Home » Homenagem a Celso Marcondes (Careca) 1953-2025, por Markus Sokol

Homenagem a Celso Marcondes (Careca) 1953-2025, por Markus Sokol

by admin

Divulgação

Celso Marcondes (Careca) 1953-2025

Parou de chover, já me ajuda a falar. A homenagem a um militante político deve ser política.

Conheci o companheiro Celso em 1973 na Faculdade de Economia da USP. Eu, já militante político, fui apresentado por ele ao grupo Outubro, um dos quatro grupos trotskistas que vieram a se unificar e constituir a atual Corrente O Trabalho do PT, seção brasileira da 4ª Internacional.

Ele estudava de manhã, eu de noite, mas ficamos amigos trabalhando juntos embalando enciclopédias na rua Barão de Itapetininga. Conheci, então, sua família.

No final daquele ano, ele e outros jovens militantes fizeram a imprudência de voltar de carro do Uruguai com livros de Lênin no bagageiro, e foram fichados na fronteira. Para sua proteção, eles foram retirados do país, para Caracas e depois para Paris.

Minha integração ao grupo foi truncada, mas se concluiu, e logo mais, um ano ou ano e pouco, quando ele voltou militamos anos juntos. Nos anos 80 ele foi para Campinas, onde foi presidente do PT e assessor do prefeito Jacó Bittar.

Um dia vi Celso, sempre discreto, junto com a Maria Alice, quem eu já conhecia do PT local, e eu me disse “Ah”.

Mas ninguém é perfeito…  e no final da década ele se afastou da 4ª Internacional.

Anos depois, nos reencontramos na rua, quero dizer, nas ruas, numa manifestação, quando ele já voltara a São Paulo, e passamos a conversar. Mais adiante, me chamou para uma atividade sobre África, o setor que ele dirigia no Instituto Lula, a quem ele acompanhou nas viagens por lá. Lembro de ter ralhado com a expressão “África Negra”, em que via uma separação inexata e colonial da “África do Norte”.

Continuamos conversando, enquanto ele enfrentava firme o tumor cerebral. Falávamos de tudo, país, PT, passado, presente e futuro. Faz pouco tempo, me deu uma rara edição dos anos 50 que tinha guardada, do Alamanhaque do Barão de Itararé. O Barão foi o humorista de esquerda que nos inspirou a fazer um boletim político-satírico de oposição à ditadura militar, e, de outro modo, à diretoria do Centro Acadêmico – me emocionei com o presente, foi como um legado.

Nosso último tema, foi a lamentável degeneração do regime de Moçambique, que eu acompanhava, mas onde ele estivera, e seguia.

Celso foi um militante internacionalista até o fim.

Termino, agradecendo a ele ter me levado para o mau caminho. Após a homenagem, soube que o presidente Lula tinha ligado à Maria Alice, justo da África do Sul, que coincidência.

Por Markus Sokol

 



Créditos

You may also like