> O boletim Faria Lima Journal no Fim de Semana, do portal Faria Lima Journal e da agência de notícias Mover, traz uma seleção de conteúdos e leituras para investidores dispostos a gastar algum tempo no sábado e domingo para leituras mais aprofundadas de boas histórias e materiais informativos.
Empresas que acumularam recentemente criptomoedas, em meio ao até então bull market vigente no segmento, estão se desfazendo de suas reservas, em uma tentativa de sustentar a queda no preço de suas ações, reportou o Financial Times nesta semana, citando uma desvalorização de US$1,0 trilhão no mercado de criptomoedas.
O FT argumenta, na publicação, que a “febre de negócios de tesouraria de ativos digitais” se desfez. A Strategy, por exemplo, liderada por Michael Saylor e maior detentora corporativa de bitcoin do mundo, viu suas ações despencarem 50% nos últimos três meses, arrastando consigo dezenas de empresas semelhantes. No plano de negócios original, a Strategy oferta inteligência de negócios, software móvel e serviços baseados em nuvem.
A publicação de dados do setor, a The Block, pontuou que cerca de US$77 bilhões foram perdidos em valor de mercado de companhias que têm realizado compras de criptomoedas, via captação de recursos por meio de dívidas e ações como forma de financiamento, desde seu pico de US$176 bilhões em julho. O movimento de destruição de valor de mercado vem na esteira do forte revés da euforia de mercado em outubro.
Com a empresa de Saylor agora valendo menos do que o bitcoin que detém, os investidores temem que um modelo de negócios que dependia de um círculo virtuoso de alta nos preços das criptomoedas e emissão massiva de ações e dívidas esteja se desfazendo. Diversas companhias começaram a vender seus estoques de criptomoedas, em um esforço para financiar recompras de ações e sustentar seus preços, invertendo o modelo de tesouraria em criptomoedas.
A Strategy, porém, dobrou a aposta: comprou mais bitcoin, à medida que o preço da criptomoeda alcançou patamar de US$80 mil. Nesta semana, Taylor disse que a “volatilidade é um presente de Satoshi para os fiéis”, referindo-se ao criador pseudônimo do bitcoin. No Brasil, duas empresas listadas estão no negócio de entesourar bitcoin, Méliuz e OranjeBTC— e ainda não anunciaram nenhuma venda de seus criptoativos.
A Cantor Fitzgerald, antiga firma do Secretário de Comércio Howard Lutnick , não costumava estar entre as mais lembradas em Wall Street– agora, está vivendo seu melhor ano de todos os tempos, conforme noticiado por Bloomberg e Wall Street Journal nesta semana. A Cantor, empresa privada, está a caminho de faturar mais de US$2,5 bilhões este ano, incluindo mais de US$1 bilhão em receita de banco de investimento, segundo fontes familiarizadas com o assunto.
O banco de investimento e empresa de serviços financeiros funcionou durante anos sem muita repercussão, especializando-se em negociação de títulos e negócios em áreas arriscadas do mundo financeiro que os concorrentes evitavam. Agora, uma aposta inicial em criptomoedas que está dando frutos e a ascensão de Lutnick aos mais altos escalões do governo colocaram a Cantor no centro das atenções.
“Nunca estive tão otimista em relação à trajetória desta organização como estou agora”, disse Sage Kelly , um dos três co-diretores executivos nomeados para o banco de investimentos após a saída de Lutnick em fevereiro.
Para efeitos de comparação, a receita do banco de investimentos da companhia somou US$650 milhões. Poucas empresas em Wall Street, se é que alguma, devem superar sua receita em 2026, um ano recorde para negócios.
Para além disso, o foco da Cantor em criptomoedas, que foram adotadas pelo governo Trump, contribuiu para seu sucesso recente. Até o momento neste ano, de acordo com o WSJ, a Cantor levantou mais de US$40 bilhões em capital para o setor de criptomoedas e a previsão é que alcance US$50 bilhões em financiamento até o fim do ano, de acordo com fontes.
Enquanto isso, muitos em Wall Street estão surpresos ao ver Lutnick, cujas táticas agressivas de negociação o ajudaram a se tornar bilionário, mas o afastaram de alguns de seus pares, como um dos principais articuladores de poder de Trump. Lutnick negociou acordos comerciais e convenceu líderes empresariais a fazerem grandes investimentos.
Investidores voltaram as atenções, nesta semana, para plano orçamentário de 2026 do Reino Unido, apresentado pela chanceler do Tesouro, Rachel Reeves, que prevê, dentre outros pontos, aumentos de impostos no orçamento local, avaliaram veículos globais. O plano orçamentário prevê uma série de aumento de impostos, que devem arrecadar US$34,4 bilhões, para cumprir as regras fiscais autoimpostas.
A manobra anunciada por Reeves – no segundo ano consecutivo de fortes aumentos de tributos – visa lidar com crescentes gastos com bem-estar social, além do custo do serviço da dívida. A chanceler do Tesouro também antevê crescimento econômico mais fraco adiante, o que reduzirá as receitas fiscais do governo do Reino Unido.
Economistas consultados pelo Wall Street Journal pontuaram, porém, que esses aumentos de impostos podem frear ainda mais esse crescimento previsto para a economia local. “Fiz o possível para que a contribuição de todos fosse a menor possível”, declarou Reeves, sob vaias dos deputados da oposição na Câmara dos Comuns, na quarta-feira. No ano passado, o déficit público do Reino Unido foi de 5,1% do PIB — o terceiro mais elevado da Europa. Já estimativas de um órgão fiscalizador do orçamento britânico (OBR) apontam que o pacote de impostos de Reeves deverá reduzir o déficit dentro de cinco anos, compensando o aumento dos gastos estatais.
Há apenas um ano, Reeves tinha anunciado o maior aumento de impostos de uma geração, um pacote de £40 bilhões apresentado à época como uma medida única para tapar o que chamou de “buraco negro” nas contas públicas. Com o novo aumento anunciado nesta quarta-feira, a carga fiscal total (impostos como % do PIB) está agora projetada para atingir o nível mais alto desde a Segunda Guerra Mundial. A grande questão, ventilada pelo WSJ, é se o Reino Unido, tal como outros países europeus, ficará preso num ciclo de impostos cada vez mais altos para financiar gastos estatais crescentes.
Em toda a Europa, as despesas públicas estão sob pressão devido ao envelhecimento da população (mais custos com saúde e pensões), maiores gastos militares, serviço da dívida e a cara transição para energias renováveis. Tal como muitos governos ocidentais, o Reino Unido acumulou dívida massiva nos últimos anos, especialmente durante a pandemia. As taxas de juro mais altas tornaram essa dívida muito mais cara. No próximo ano, o governo deverá gastar mais de £110 bilhões só em pagamento de juros — o dobro do orçamento da defesa.
Vale, Itaú e Axia, ex-Eletrobras, anunciaram propostas significativas para remuneração aos acionistas, antecipando-se à tributação de dividendos mensais acima de R$50 mil pagos por empresas a pessoas físicas partir de 2026, em movimento que poderá ganhar mais tração até o fim deste ano e deve envolver diversas companhias listadas em bolsa.
A distribuição de remuneração aos acionistas vem na esteira da aprovação, pelo Congresso, de medida compensatória introduzida pela Câmara dos Deputados, em outubro, para fazer frente à isenção ou redução do Imposto de Renda para quem ganha até R$7.350 mensais
De acordo com a XP, estudo mostra que reservas de lucros e alavancagem proporcionam “espaço para dividendos” de até R$614,8 bilhões, equivalente a um dividend yield de 22,8, em um caso hipotético em que todas as companhias sob cobertura distribuíssem integralmente as reservas de lucros.
Naturalmente, é pouco provável que as companhias distribuam todo o seu potencial, em razão das sérias consequências que haveria para eventual esgotamento de caixa e reservas.
Com isso, algumas empresas têm adotado estratégias “criativas”, como no caso da Eletrobras, com a proposta de remunerar investidores com ações resgatáveis, e da Engie, que aprovou aumento de capital de R$1,96 bilhão com reservas de lucros mediante bonificação em ações, para não ficar sem caixa em meio a um pesado plano de investimentos.
O lendário sócio do megainvestidor Warren Buffet, Charlie Munger, poderia ter se aposentado aos 80 em uma mansão com vista para o Pacífico em Montecito – ele mesmo projetara o condomínio fechado que os vizinhos chamavam de “Mungerville”. Preferiu ficar na mesma casa sem ar-condicionado em Los Angeles onde morava desde os anos 1960, perto das pessoas que amava e dos problemas que ainda o empolgavam. Nos últimos anos de vida, mesmo com a visão falhando e a mobilidade reduzida, Munger continuava fazendo apostas ousadas, estudando empresas até semanas antes de morrer e perguntando a amigos se a Lei de Moore ainda valia na era da Inteligência Artificial, revela reportagem do The Wall Street Journal sobre a reta final de Munger.
A lição de vida é cristalina: conforto é bom, mas significado é melhor. Envelhecer com graça não é desacelerar – é escolher deliberadamente onde colocar a energia que resta. Em investimentos, seus movimentos finais foram uma verdadeira aula de contrarianismo maduro. Depois de evitar ações de carvão por seis décadas, Munger mergulhou pesado em Consol Energy e Alpha Metallurgical Resources em 2023, exatamente quando o consenso gritava que o setor estava “morto”. Ganhou mais de US$50 milhões em poucos meses. Não era especulação de nonagenário; era a mesma disciplina de sempre: empresas lucrativas negociando a múltiplos ridiculamente baixos.
A lição prática para gestores: modas passam, margens de segurança ficam. Quando todo mundo foge de um setor “impopular”, é hora de fazer as contas friamente. Outra aposta pouco conhecida foi no mercado imobiliário multifamily da Califórnia através da Afton Properties, parceria que começou quando uma vizinha adolescente bateu em sua porta pedindo conselho. Munger bancou dois jovens de 30 e poucos anos, escolhia bairros, discutia paisagismo e insistia em dívidas longas a taxas fixas – exatamente o oposto do que a maioria dos fundos imobiliários fazia na era de juros zero. Resultado: um portfólio que hoje vale cerca de US$3 bilhões. Aqui a lição é dupla: (1) talento jovem + capital paciente + alinhamento de longo prazo é uma fórmula imbatível; (2) em real estate, densidade baixa e financiamento longo continuam sendo o caminho mais seguro para retornos compostos, mesmo quando todo mundo quer alavancagem curta.
Talvez a maior lição de Munger – de vida e de investimentos – seja a recusa em aceitar a irrelevância. Aos 99 anos, cego de um olho, surdo, com bengala, ele ainda liderava o “clube do café da manhã” às terças, o almoço de sexta com sanduíches de frango e See’s Candies, e fechava compra de prédio dias depois de morto (literalmente – a transação foi assinada post mortem). Faleceu semanas antes dos 100 anos, em novembro de 2023. Internado, realizou uma ligação de despedida com Buffett. Deixou um recado que todo gestor deveria colar na tela: “Construa um sistema robusto de tomada de decisão e continue aplicando-o até o fim. Uma hora o jogo acaba, mas enquanto estiver jogando, jogue sério”.
Charlie Munger não ensinou apenas como investir melhor – ensinou como viver até o último segundo, avaliou o WSJ. Aproveite a Black Friday e adquira “A sabedoria de Charlie Munger”, livro que reúne coletânea de discursos proferidos por Munger sobre negócios, ciência e, sobretudo, vida, que se tornaram referência para geração de investidores e empreendedores.




