O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, afirmou que está disposto a realizar eleições presidenciais no prazo de 90 dias se os parceiros ocidentais ajudarem a garantir a segurança do escrutínio, em resposta aos apelos do seu homólogo norte-americano, Donald Trump, para que a Ucrânia realize uma votação apesar da lei marcial em vigor.
Trump disse que considera ser um “momento importante” para a Ucrânia realizar eleições, acusando Kiev de adiar deliberadamente a votação.
“Eles (Ucrânia) estão a usar a guerra para não realizar uma eleição”, disse Trump numa entrevista ao Politico.
Zelenskyy respondeu rapidamente, dizendo: “Eu, pessoalmente, tenho a vontade e a prontidão para isso”.
De acordo com a legislação em vigor, a votação não pode realizar-se legalmente sob a lei marcial imposta devido à invasão total da Rússia há quase quatro anos.
Agora, o presidente da Ucrânia pediu aos legisladores que elaborem propostas legislativas que permitam alterar essa regra.
Enquanto os legisladores ucranianos estão a trabalhar na solução legal, Zelenskyy pediu aos parceiros ocidentais da Ucrânia, incluindo os EUA, que ajudem a garantir a segurança da votação.
“Estou a pedir agora, e a dizê-lo abertamente, que os EUA me ajudem. Juntamente com os nossos parceiros europeus, podemos garantir a segurança necessária para a realização de eleições. Se isso acontecer, a Ucrânia estará pronta para realizar eleições nos próximos 60 a 90 dias”, declarou Zelenskyy.
Os ucranianos confiam em Zelenskyy?
Em 2019, Zelenskyy obteve uma vitória esmagadora com mais de 73% dos votos na segunda volta, contra 24% do antigo presidente Petro Poroshenko.
Pouco depois, a Ucrânia realizou eleições legislativas antecipadas e o partido de Zelenskyy obteve uma maioria absoluta de lugares na Verkhovna Rada.
Cerca de 80% dos ucranianos confiavam em Zelenskyy em 2019, com uma forte participação nas eleições presidenciais e parlamentares desse ano.
Este número caiu para 37% no início de fevereiro de 2022, antes de voltar a bater o recorde de 90% quando a Rússia iniciou a sua invasão total da Ucrânia.
Quase quatro anos depois, uma sondagem realizada pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev (KIIS) no início deste outono mostrou que 60% dos ucranianos continuam a apoiar Zelenskyy.
Quem se candidataria e quem ganharia?
De acordo com uma outra sondagem da Info Sapiens, publicada na terça-feira, 20,3% dos ucranianos votariam em Zelenskyy nas próximas eleições presidenciais.
Embora isto represente uma mudança radical em relação aos 73% dos votos em 2019, Zelenskyy continua a ser o candidato mais popular e venceria as próximas eleições presidenciais, de acordo com esta sondagem.
A segunda escolha mais popular e a única pessoa que poderia aproximar-se deste nível de apoio é o antigo comandante do Estado-Maior das Forças Armadas, o general Valerii Zaluzhnyi.
Atualmente embaixador da Ucrânia no Reino Unido, o general Zaluzhnyi ganhou uma reputação de destaque quando a Rússia iniciou a sua guerra total contra a Ucrânia.
Zaluzhnyi foi responsável pelas defesas da Ucrânia, incluindo a batalha por Kiev no início de 2022 e as contra-ofensivas subsequentes até maio de 2024.
De acordo com a última sondagem da Info Sapiens, Zaluzhnyi está em segundo lugar, depois de Zelenskyy, com cerca de 19% de apoio.
Mas o general ucraniano não tenciona candidatar-se tão cedo, afirmou. No meio de rumores e especulações regulares, Zaluzhnyi declarou no início de outubro que não tenciona lançar um partido político e que não apoia a realização de eleições enquanto a guerra continuar.
“Não sou a favor da realização de eleições em tempo de guerra. Qualquer pessoa que receba uma oferta – alegadamente em meu nome – para aderir a qualquer iniciativa através de qualquer organização deve comunicá-la às autoridades policiais”, afirmou Zaluzhnyi numa publicação no Facebook.
“Não estou a criar qualquer sede ou partido político e não tenho qualquer afiliação com qualquer força política”, explicou.
A terceira pessoa na lista de potenciais candidatos presidenciais é o chefe dos serviços secretos militares ucranianos HUR Kyrylo Budanov, embora com pouco mais de 5%.
O chefe dos espiões ucranianos nunca manifestou quaisquer ambições políticas e é considerado insubstituível no seu cargo atual, dadas as operações sem precedentes do HUR na Ucrânia e no estrangeiro.
A popularidade de figuras militares como Zaluzhnyi e Budanov pode ser interpretada como um sinal da importância que os eleitores ucranianos atribuem à defesa do país e à futura estratégia militar no contexto da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Os ucranianos querem eleições?
De acordo com a Constituição da Ucrânia, as próximas eleições só serão possíveis após o fim da lei marcial e a grande maioria dos ucranianos não quer apressar a votação antes do fim da guerra.
Apenas 12% dos ucranianos acreditam que as eleições devem ter lugar durante a invasão total de Moscovo.
Um número mais elevado de ucranianos, 22%, apoia a realização de eleições após um cessar-fogo com garantias de segurança, que a Ucrânia ainda não recebeu nem lhe foi prometido.
Cerca de 63% dos ucranianos consideram que as eleições só devem ter lugar após o fim da guerra, de acordo com a última sondagem do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev.
Zelenskyy afirmou que não se recandidataria após o fim da guerra.
“Se acabarmos a guerra com os russos, estou disposto a não me recandidatar porque não é esse o meu objetivo – eleições”, afirmou em setembro.
“Queria muito, num período muito difícil, estar com o meu país, ajudar o meu país. O meu objetivo é acabar a guerra”.
