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Eletrolisadores dos EUA querem competir com chineses no Brasil

by admin

RIO — A fabricante norte-americana Electric Hydrogen desembarca no Brasil querendo disputar espaço com os eletrolisadores chineses que hoje dominam projetos de hidrogênio verde em diferentes partes do mundo. 

A aposta da companhia passa por tecnologia própria, custos mais baixos e um foco inicial em projetos de menor escala, a partir de 100 megawatts (MW).

São empreendimentos voltados ao mercado doméstico brasileiro, especialmente nos segmentos de fertilizantes verdes e de combustíveis sustentáveis de aviação (e-SAF).

“Hoje é o único eletrolisador não chinês capaz de competir e superar os fabricantes chineses em termos de custo total instalado”, afirma Gabriela da Rocha Oliveira, gerente-geral da Electric Hydrogen para a América Latina, em entrevista à agência eixos.

“Estimamos uma redução de quase 30% do custo total instalado quando comparado a um sistema chinês implantado fora da China”, completa.

Segundo Oliveira, o principal diferencial é a tecnologia HYPRPlant, uma planta industrial completa de eletrólise baseada em tecnologia PEM (membrana de troca de prótons). A solução é modular, com unidades de 100 MW pré-fabricadas.

“A nossa proposta é ter uma pré-engenharia desenhada para ser fabricada, para os componentes serem pré-fabricados, pré-montados e levados ao site do cliente pronto para montar”, explica. 

A executiva conta que a lógica foi herdada da indústria de energias renováveis, onde a redução de custos veio não apenas do equipamento, mas também da simplificação da engenharia e da construção.

Foco no mercado doméstico

Diferentemente de muitos projetos de hidrogênio verde voltados à exportação, a Electric Hydrogen aposta que o crescimento inicial do setor no Brasil virá da demanda interna

“Acreditamos muito que esses projetos ancorados em demanda doméstica, de uma escala menor, de cerca de 200 MW, que é perfeito até para a nossa solução, que começa em 100 MW”, diz Oliveira.

Entre as principais oportunidades, a executiva destaca a produção de fertilizantes a partir de hidrogênio verde. 

“O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimento do mundo, mas importa mais de 95% dos fertilizantes usados para o consumo desse importante negócio”. 

Para ela, a combinação entre matriz elétrica limpa, mercado consumidor interno, dependência externa de fertilizantes, e um gás natural pouco competitivo, cria uma oportunidade única.

Antes de assumir o comando da Electric Hydrogen na América Latina, a executiva esteve à frente do projeto da Atlas Agro, que pretende produzir fertilizantes nitrogenados a partir de hidrogênio verde em Uberaba (MG).

Além dos fertilizantes, a empresa também mira o mercado de combustíveis sintéticos. 

“Tem outra oportunidade muito concreta que são os combustíveis sintéticos, não só do e-metanol, mas o e-metano também”, disse Gabriela, citando o potencial do uso de hidrogênio verde associado ao CO2 biogênico — de resíduos agrícolas e urbanos — para produção desses combustíveis.

Projetos no Texas 

Nos Estados Unidos, a Electric Hydrogen foi escolhida pela HIF Global para um projeto no Texas que deverá produzir cerca de 1,4 milhão de toneladas por ano de e-metanol, combustível que pode ser utilizado no transporte marítimo ou convertido posteriormente em e-SAF e e-gasolina. 

A HIF também desenvolve um projeto similar em escala comercial no Brasil, no Porto do Açu (RJ).

Ainda no Texas, a Infinium está utilizando o módulo HYPRPlant, com 100 MW de capacidade de eletrólise para um projeto de combustível sustentável de aviação. 

“Quando inaugurado, esse vai ser o maior projeto de e-SAF do mundo”, afirma Oliveira.

As pilhas eletroquímicas — o coração do sistema — são produzidas na gigafábrica da empresa em Devens, Massachusetts, e outros componentes são fabricados no Texas.

No caso brasileiro, a executiva não descarta que parte dos equipamentos e componentes das plantas seja nacionalizado. 

“Parte do trabalho que vamos ter aqui é tentar desenvolver esse ecossistema local para tropicalizar alguns dos produtos que fazem parte do HYPRPlant”, reforça.

“O coração do eletrolisador é feito na nossa fábrica em Devens e, provavelmente, será importado no curto e médio prazo, mas todo o resto, dependendo do mercado, temos fabricantes locais”.

Produtor de hidrogênio como consumidor especial de energia

Para a executiva, o produtor de hidrogênio verde precisa ser tratado como um consumidor especial, com mecanismos que evitem que encargos setoriais inviabilizem projetos que podem descarbonizar setores inteiros da economia.

“De uma certa forma, o produtor do hidrogênio verde vai ser um consumidor especial porque ele vai precisar ainda ter aqueles benefícios, seja de desconto no fio ou de autoprodução, para não encarecer o custo da energia com encargo setorial. Isso é muito importante para viabilizar essa indústria”.

Hoje, o consumidor especial é aquele que migra para o mercado livre de energia, e se limita a comprar apenas de fontes renováveis e incentivadas, com solar e eólica, tendo desconto de até 100% na TUSD. 

Oliveira reforça que a viabilidade do hidrogênio verde depende do custo da energia elétrica. Segundo ela, embora o Brasil tenha um dos menores custos de geração do mundo, encargos e impostos podem encarecer o preço final para o consumidor industrial.

“Temos que ter essa visão como um dos pilares de política pública. Manter o custo final do uso da energia elétrica para o consumidor que vai produzir esse hidrogênio verde”, defende.



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