Seis policiais civis entraram, a paisana, em um conjunto residencial na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio, com a missão de prender seis assaltantes da Falange Vermelha, facção criminosa ainda desconhecida, mas que daria origem ao Comando Vermelho. Sabendo que os suspeitos estavam no apartamento 302 de um dos 47 prédios do Conjunto dos Bancários, na Praia da Bandeira, os agentes ingressaram na comunidade separadamente, tentando não chamar atenção dos moradores, mas com o plano de se encontrar na porta do bloco 7, onde estariam os alvos da operação.
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Tudo corria conforme o combinado, mas no ponto de encontro, um detetive foi reconhecido por um dos bandidos, que imediatamente deu o alerta: “Sujou, tem polícia na área”.
Foi assim que começou, na noite daquela sexta-feira, 3 de abril de 1981, o mais longo e intenso tiroteio entre policiais e criminosos na história do Rio até então. Cerca de 400 agentes, entre civis e militares, se envolveram. Mais de 2 mil tiros foram disparados ao longo de cerca de dez horas de um confronto que resultou na morte de três agentes do Estado e do bandido José Jorge Saldanha, o Zé Bigode, um líder da Falange Vermelha. Segundo autoridades da época, aquele foi o primeiro enfrentamento entre a polícia e a facção, que, posteriormente, trocaria seu nome para Comando Vermelho.
Décadas mais tarde, o enfrentamento no Conjunto dos Bancários inspirou o filme “400 contra 1 – Uma História do Crime Organizado”, lançado em 2010, O tiroteio também aparece na série “O jogo que mudou a História”, que estreou ano passado, no Globoplay.
Hoje uma organização criminosa com tentáculos em vários estados do Brasil, o Comando Vermelho vem sendo alvo de uma série de investidas das forças de segurança na tentativa de frear o avanço desse grupo de traficantes. A chamada Operação Contenção começou no último dia 28 de outubro, quando algo em torno de 2500 agentes entraram no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, para cumprir dezenas de mandados de prisão, em uma ofensiva que deixou 121 mortos, entre eles, quatro policiais. Mais de 90 fuzis foram apreendidos durante a mobilização.
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No início dos anos 1980, porém, a Falange Vermelha ainda estava no início da sua expansão, após sua formação no fim da década de de 1970 no antigo presídio da Ilha Grande, em Angra dos Reis. No dia 3 de abril de 1981, policiais descobriram que Zé Bigode, um dos cabeças da facção, que tinha fugido da Ilha Grande no ano anterior, estava escondido no Conjunto dos Bancários com outros cinco bandidos. Planejando capturá-lo, os agentes entraram na comunidade sem serem identificados e se encontraram na frente do Bloco 7, mas ali o plano foi todo por água abaixo.
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Diante do prédio, um acalorado bate-boca entre vizinhos tinha atraído a atenção de vários moradores, O bando do Zé Bigode estava lá no meio da confusão, e, quando um dos bandidos soou o alerta sobre a aproximação da polícia, uma parte do suspeitos fugiu de carro disparando tiros, enquanto o chefe da Falange Vermelha buscou abrigo no apartamento 302 do prédio.
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A partir daí, os agentes tentaram diversas vezes invadir o imóvel, mas Zé Bigode resistiu, baleando vários policiais. Um deles ficou ferido no chão, agonizando no meio do fogo cruzado. Quando alguém tentava resgatá-lo, levava tiros também. O prédio foi evacuado, e os agentes dispararam artilharia pesada no apartamento, que foi alvo de bombas de gás lacrimogêneo, rajadas de metralhadoras e até de granadas. Armado até os dentes, Zé Bigode passou a noite entocado e volta e meia gritava desafiando os policiais, dizendo que só sairia de dentro do imóvel quando estivesse morto.
Por volta das 8h da manhã, depois de uma noite de pânico para os moradores do conjunto, os policiais realizaram o ataque final. Eles lançaram quatro granadas dentro do apartamento 302 e, em seguida, entraram mais uma vez atirando no meio da fumaça. O bandido ainda revidou com outra rajada de metralhadora, mas, por fim, levou um tiro de escopeta no peito e morreu.
Além dos três agentes mortos na operação, seis ficaram feridos, e cinco suspeitos foram presos. Em uma entrevista ao lado do corpo de Zé Bigode, o delegado Francisco de Paula Borges, diretor da Polícia Política e Social, disse que aquele foi o primeiro confronto entre as forças de segurança e a Falange Vermelha e ressaltou que não seria o último. As autoridades destacaram o poder de fogo da facção, e a imprensa deu destaque ao confronto na Ilha do Governador. Para alguns estudiosos, o episódio teve tanta visibilidade que pode ser considerado ponto de partida para a expansão do Comando Vermelho.
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