A Grande Muralha Verde da China é considerada o maior projeto em escala já realizado para o plantio e a restauração de vegetação em terra firme no planeta.
O programa Three-North Shelter Forest Program (TSFP), iniciativa nacional da China para controlar a desertificação de áreas entre os desertos de Gobi e Taklamakan, no norte e noroeste do país, estende-se por três grandes regiões e tem como meta cobrir aproximadamente quatro milhões de quilômetros quadrados (cerca de 42,4% do território chinês) com áreas reflorestadas até 2050.
Desde 1978, segundo dados nacionais, já foram plantadas mais de 66 bilhões de árvores em faixas desérticas do país, e planeja-se plantar mais 34 bilhões nas próximas duas décadas, totalizando mais de 100 bilhões de árvores. Se alcançar essa meta, a iniciativa poderá aumentar a cobertura florestal da Terra em 10% em relação às médias da década de 1970.
O TSFP foi instituído pelo governo central da China em 1978 como parte do combate à desertificação do território chinês e do controle de grandes tempestades de areia originadas no Deserto de Gobi, na fronteira entre a China e a Mongólia, que têm se intensificado desde a década de 1960, com o aumento das faixas de temperatura e a redução da ocorrência de chuvas nas regiões de vegetação desértica.
Em abril de 2023, quatro tempestades de areia intensas colocaram a população sob risco de ingestão de partículas tóxicas (PM10) inaladas pelo ar; e, em 2021, uma tempestade de areia com aproximadamente 100 metros de altura engoliu a cidade de Dunhuang, antigo entreposto da Rota da Seda chinesa no deserto de Gobi, em uma nuvem de poeira.
Além de causarem problemas de saúde, quando se misturam à poluição intensa dos centros urbanos, essas tempestades se tornam eventos climáticos extremos e prejudicam a economia e a infraestrutura das cidades do nordeste asiático.
A Grande Muralha Verde foi instituída como parte das reformas de engenharia ecológica iniciadas pelo governo central na década de 1970, sendo gerida por agências estatais ligadas à administração ambiental que hoje integram a National Forestry and Grassland Administration, além de ministérios e governos provinciais.
O programa de reflorestamento foi concebido em fases, com a primeira delas ocorrendo entre 1978 e 2000 e as seguintes se estendendo a longo prazo, até 2050. As metas de plantio, restauração de pastagens e construção de grandes faixas de proteção contra tempestades de areia foram dimensionadas para formar, ao final do cronograma, uma vasta muralha de proteção baseada em práticas de manejo florestal, eficiência hídrica e programas de conversão do uso do solo.
As principais províncias envolvidas no plano, que abrange uma área da ordem de mais de quatro milhões de quilômetros quadrados, são Xinjiang, Gansu e Ningxia, o noroeste de Qinghai, o oeste da Mongólia Interior e o norte de Shaanxi, regiões caracterizadas por clima extremamente árido, solos arenosos e formações de dunas móveis.
No norte do país, destacam-se a Mongólia Interior, Hebei, Shanxi, Beijing e Tianjin, zonas de terras agrícolas produtivas e áreas urbanas que abastecem grandes cidades. No nordeste da China, Heilongjiang, Jilin, Liaoning e o leste da Mongólia Interior, com terrenos mais frios a temperados, combinam o problema das tempestades de areia com processos de erosão e degradação de pastagens.
O grande muro verde tem, de acordo com estimativas do governo, cerca de 4.500 quilômetros de comprimento em cada fase e contribui para reduzir consideravelmente a perda de solo fértil por erosão e invasão de areia.
Ao longo dos últimos anos, um cinturão de árvores com cerca de 3.000 quilômetros foi concluído ao redor do deserto de Taklamakan, considerado um dos principais marcos físicos do projeto, e as áreas desertificadas passaram de cerca de 1% para até 5% de cobertura vegetal em zonas como Xinjiang, composta por desertos e cadeias montanhosas.
As espécies escolhidas para o plantio são relativamente restritas, mas sua seleção baseia-se na capacidade de tolerar solos pobres e condições áridas, como os choupos (Populus spp.), conhecidos por crescerem e se propagarem rapidamente; os salgueiros (Salix spp.); a caragana (Caragana korshinskii), um arbusto resistente à seca, adequado para solos arenosos por sua capacidade de fixação; e a Sophora alopecuroides, utilizada na estabilização da vegetação.
Uma das dificuldades enfrentadas pela muralha, entretanto, é o risco associado à baixa biodiversidade das espécies plantadas, menos eficaz do que a vegetação nativa, além da suscetibilidade de algumas dessas espécies a doenças e patógenos específicos, como o besouro Anoplophora, que dizimou cerca de um bilhão de choupos na região autônoma de Ningxia no início dos anos 2000, após aproximadamente duas décadas de plantio.
De maneira geral, desde 1978, programas chineses de reflorestamento foram responsáveis pelo plantio de mais de 78 bilhões de árvores, segundo estimativas oficiais.
Apenas em 2024, o país plantou cerca de 7,67 milhões de hectares de floresta sob programas de reflorestamento; e, de acordo com relatórios oficiais do mesmo ano, o governo chinês somou 2,67 milhões de hectares de árvores e gramíneas plantadas em um período de 12 meses.
Apesar disso, muitos trechos do programa dependem de irrigação artificial e de cuidados intensivos devido à escassez natural de água no norte da China, o que pode reduzir a taxa de sobrevivência das espécies quando não há intervenção humana constante.
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