Cultura da Vida é um espaço de aprofundamento de temas relacionados à dignidade da vida humana e à missão da família como guardiã da vida com Marlon Derosa e sua esposa Ana Carolina Derosa, professores de pós-graduação em Bioética e fundadores do Instituto e Editora Pius com sede em Joinville, Santa Catarina. Marlon e Ana são casados há 8 anos, têm 3 filhos, são atuantes na Pastoral Familiar. Neste 19° encontro, Documento Una caro: a beleza e a profundidade da unidade matrimonial.
Vatican News
Olá, amigos da Rádio Vaticano! Aqui é Marlon e Ana Derosa.
Hoje, vamos refletir sobre alguns pontos da Nota Doutrinal “Una caro”, publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé e aprovada pelo Papa Leão XIV agora em novembro. Este documento toca questões essenciais na temática da cultura da vida e da família.
“Una caro (que significa “uma só carne”) é o modo como a Bíblia expressa a unidade matrimonial” [1]. O documento “Una caro” aborda de forma profunda a doutrina católica sobre a unidade matrimonial, destacando a monogamia como expressão autêntica do amor humano e como sinal da própria comunhão divina. Longe de ser um mero preceito moral, a monogamia é um caminho de plenitude, liberdade e santificação para os esposos.
O livro do Gênesis já descreve o projeto de Deus como um ideal: “Não é bom que o homem esteja só, farei para ele uma auxiliar que lhe corresponda”, ou seja, o próprio Deus vê a necessidade de dar ao homem uma companheira e, assim, retirá-lo de sua condição solitária [11]. O próprio homem, Adão, ao ver a mulher, se maravilha, exclamando: “Agora sim, é carne da minha carne e ossos dos meus ossos!” [12]. Assim, a Bíblia conclui seu relato: “o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne”. Ou seja, homem e mulher são chamados, no matrimônio, a “essa relação única, pessoal, plena e duradoura, uma aliança exclusiva de vida e de amor” [14].
O documento cita o valor da unidade matrimonial segundo os Padres da Igreja. São João Crisóstomo considera que a unidade matrimonial “liberta as pessoas de uma satisfação sexual desenfreada, sem amor nem fidelidade, e orienta adequadamente a sexualidade” [35]. Santo Agostinho sublinha a importância da procriação, mas destaca o bem da unidade que se expressa na fidelidade [36]. Assim, no matrimônio, “os próprios esposos são ministros do sacramento, e com o seu consentimento, dão origem à uma união matrimonial única e exclusiva” [39].
O documento também passa por autores medievais, como São Boaventura, que ressalta que o consentimento é consumado com a união carnal [42] e por Santo Afonso Maria de Ligório, “que apresenta a união e o mútuo dom dos esposos de modo integral” [43], até chegar em autores contemporâneos como o teólogo e filósofo personalista Dietrich von Hildebrand, que retoma a centralidade do amor e aprofunda a compreensão das propriedades e dos significados do matrimônio [45], assim como sua esposa Alice von Hildebrand, que “sustenta que a realização plena da humanidade só pode ser alcançada na união entre homem e mulher” [47].
Esta união só é plena no matrimônio, e o amor matrimonial envolve uma dimensão “sacrificial”, “que consiste em colocar o bem do outro sempre em primeiro lugar, naquilo que se pode chamar de “morte” a si mesmo, que em algumas ocasiões pode levar até a renunciar momentos de alegrias em prol de um bem maior. Assim, o amor matrimonial se torna uma clara referência ao amor de Cristo, que é total e até o fim, e “mostra sua fecundidade, ao mesmo tempo humana e espiritual, quando permanece aberto às exigências mais altas da caridade” [48].
O matrimônio foi elevado por Cristo à dignidade de sacramento, e por isso, o Catecismo da Igreja Católica diz que: “A poligamia é contrária a esta dignidade e ao amor conjugal, que é único e exclusivo”. Além disso, “o amor conjugal exige dos esposos, por sua própria natureza, uma fidelidade inviolável. Esta é a consequência do dom de si mesmos que os esposos fazem um ao outro”. Por tal motivo, “o adultério é uma injustiça. Quem o comete falha nos compromissos assumidos. Fere aquele sinal da Aliança que é o vínculo matrimonial, lesa o direito do outro cônjuge e atenta contra o instituto do matrimônio, violando o contrato que o fundamenta. Compromete o bem da geração humana e dos filhos, que necessitam da união estável dos pais” [83].
Neste episódio, com certeza estamos longe de refletir sobre tudo o que o documento nos traz, mas já podemos refletir na importância do tema para o bem das famílias e inclusive, também, da defesa da vida e da dignidade humana, já que todo ser humano tem o direito de nascer e crescer numa família, e necessita do ambiente familiar baseado em um matrimônio sólido, uma união total e exclusiva entre seus pais, e que ali possa receber todo o afeto e a instrução que, por direito, deve receber.
Este foi o Espaço Cultura da Vida. Até breve!
