Fernando Haddad está pronto para cumprir mais uma missão para Lula em 2026 — e, com isso, somar mais alguns pontos junto ao presidente, que não se esquece da lealdade de seu atual ministro da Fazenda no momento mais difícil de sua vida, a prisão em Curitiba. Em entrevista exclusiva a Thaís Barcellos, Sérgio Roxo e Thiago Bronzatto, do GLOBO, Haddad disse que poderá deixar a Fazenda para “colaborar” com a campanha de Lula à reeleição:
— Eu tenho a intenção de colaborar com a campanha do presidente Lula e disse isso a ele, que não pretendo ser candidato em 2026, mas quero dar uma contribuição para pensar o programa de governo dele, para pensar como estruturar a campanha dele.
Colaborar é um verbo de escopo amplo, que permite as mais diferentes atribuições numa campanha que será bastante disputada e que terá em São Paulo, domicílio eleitoral de Haddad, seu principal palco de disputa.
A análise mais precisa da apertada vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro em 2022 mostra que não foi o triunfo no Nordeste ou em Minas o fator preponderante para aquele resultado. Perder por margem menor que a projetada em São Paulo foi o que assegurou a vitória petista.
O papel desempenhado por Haddad naquele pleito — quando disputou o governo contra Tarcísio de Freitas, mesmo a contragosto, e perdeu, mas foi ao segundo turno — é creditado no PT como crucial para ter assegurado esse “colchão” de votos no maior colégio eleitoral do país, que deu a vitória a Lula quase no olho mecânico.
Por isso a “colaboração” do titular da Fazenda pode ser, de novo, ir para o sacrifício numa eleição em que as pesquisas apontam poucas chances de vitória, ao governo paulista. Se isso acontecer, será a terceira vez que o abnegado companheiro terá cumprido uma missão conferida por Lula, e isso tem peso e tende a ser reconhecido pelo presidente na hora de passar o bastão e escolher o próprio sucessor.
O PT demorou a acordar para a necessidade de montar um time para disputar em São Paulo, tanto na hipótese de Tarcísio ser candidato à Presidência quanto na de permanecer no Palácio dos Bandeirantes para tentar um novo mandato. Na primeira configuração, será preciso ter um candidato de peso, capaz de tentar “desconstruir” o governo do Republicanos e de enfraquecer sua candidatura nacionalmente. Na segunda, o objetivo passa a ser, de novo, “perder de pouco”. Isso porque ninguém nas hostes petistas tem expectativa de que o partido possa vencer no estado que, como mostram as pesquisas, avalia bem o governo Tarcísio e tem se mostrado cada vez mais conservador.
Outra disputa para a qual o campo lulista demorou a acordar de uma inacreditável letargia foi ao Senado, e aí não só em São Paulo. Enquanto o bolsonarismo já operou a migração de nomes para estados onde não havia nenhum candidato, como a mudança de Carlos Bolsonaro para Santa Catarina, a esquerda estava alheia à montagem dessas chapas. Não mais: Lula e o Palácio passaram a se dedicar ao desenho das chapas em estados fundamentais, como Minas, Rio, Bahia e Ceará, e outros ministros, além de Haddad, podem ser enviados pelo presidente a missões em suas bases.
É o caso dos petistas Rui Costa (Casa Civil) e Camilo Santana (Educação). Se, no prazo da definição das candidaturas, os atuais governadores da Bahia e do Ceará, respectivamente Jerônimo Rodrigues e Elmano de Freitas, não estiverem bem nas pesquisas, os antecessores deverão ser convocados a assumir a candidatura aos governos em seu lugar e evitar, assim, que o crescimento da direita no Nordeste, visto nas eleições para prefeituras, se repita.
Haddad sai na frente ao ler o jogo de 2026 e entender que, candidato ou não, seu papel será central para as chances de Lula. Afinal, algumas das principais bandeiras que o governo terá para mostrar vêm da sua pasta: reforma do Imposto de Renda, pleno emprego e crescimento em todos os anos do mandato, para ficar em algumas. Com currículo para exibir e lealdade atestada, não há outro nome nas fileiras petistas em condições de disputar com ele lá na frente.
