungunya não se espalha de forma aleatória, mas se concentra em certas regiões e períodos do ano”, explica Raquel Gardini Sanches Palasio, autora da pesquisa. “Essas informações ajudam a otimizar recursos e antecipar medidas de controle, como campanhas socioeducativas de eliminação de criadouros, reforço da vigilância e mobilização das comunidades antes do pico de transmissão”, argumenta.
A chikungunya é uma doença infecciosa transmitida aos humanos por mosquitos do gênero Aedes infectados pelo vírus CHIKV. O aumento da temperatura, o crescimento urbano desordenado, o desmatamento e a infraestrutura precária favorecem a formação de criadouros, elevando o risco de surtos. Ainda assim, a pesquisa revelou um contraste.
“Populações mais vulneráveis vivem em condições que favorecem a reprodução do mosquito, como a falta de saneamento, o acúmulo de lixo e o armazenamento inadequado de água”, diz a autora. “Mas o estudo também identificou associação entre chikungunya e áreas com melhores indicadores socioeconômicos, que apresentaram maiores percentuais de domicílios com água encanada, coleta de lixo e sistemas de esgoto”, revela.
Para a equipe, uma possível explicação é que municípios mais populosos e economicamente ativos concentram maior circulação de pessoas, o que facilita a disseminação do vírus mesmo em locais com infraestrutura mais adequada. “Também pode haver desigualdade econômica significativa dentro desses municípios, o que reforça a necessidade de estudos em nível intermunicipal ou intraurbano”, defende a autora.
Além dos fatores temporais e socioeconômicos, as condições climáticas e ambientais também influenciam a transmissão da doença. Municípios de alto risco apresentaram temperaturas mínimas mais elevadas, menor variação térmica e maior precipitação média mensal em comparação aos de baixo risco.
Já o desmatamento e as ações humanas em áreas de conservação podem ampliar o contato entre pessoas e vetores, criando criadouros artificiais que favorecem a proliferação do Aedes aegypti. “A combinação de altas temperaturas, períodos chuvosos e desigualdades sociais cria condições favoráveis para a proliferação do mosquito e a reemergência da doença”, reforça Palasio.
“O estudo mostra que ainda existem regiões com aumento de casos e risco persistente”, diz. Para ela, o planejamento futuro deve priorizar ações sustentadas de prevenção, como o monitoramento constante do mosquito, melhorias no saneamento e campanhas educativas, além de considerar o impacto das mudanças climáticas.
