O mais clássico dos cartões-postais do estado do Rio de Janeiro está ganhando mais vida. Há quatro anos, a Águas do Rio, concessionária da Aegea, vem reformando a estrutura de saneamento em cidades do entorno desse ecossistema, recuperando tubulações já existentes e ampliando a coleta e tratamento de esgoto. Como resultado, mais de 127 milhões de litros de água contaminada deixaram de ser despejados a cada dia na Baía de Guanabara, recuperando a balneabilidade de praias e atraindo cada vez mais fauna e flora marinhas.
— Saneamento é um grande aliado da saúde pública e da melhoria da qualidade de vida. Mas, além da saúde, somos vetores do desenvolvimento socioeconômico. Um estudo do Instituto Trata Brasil mostra que, para cada Real investido em saneamento, é gerado igual valor em benefícios socioeconômicos, como aquecimento do comércio, movimentação do turismo, valorização imobiliária, melhora no aprendizado infantil e redução do absenteísmo no trabalho” – defende o diretor institucional da Águas do Rio, Sinval Andrade.
Desde o início da concessão em 2021, a Águas do Rio é responsável por serviços de água e esgotamento sanitário de 27 municípios. Essa capilaridade permitiu a empresa investir um total de R$ 5,1 bilhões em seus primeiros quatro anos de operação no estado do Rio de Janeiro direcionados para a universalização dos serviços de saneamento básico, incluindo também a implementação de um plano estratégico que combina ações para evitar o despejo do esgoto in natura na Baía de Guanabara. Até 2033, a Águas do Rio deve aportar R$ 19 bilhões de investimentos com foco na universalização, considerando 99% da população tendo acesso à água tratada e 90% à coleta e tratamento de esgoto nas áreas urbanas.
— Nós “abraçamos” a Baía com os municípios nos quais atuamos. Até 2033, vamos investir R$ 2,7 bilhões apenas em estruturas para blindá-la do despejo de esgoto, com os chamados Coletores em Tempo Seco (CTS), que direcionam o esgoto das galerias pluviais, quando não há grande volume de chuva, para o devido tratamento. Na Zona Sul da capital, direcionamos para tratamento via emissário submarino, enquanto na Zona Norte, o processo é feito em estações de tratamento de esgoto, como a ETE Alegria, no Caju, uma das maiores do Brasil – explica Andrade.
Uma dessas cidades que abraçam a Baía de Guanabara e são atendidas pela concessionária é São Gonçalo, onde foi inaugurada, em novembro, a primeira parte de um sistema de Coleta em Tempo Seco instalado no Rio Imboaçu. Este foi mais um importante reforço na proteção da Baía de Guanabara: evitando que mais 3,5 milhões de litros de água contaminada com esgoto por dia deixem de chegar ao ecossistema.
Ao todo, a obra custará R$ 120 milhões e, quando concluída, no segundo semestre de 2026, beneficiará diretamente cerca de 130 mil moradores de sete bairros. O projeto integra um conjunto maior de melhorias que a concessionária vem realizando na cidade. Recentemente, São Gonçalo recebeu uma nova rede coletora de esgoto no Mutondo, e a região da Praia das Pedrinhas também está sendo completada com novo sistema, que será entregue em breve.
Esse conjunto de intervenções reforça um movimento que se estende pela área de atuação da Águas do Rio, com o propósito de levar benefícios ambientais e sociais para diferentes regiões. Outro exemplo é a Ilha do Governador, na Zona Norte carioca, que até o fim de 2026 também verá algumas das suas praias transformadas em novos points do verão. Na região, a empresa está reformando a Estação de Tratamento de Esgoto da Ilha (Etig) e implementando coletores em tempo seco.
As obras vão deixar de legado para a Ilha cinco pontos de coleta, localizados na Praia de São Bento e nos bairros Portuguesa, Moneró e Jardim Guanabara, para reter o esgoto que hoje é lançado in natura na Baía de Guanabara. A expectativa é que mais de 4,9 milhões de litros de água contaminada deixem de ser lançados por dia naquele espelho d’água.
Mudança começa com diagnóstico do sistema
O cenário que começa a ser desenhado na Ilha, porém, é apenas um recorte de um grande esforço para recuperar a infraestrutura existente, um processo que começou com um amplo diagnóstico do sistema. Há quatro anos, estudo da Águas do Rio permitiu que a empresa identificasse estações de bombeamento de esgoto inativas por falta de manutenção. Muitas foram reestruturadas, como o Interceptor Oceânico, um túnel de nove quilômetros de extensão que vai da Glória até a Estação Elevatória do Parafuso, em Copacabana, responsável pela coleta do esgoto de toda a região e parte do centro da cidade.
— Esse túnel começa com dimensões pequenas, de 1,5 metro e 2 metros, e chega a ter 5,5 metros de diâmetro na chegada em Copacabana. Ele nunca havia sido 100% limpo. Tiramos três mil toneladas de areia e lixo de dentro dele, permitindo que passasse a absorver muito mais esgoto. E mais que isso: conseguimos desviar o Rio Carioca para ele, acabando com um grande volume de lançamento de água contaminada na Praia do Flamengo. A balneabilidade de praias antes poluídas é a resposta da natureza ao nosso trabalho – conta Andrade.
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E que resposta! De mar poluído, a Praia do Flamengo, e também a da Glória, tornou-se o Caribrejo, sucesso do verão no ano passado e que voltou de vez para a vida do carioca. As águas límpidas trouxeram de volta para aquelas faixas de areia turistas e ambulantes, além de ter revitalizado o comércio local, provocando até mesmo valorização imobiliária do bairro.
Mas a mudança não ocorreu apenas em terra. A fauna local – formada por cavalos-marinhos, tartarugas e raias, entre outros animais – está gradativamente retomando seu espaço.
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Desde 1993 registrando a vida marinha da Baía de Guanabara, o cineasta, biólogo e diretor do Instituto Mar Urbano, Ricardo Gomes, diz que a mudança já é visível.
— Um estudo realizado com tartarugas marinhas da região sugere que o número de tumores apresentados por esses animais tem diminuído, o que estaria associado à melhor qualidade das águas. Já é possível ver um maior número delas na Baía também. Aos domingos, muitas famílias se reúnem em pontos da enseada de Botafogo para vê-las – conta o biólogo.
A Ilha de Paquetá também já experimenta os benefícios da universalização do serviço de saneamento, conquistado em 2023. Por meio de um investimento de R$ 26 milhões, a rede de esgoto foi ampliada, uma nova elevatória foi concluída e interligada a uma tubulação subaquática de nove quilômetros, conectando Paquetá à Estação de Tratamento de Esgoto de São Gonçalo.
