Celebrado em 2 de dezembro, o Dia Nacional do Samba ganha programação especial em Porto Alegre (RS). Desta terça-feira (2) até quinta-feira (4), o Mercado Público promove homenagens, rodas de samba e reúne artistas que representam a força e a diversidade do gênero na Capital. A apresentação das noites dos dias 3 e 4 será conduzida pela locutora e apresentadora convidada Juliana Vieira. Em todas as noites a entrada é livre. (veja a programação completa no fim da matéria).
Também nesta terça-feira, o músico, compositor e pesquisador brasileiro nascido na cidade de Porto Alegre em 1989, Paulinho Parada, lançará a música Alegrias da Vida, do lendário Zé Grande. Hino da Praiana em 1980, é considerado por Parada o mais belo samba já composto por um gaúcho, agora registrado pela primeira vez em formato digital.
Para marcar a data, Paulinho fará um show às 20h30 no Boteco do Zé, no bairro Jardim Botânico. O músico e estudioso estará acompanhado por Luiza Hellena e pela Velha Guarda da Praiana. O palco também ficará aberto a todos os sambistas, músicos, poetas e compositores presentes. A entrada é gratuita.
Samba porto-alegrense
Gravada ao vivo no Centro Histórico-Cultural Santa Casa, durante o espetáculo Samba da Velha Guarda, produzido e protagonizado por Parada, a faixa conta com a participação especial da cantora Luiza Hellena e da Velha Guarda da Praiana, uma das academias de samba mais longevas do Sul do Brasil. O registro preserva a força da interpretação coletiva, a energia do público e a autenticidade de um encontro histórico do samba porto-alegrense.
Alegrias da Vida será também a primeira música do novo disco do artista a ser lançada. O álbum Paulinho Parada – Ao Vivo reunirá não apenas sambas, mas também milongas e canções que dialogam com a identidade brasileira e com as confluências sonoras da América Latina, e deve chegar ainda no primeiro semestre de 2026.
Paulinho Parada afirma que os sambas de Lupicínio Rodrigues, assim como os de Túlio Piva e de Zé Grande, lhe pegam pelo coração. “Não dá pra mensurar o tamanho desses compositores, é indizível. Temos legados incríveis de Ziláh Machado, Luiza Hellena, Nego Izolino, Durque Costa Cigano. Esse registro é uma homenagem a esses grandes nomes”, reflete.
Dia Nacional do Samba
Segundo informações da Fundação Cultural Palmares, em dezembro de 2017 foi instituído o Dia Nacional do Samba de Roda, celebrado em 25 de novembro. Contudo, o dia 2 de dezembro já figurava há muitos anos no calendário oficial de datas culturais no Brasil como o Dia do Samba. A sua comemoração, no entanto, era restrita a algumas cidades, em especial o Rio de Janeiro e Salvador.
Lá em 2007, o Projeto de Lei nº 1.713-A se propôs a decretar oficialmente em todo o território brasileiro o Dia Nacional do Samba. O texto do projeto trazia a seguinte argumentação:
“Por tradição, que os historiadores da nossa música popular não sabem precisar com certeza, o Dia Nacional do Samba já é comemorado oficialmente em bom número das Unidades da Federação na data de 2 de dezembro. Dizem que o Dia do Samba remete a uma visita de Ary Barroso à Bahia, num 2 de dezembro; outros, afirmam que a data se prende ao Trem do Samba, ocupado pela Velha Guarda da Portela na Central do Brasil, e cuja primeira edição ocorreu em 1996…”
“Se o samba nasceu ou não no Brasil, é uma questão acadêmica, hoje reduzida apenas à sua importância musicológica. O fato, incontestável, é que o samba é do Brasil, e o seu Dia Nacional vem sendo comemorado na data de 2 de dezembro…”
Mais à frente, em 2013, um segundo projeto de lei alertava que “inexiste assim qualquer lei de âmbito federal que institua o Dia Nacional do Samba, diferentemente do gênero musical ‘choro’, objeto da Lei n° 10.000, de 4 de setembro de 2000, que instituiu o dia 23 de abril como o Dia Nacional do Choro. Dessa forma, é oportuno o surgimento de um ato legal que venha a oficializar, em nível nacional, uma data que o mundo do samba já comemora, em todo o país, desde 1963.”
Já em 4 de maio de 2023, a Lei nº 14.567 reconheceu as escolas de samba – seus desfiles, sua música, suas práticas, suas tradições – como manifestação da cultura nacional. Foi instituído ao poder público a competência de garantir a livre atividade das escolas de samba e a realização de seus desfiles carnavalescos.
O samba pioneiro
Um estilo musical cheio de gingado e melodia que encanta pelas danças e também pela execução que exige harmonia e talento de todos os músicos envolvidos na roda de samba. De acordo com a Fundação Cultural Palmares, Pelo telefone, composição de Donga datada de 1916, é considerado o primeiro samba brasileiro, por substituir o maxixe. Nessa época, já se podiam gravar as músicas em discos.
Na mesma ocasião, surgiram muitos compositores de grande talento, como Pixinguinha, João da Baiana, Sinhô e Heitor dos Prazeres. O samba foi tomando uma expressão urbana e moderna. Começou a ser tocado nas rádios, se espalhou pelos morros cariocas e nos bairros da zona sul, conquistando um público de classe média também.
Mais tarde, em meados do século 20, Dorival Caymmi e João Gilberto deram uma nuance sofisticada para o samba, misturando-o com outras influências musicais.
Samba em Porto Alegre

Em Porto Alegre, não há um marco exato do surgimento do samba na cidade. Nos anos 30, o gênero começava a ser tocado em jazz cafés por mini orquestras, nas quais surgiram nomes como Horacina Côrrea, cantora nascida na Colônia Africana (Rio Branco/Mont’Serrat) e que foi sucesso nas rádios porto-alegrenses da época.
Com informações de uma entrevista do Nonada Jornalismo com Renato Dornelles, jornalista e pesquisador, “uma curiosidade interessante é que na Casa Elétrica, uma das primeiras gravadoras do país, há o registro de uma música de 1913 como samba, mas não se tem partitura, nada. Se isso fosse comprovado, seria o primeiro samba do Brasil sendo gravado aqui, porque data antes da gravação de Pelo telefone do Donga, em 1916, no Rio de Janeiro”, conta a matéria.
Na entrevista que pode ser lida aqui, Dornelles conta que já sobre os territórios onde nasceram as raízes do samba porto-alegrense, não há dúvidas: em regiões como a antiga Colônia Africana, o Areal da Baronesa e a Ilhota, já havia manifestações mais populares, pois eram redutos negros que executavam o samba na cidade.
O quilombo do Areal da Baronesa deu origem ao Carnaval de rua da cidade. A Ilhota, um território negro do início do século 20, se chamava assim pois era circundada pelas águas do arroio Dilúvio. Não só é o berço de Lupicínio Rodrigues, como também o berço da cultura carnavalesca e de rodas de samba que fizeram o Brasil conhecer Lupicínio.
“Os marinheiros de outros estados que chegavam pelo porto frequentavam os bares populares da Ilhota e ouviram Se acaso você chegasse em uma dessas rodas e começaram a cantar a música lá no Rio, o que fez com que as pessoas buscassem conhecer o compositor”, explica Dornelles durante a conversa com o Nonada Jornalismo.
Serviço
Alegrias da Vida – lançamento do single nas plataformas + show de Paulinho Parada e Velha Guarda da Praiana
Data: 2 de dezembro (terça-feira) – Dia Nacional do Samba
Horário: às 20h30
Local: Boteco do Zé – Rua Barão do Amazonas, 856. Bairro Jardim Botânico / Porto Alegre.
Entrada franca
Programação Mercado Público de Porto Alegre
Terça-feira (2)
19h – Dia Nacional do Samba – Tributo a Cláudio Barulho
A abertura contará com uma homenagem a um dos grandes nomes da cena local.
Quarta-feira (3)
19h – Semana Especial do Samba – Roda de Samba do Botafogo
Noite dedicada ao samba tradicional, com a energia e a autenticidade da Roda de Samba do Botafogo.
Quinta-feira (4)
19h – Dia Municipal do Suingue e do Samba-Rock – Lembrando Bedeu
Grupo Pau Brasil
Celebração ao suingue e ao samba-rock, relembrando a obra de Bedeu, com apresentação do Grupo Pau Brasil.
