Ação mecânica da escovação é importante para a liberação de fluoreto
Os cremes dentais (ou pastas ou géis) com flúor são a forma mais eficaz no dia a dia para controlar a cárie dentária. O motivo é o fluoreto (a forma ativa do flúor), que fica livre na boca durante a escovação, reduz a perda de minerais do dente e ajuda a repor o que foi perdido. Mas isso só funciona se esse fluoreto estiver quimicamente solúvel no tubo de pasta para ser biodisponibilizado na boca, no curto tempo em que as pessoas escovam os dentes (muitas vezes, menos de um minuto!)
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O problema é que os dentifrícios (nome técnico para pasta, creme ou gel dental) são formulados de jeitos diferentes. Elas variam em viscosidade, ingredientes e estabilidade química. Essas diferenças determinam quanto fluoreto cada produto realmente libera enquanto você escova. Até agora, não existia um teste confiável para medir isso de forma comparável e reprodutível.
Pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP-Unicamp) desenvolveram e validaram clinicamente o primeiro modelo laboratorial capaz de estimar a porcentagem do fluoreto solúvel que é liberada por uma pasta durante a escovação. O estudo combinou dois experimentos: um teste in vivo, com três voluntários escovando os dentes por um minuto com três cremes comerciais, e um teste in vitro, no qual as mesmas pastas foram agitadas mecanicamente para simular o movimento da escova.
A equipe também analisou a viscosidade — o quanto a pasta é grossa ou se desfaz quando movimentada — porque ela afeta a velocidade com que o fluoreto solúvel é liberado durante a escovação.
Os três produtos testados tinham concentrações diferentes de flúor, todas expressas em ppm F, unidade que indica “partes por milhão de fluoreto” dentro da pasta: Sorriso Dentes Brancos contém 1450 ppm F, Tandy tem 1100 ppm F e Close-up Fresh Action, 1450 ppm F.
No teste, Sorriso Dentes Brancos — a menos viscosa — liberou mais de 80% do fluoreto solúvel. Tandy apresentou liberação intermediária, coerente com sua viscosidade também intermediária. Já Close-up Fresh Action, a mais espessa, liberou cerca de 50%, mostrando como formulações mais rígidas acabam entregando menos fluoreto no mesmo tempo de escovação.
Os experimentos mostraram correlação entre os resultados de laboratório e os aqueles obtidos em pessoas, o que valida o teste para uso prático. Isso resolve um problema antigo: métodos anteriores não distinguiam o fluoreto total do fluoreto solúvel — sendo que só o solúvel tem efeito anticárie — nem apresentavam boa correspondência com dados clínicos.
Para o público, a mensagem é que nem toda pasta com flúor age da mesma forma, e escovar rápido demais pode reduzir o efeito anticárie, mesmo quando a pasta é de boa qualidade. Para fabricantes e reguladores, o modelo funciona como triagem para avaliar formulações que liberam fluoreto de forma adequada no tempo real de uso.
Em outra pesquisa, já aceita para publicação em revista científica, foram comparados 3 dentifrícios infantis, Colgate Zero Kids, Sorriso Kids e Tandy, a qual mostrou que a Zero precisaria ser escovada por mais tempo que as demais para ter a mesma biodisponibilidade de fluoreto na boca.
A recomendação é escovar por mais tempo para aumentar a liberação do fluoreto e preferir produtos avaliados quanto à liberação de fluoreto. Como resume o professor Jaime Aparecido Cury, orientador das pesquisas: “A mensagem é simples, mas poderosa: o benefício do fluoreto depende de sua liberação na boca — e isso depende do produto e do tempo de escovação.”
