Apontado pela revista internacional Nature como um dos dez cientistas mais influentes do mundo em 2025, Luciano Moreira, CEO da Wolbito do Brasil, disse ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, que “a nomeação pela Nature vai ser importante para que tenhamos credibilidade, que esse método traz evidências científicas bem sólidas e robustas”, celebrou.
Ele apontou que o reconhecimento reflete um trabalho coletivo de mais de uma década para implementar o método Wolbachia no país.
“O método envolve a bactéria Wolbachia, que é muito comum na natureza. Quando a bactéria está no mosquito, ela bloqueia a replicação, a transmissão posteriormente dos vírus”, explicou. O pesquisador contou que o projeto começou após pesquisas na Austrália e ganhou uma escala nacional com a parceria entre o World Mosquito Program (WMP) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A incorporação da Wolbachia nas diretrizes nacionais de controle de arboviroses foi aprovada pelo Ministério da Saúde em 2023 e 2024. Segundo Moreira, o Brasil já tem o método ativo em 16 municípios e vive uma fase decisiva de ampliação. “Estamos passando para uma fase de escalonamento para construir a maior biofábrica do mundo para a produção dos Wolbitos”, afirmou, referindo-se aos mosquitos inoculados com Wolbachia.
De acordo com ele, o próximo passo é expandir a presença dos “Wolbitos” para novas regiões. “Estamos muito concentrados no Sudeste, Sul e Centro-oeste, mas queremos ir para o Norte e Nordeste”, anunciou. Com as evidências científicas consolidadas, o foco agora é “atender a demanda do Ministério da Saúde e proteger mais e mais brasileiros”.
O pesquisador destacou, no entanto, que o país enfrenta limitações de capacidade diante da dimensão continental. “Na fábrica, produzimos hoje 100 milhões de ovos de Wolbitos por semana para proteger 14 milhões de habitantes a cada ano”, indicou. Por isso, a expansão segue uma lista de municípios prioritários fornecida pelo Ministério da Saúde. Em 2025, o programa deve avançar para mais 13 cidades, com expectativa de alcançar “algumas dezenas nos próximos anos”.
Participação comunitária
Cada nova liberação, pontuou Moreira, ocorre após engajamento comunitário. “Explicamos o projeto, tiramos todas as dúvidas e perguntamos para a população se ela aceita”, contou. Após a aprovação, segue-se um período de quatro a seis meses de liberação dos insetos, o que resulta na substituição gradual dos mosquitos que transmitem a dengue.
O cientista ponderou que a Wolbachia não substitui outras estratégias de prevenção. “Acreditamos que o método deve ser utilizado de forma racional e integrada com outros métodos, inclusive vacinas”, orientou. Segundo ele, a população continua tendo um papel essencial no combate ao Aedes aegypti ao reduzir criadouros e atuar coletivamente nos bairros.
Sobre a possibilidade de erradicar a dengue, ele foi cauteloso. “Erradicar é uma palavra muito forte. Eu acredito que vamos, sim, fazer diferença, reduzir incidência em grande parte do Brasil, mas isso leva tempo”, ponderou. Enquanto isso, ele defende que o reconhecimento da Nature pode fortalecer investimentos em ciência e educação no país.
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