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Abertura da 27ª Feira Estadual da Economia Popular e Solidária destaca expansão, reconhecimento e emoção coletiva

by admin

A 27ª Feira Estadual da Economia Popular e Solidária teve início nesta segunda-feira (1º), em Porto Alegre, com a abertura oficial realizada nesta terça-feira (2). O evento, que neste ano se estende por duas semanas, reúne mais de 160 expositores (84 estandes), mais de 300 empreendimentos de diferentes regiões do Rio Grande do Sul. A abertura do evento contou com mística, música e declamação de poesia pelo arte educador Elson da Costa (Mano Cascata) do programa Paul Singer de São Leopoldo, dedicado às mulheres da feira.

Integrante do Fórum Gaúcho de Economia Solidária e pesquisador do Programa Paul Singer, Ademar Marques abriu a cerimônia destacando a relevância histórica da feira. “A maior feira que o Rio Grande do Sul pode realmente observar na Capital”, afirmou. “A 27ª feira tem como lema Seu consumo, nosso futuro. Escolha a economia solidária. É perceptível que está sendo possível realizar essa revolução de um jeito diferente de se organizar economicamente.”

Marques ressaltou que, ao longo de quase três décadas, o evento reafirma um modelo de produção baseado na cooperação, sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. “A economia solidária contribui para a preservação ambiental, favorece a cooperação e integra os diversos atores do setor. Mas, especialmente, não existiria economia solidária sem os empreendimentos que a compõe. E a estes, eu queria um aplauso.”

Evento contou com intervenção artística – Foto: Rafa Dotti

Ele lembrou que a feira fomenta redes e cadeias produtivas da agroecologia, agricultura familiar, agroindústrias, artesanato sustentável, confecção, moda, serviços, bancos comunitários e alimentação saudável. Sobre o lema desta edição, afirmou que ele desafia a sociedade a adotar um modelo sustentável e responsável.

Marques também citou o apoio de parceiros como a Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, Fundação Banco do Brasil, Governo do Estado do RS, Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do RS (Fetraf), Associação do Voluntariado e da Solidariedade (Avesol), União dos Empreendimentos Solidários (Unisol-RS), Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Profissional/RS, Caixa Econômica Federal e diversas entidades sindicais e organizações sociais.

“Pela primeira vez, a feira se entende por duas semanas. Isso para a gente é muito emocionante”, comemorou Nelsa Nespolo – Foto: Rafa Dotti

“É um dia de emoção”

Presidente da Unisol-RS, Nelsa Nespolo, celebrou a primeira edição da feira realizada sem cobrança de taxas aos expositores. “É a primeira vez que a gente não está pagando para estar aqui comercializando. Pela primeira vez, a feira se entende por duas semanas. Isso para a gente é muito emocionante.”

Ela afirmou que o movimento vem ampliando sua presença pública. “Estamos fazendo aquilo que o nosso presidente disse: vamos sair do lugar, ir para a rua, nos posicionar no sentido de que é possível fazer diferente.”

Nespolo destacou o simbolismo das camisetas usadas no evento. “Estamos com uma camiseta cor terra porque nossa terra está gritando que precisa ser cuidada. Está escrito em verde porque só a natureza preservada pode nos dar vida longa e garantir o futuro de quem virá.”

A dirigente agradeceu o apoio da Fundação Banco do Brasil e da Secretaria do Trabalho, reforçando a construção coletiva do evento. “Quando vêm organizações diversas apoiando, estão dizendo que este é o caminho. É por aqui que queremos distribuir renda, dar vida para pessoas que colocam vida na sua produção.”

Segundo ela, expositores do Interior dedicam 15 dias longe de casa para participar da feira. “A essência da economia solidária não tem ‘eu’, tem ‘nós’. A conquista é nossa, é de cada um de nós.” Nespolo anunciou ainda a inauguração, em 2026, de seis casas de economia solidária, espaços permanentes de comercialização e formação. “Vamos transformar este estado. No coração dessas mulheres e desses homens bate uma energia que ninguém segura.”

“A caminhada nunca foi simples”: Fórum destaca resistência histórica

Representando o Fórum Gaúcho de Economia Solidária, Cris Dill lembrou que a trajetória do movimento no RS “nunca foi simples”, construída com “as mãos, o coração e a coragem de um povo que não desiste”.

Segundo ela, ainda é comum que o poder público não compreenda a centralidade dos empreendimentos, mas a resistência segue firme. “Por trás de cada barraca, de cada produto feito à mão, existe uma história, uma vida, um sustento, uma rede que se apoia mutuamente. Seguimos porque acreditamos. Se nós, empreendimentos, abandonamos essa luta, ela morre por si só, e nós não vamos deixar isso acontecer.”

Dill reforçou o papel do fórum na articulação do movimento e lembrou a presença do Rio Grande do Sul em Brasília na defesa da recriação do Ministério da Economia Solidária. “Enquanto houver um artesão, uma mulher empreendedora, um agricultor familiar, um coletivo dizendo ‘eu não desisto’, nós estaremos lá. Que venha 2026 com luta e resistência. A economia solidária continua viva porque nós continuamos vivos dentro dela.”

“Nós, artesãs e artesãos, somos o maior peso da economia solidária”, ressaltou Zuleide Cunha da Rosa – Foto: Rafa Dotti

Expositores urbanos e rurais celebram o coletivo

Falando em nome dos expositores urbanos, Zuleide Cunha da Rosa lembrou sua longa trajetória no movimento: “Estou há 27, 28 anos na economia solidária. Cada carinha que a gente passa, conhece um pouquinho. Nós, artesãs e artesãos, somos o maior peso da economia solidária, e não podemos esquecer disso. Temos o poder de trabalharmos no coletivo, com todo respeito.”

Representando as agroindústrias familiares, Bruno Lago destacou a gratidão pelo espaço de exposição. “É uma imensa satisfação e também uma responsabilidade estar falando em nome de todas as agroindústrias e familiares. No Interior, as agroindústrias se desafiam a produzir um produto diferenciado, com segurança alimentar, para trazer a um grande centro.”

Coordenador da Fetraf, Luiz Scapinelli frisou a dimensão simbólica desta edição. “Posso dizer que é a primeira vez que os expositores estão aqui sem pagar nada. Eles merecem uma salva de palmas.” Ele reforçou que a economia solidária expressa a essência do campo: “Quem faz o produto, quem processa o produto e, na agricultura familiar, quem leva o produto para vender, essa é a economia solidária”.

Integrante da ONG Moradia e Cidadania, Eva Sarmento lembrou que a entidade reúne trabalhadores e aposentados da Caixa e tem longa atuação em ações de sustentabilidade. Ela exibiu a mochila que representou a organização na COP30 e celebrou o protagonismo feminino nesses espaços. “Precisamos produzir de forma responsável e consumir de forma consciente. Que venham mais 28, 29, 30, 80 edições. Quero que meu neto participe desses lugares.”

Economia solidária para as próximas gerações

Supervisor da Avesol, Douglas Filgueiras, afirmou que a edição deste ano deve ser considerada vitoriosa, especialmente pela retomada do subsídio para garantir a comercialização dos empreendimentos. “É o único projeto capaz de garantir a vida das próximas gerações.”

Filgueiras citou exemplos concretos: a agricultura familiar como base da segurança alimentar, a cadeia têxtil sustentável representada pela Justa Trama e o papel central dos catadores e das catadoras no aumento do ciclo de vida dos materiais recicláveis. Criticou a desigualdade entre a precarização do trabalho dos catadores e a publicidade milionária das grandes empresas.

Mano Cascata declamou uma poesia na mística da abertura – Foto: Rafa Dotti

Apoio institucional e dimensão política

Pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Profissional, Fernanda Sequeira, destacou o compromisso da pasta com o setor e o impacto positivo das feiras. Ela relatou visitas com alunos à Justa Trama e a bancos comunitários e disse já estar planejando novas feiras para 2026. “Quanto mais tempo na rua, mais negócios acontecem. Vida longa à economia solidária.”

Representando a Superintendência Regional do Trabalho, Claudir Nespolo afirmou que cada produto exposto carrega “um pouco da vida” de quem o produz e lembrou períodos em que o evento não recebeu apoio institucional. Ele comparou o cenário atual com os anos após o impeachment de Dilma Rousseff e durante o governo Bolsonaro, quando, segundo ele, o apoio desapareceu: “O voto tem consequência para melhorar ou piorar a vida do trabalhador”.

A dimensão política da feira também foi ressaltada pela deputada estadual Stela Farias (PT), que precisou se ausentar para participar da votação do orçamento do Estado. “Estou subindo para votar o orçamento do Estado. Que, até onde eu sei, não tem nada previsto para a economia solidária de novo. A gente vota há anos o orçamento, há anos a gente briga por isso… No próximo ano a gente estará mais forte dentro da Assembleia também. Que essa edição seja um grande sucesso. Vida longa à economia solidária”, disse.

O apoio das entidades sindicais foi reforçado por Marcelo Nascimento, representante da categoria. “É uma alegria imensa fazer parte aqui dessa 27ª feira popular da economia solidária. Os sindicatos do Brasil todo têm o papel de fazer com que a economia solidária popular seja cada vez mais incentivada e a gente consiga trabalhar com esse mercado, que é um mercado justo, que distribui uma renda justa para nossos cooperativados, porque é assim que a gente tem que trabalhar. Então, contem sempre com o nosso apoio, o apoio dos sindicatos”, afirmou.

“Temos que construir empreendimentos comerciais também no esquema da autogestão, da divisão de bens, da divisão dos ganhos de maneira igualitária”, frisou Gilberto Carvalho – Foto: Rafa Dotti

Investimentos e aportes financeiro

Ao Brasil de Fato RS e à TVE, o secretário nacional de Economia Popular e Solidária, Gilberto Carvalho, informou que o governo federal destinou R$ 70 milhões entre 2024 e 2025 para apoiar empreendimentos solidários, cooperativas de catadores e pequenos agricultores afetados pelas enchentes. Além disso, R$ 23 milhões de solidariedade internacional serão investidos exclusivamente nas áreas atingidas.

De acordo com ele quatro caminhões já foram entregues às cooperativas de catadores de Canoas, que tiveram seus equipamentos destruídos pelas cheias. Outros investimentos incluem a criação de seis novos Centros Públicos de Economia Solidária e o fortalecimento de empreendimentos urbanos e rurais com foco em agroecologia e autogestão.

Carvalho pontuou que, este ano, os expositores não pagaram para participar, antes, o custo variava entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil. O subsídio foi garantido via Fundação Banco do Brasil.

Como os recursos, expôs o secretario, será possível a ampliação das estruturas permanentes de economia solidária no estado. Hoje existe uma casa no centro de Porto Alegre, e seis novas unidades serão construídas. “São espaços autogeridos pelos próprios expositores, que cuidam fisicamente do local e também da gestão comercial, de forma coletiva”, explicou. As casas serão distribuídas em Pelotas, Caxias do Sul, Santana do Livramento, São Leopoldo, Passo Fundo e Porto Alegre.

Segundo Carvalho, o valor de R$ 23 milhões será aplicado integralmente nas regiões atingidas, com foco em cooperativas, casas coletivas, centros de economia solidária e projetos de capacitação profissional, como reformas de casas realizadas pelos próprios moradores em formação.

“É uma economia mais justa, com mais criatividade e justiça social”, destacou Gilson Lima – Foto: Rafa Dotti

Expansão da economia solidária urbana

O secretário destacou que os empreendimentos solidários agora têm respaldo da nova Lei Paul Singer, aprovada no ano passado e em fase final de regulamentação, prevista para 15 de dezembro.

Segundo ele, após um “boom” da economia solidária no meio rural, impulsionado pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o desafio agora é fortalecer empreendimentos urbanos, inclusive industriais e comerciais. “Temos que construir empreendimentos comerciais também no esquema da autogestão, da divisão de bens, da divisão dos ganhos de maneira igualitária, para mostrar que é possível um outro tipo de economia.”

Ele ressaltou ainda a centralidade da agroecologia, afirmando que “a união solidária e a agroecologia se casam perfeitamente”.

Fundação Banco do Brasil reforça atuação na economia solidária

O diretor da Fundação Banco do Brasil, Gilson Lima, explicou que a instituição passou por um processo de reestruturação nos últimos três anos, adotando a economia solidária como estratégia central. “Buscamos, em parceria com o governo federal e a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senae), realinhar nosso discurso interno e nossas ações na alocação de recursos para empreendimentos solidários. É uma economia mais justa, com mais criatividade e justiça social.”

Segundo Lima, a fundação atua em diferentes eixos: educação, saúde, renda e habitação, sempre em parceria com cooperativas, instituições e outras fundações. Ele destacou dois grandes editais executados em 2023: um para agroecologia, com parceria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e outro de R$ 50 milhões para reestruturação das cadeias de catadores em todo o país.

Sobre os R$ 23 milhões do fundo internacional, Lima explicou que os valores foram arrecadados durante as enchentes, em campanha capitaneada pelo Itamaraty. “São projetos mais estruturantes, voltados para a economia solidária, seja urbana ou rural, dentro da mancha atingida pela enchente.”

“É parte da nossa vida”, afirmou a expositora Oraide dos Santos – Foto: Rafa Dotti

Força da tradição

Aos 75 anos, Oraide Santos, de Porto Alegre, é a personificação da longevidade e do espírito da economia solidária. Membro da Associação Toque de Anjos, que conta com 15 artesãos (11 presentes na feira), ela está no movimento há 29 anos e participou de todas as 27 edições da feira. “É parte da nossa vida. Sabe por quê? Porque eu me criei no Interior, numa casa solidária, onde tudo era dividido”, relata Santos.

Sua produção é focada em confecção, utilizando retalhos e sobras da indústria. “Eu sou da confecção, eu trabalho com retalhos, com sobras da indústria e trabalho com tecido também”, detalha a artesã, que vê na prática do reaproveitamento um pilar do seu trabalho. Ela enfatiza o aspecto coletivo e a luta pela consolidação do setor. “Trabalhando sempre junto dos que trabalham para que isso aconteça, para que essa economia cresça. A gente sempre trabalhou para ele sempre junto.”

Santos, que já atuou como coordenadora da feira, destaca a importância do evento. Com a extensão do evento por mais uma semana, a expectativa é alta. “Espero o dobro de venda, com certeza que é uma semana a mais. E ainda vou ter a terceira semana porque eu faço parte da Fundação Gaúcha de Trabalho e Ação Social aqui da Casa do Artesão, da FGTAS.”

“A economia solidária, para mim, ela é um projeto social que ela vem reorganizar a maneira como a gente se conduz, como sociedade, como indivíduos”, pontuou Mariana Dade – Foto: Rafa Dotti

Renovação sustentável

Participando pela primeira vez da feira, Mariana Dade, de Morro Redondo (região sul, próximo a Pelotas), ressalta que a economia solidária transcende o aspecto comercial. “A economia solidária, para mim, ela é um projeto social que vem reorganizar a maneira como a gente se conduz, como sociedade, como indivíduos, para a gente reestabelecer alguns valores que a gente se esqueceu no meio do caminho e a gente vê que está fazendo muita falta. Então, essa busca para um mundo melhor, uma sociedade mais justa”, afirma a artesã, que trabalha há 10 anos no setor.

Dade faz parte do coletivo Filhas da Terra, que está em processo de reorganização e é fruto de um trabalho desenvolvido pela Irmã Assunta em Pelotas. O foco do grupo é a produção e o beneficiamento de ervas medicinais e aromáticas. “A gente faz o plantio das plantas e a partir disso a gente beneficia em produtos para bem-estar e saúde. Tanto físico como espiritual, energético”, detalha a artesã.

O estande de Dade expõe uma variedade de produtos, incluindo incensos naturais atados de ervas, aromatizadores com óleos essenciais, pomadas, sabonetes e banhos de ervas. A preocupação com a sustentabilidade é evidente, com a utilização de insumos de produção própria. Um detalhe que chama a atenção é um “baúzinho” de mensagens.

“A gente vê que as cartas, uma boa mensagem que a pessoa pode chegar e trazer, pode trazer um benefício também, como as ervas, como tudo. Então isso aí é para as pessoas pegarem uma boa mensagem e levarem uma reflexão. Então mesmo quem não leva nada pode levar alguma coisa”, conclui Dade, reforçando a dimensão humana e reflexiva do seu trabalho.

A feira segue até o dia 13 de dezembro no Largo Glênio Peres, no Centro Histórico de Porto Alegre.

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