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A bolsa brasileira caminha para fechar 2025 com alta superior a 30% no ano, sustentada pela expectativa de cortes de juros no Brasil e nos Estados Unidos, desaceleração da inflação e forte fluxo de investimento de estrangeiros. Mas esse bom momento deve se manter em 2026? Análise técnica feita pelos analistas do Itaú BBA indica que o índice segue em tendência de alta, com projeções que apontam para níveis entre 165 mil e 180 mil pontos. Ou seja, uma valorização de cerca de 11% dos níveis atuais.
Depois de o BC ter mantido a Selic em 15% em sua última reunião do ano, na semana passada, economistas ouvidos pelo Boletim Focus passaram a ver a taxa de juros em 12,13% ao final de 2026. Historicamente, os ciclos de cortes de juros no Brasil tendem a ser positivos para a bolsa.
Isso ocorre, principalmente, porque queda nas taxas quando as condições de inflação se mostram adequadas tendem a fazer com que haja redução no custo do dinheiro para as empresas – tanto o de terceiros quanto o custo de capital próprio, explica o estrategista Mathias Venosa.
“Com custo mais baixo, o valor das ações tende a subir. Além disso, a propensão dos investidores a tomar mais risco nos seus portfólios também tende a aumentar, considerando que a rentabilidade de ativos de renda fixa fica menos interessante ante a das ações. Isso tende a valorizar a bolsa”.
A perspectiva de que recursos estrangeiros devem continuar a ser atraídos para a B3 no ano que vem também está no cenário, impulsionado por percepções sobre o impacto da política comercial norte-americana na economia do país. “É provável que, se continuarmos vendo tentativas dos EUA de implementar tarifas de importação elevadas, os investidores continuem a redirecionar os seus recursos para fora do país”.
Setores que devem ganhar tração
Neste cenário, novas oportunidades podem surgir, sobretudo no segmento de small caps (empresas com baixa capitalização de mercado). Além disso, historicamente, ciclos de redução da taxa Selic tendem a beneficiar setores como o financeiro, de energia elétrica, saneamento e construção civil.
Na máxima de julho de 2021 dos mercados, o Ibovespa estava em 131 mil pontos e o índice small caps em 3.200 pontos. Atualmente, o Ibovespa está em torno de 158 mil pontos, o que representa uma valorização de 20%, enquanto o índice small caps negocia em torno de 2.300 pontos e apresenta uma desvalorização de aproximadamente 30%. Ou seja, as ações de small caps estão baratas, diz o analista gráfico do banco, Fábio Perina. “Não vimos essa discrepância de tamanho antes de iniciar um novo ciclo de corte de juros em ciclos anteriores, o que favorece o segmento”.
Na visão dos analistas do Itaú BBA, os bancos devem continuar a apresentar balanços sólidos, marcados por crescimento robusto das carteiras de crédito e inadimplência controlada. Já as empresas de energia elétrica e saneamento possuem boas perspectivas de crescimento – em especial nos subsegmentos de distribuição de energia e saneamento. Por fim, as construtoras – em especial as com maior exposição a projetos voltados para habitação popular – estão passando por uma conjuntura favorável, sustentada por condições favoráveis de financiamento no programa Minha Casa Minha Vida, que impulsionam a demanda pelas unidades das companhias e as permitem acelerar seus planos de crescimento e, consequentemente, expandir seus lucros.
Riscos
Apesar do cenário positivo, os analistas destacam os riscos que podem influenciar o desempenho do Ibovespa no próximo ano.
No exterior há uma preocupação com a estimativa de valor justo das empresas de tecnologia e inteligência artificial, o que pode gerar correções nos principais índices globais. Contudo, o efeito de uma eventual queda na avaliação de grandes empresas de tecnologia na bolsa brasileira é incerta. “Uma correção poderia reduzir o apetite global por ativos de risco e enfraquecer a perspectiva de crescimento do PIB mundial, afetando países emergentes; por outro, pode estimular a realocação de recursos para outras geografias, podendo fortalecer o fluxo para o Brasil”, aponta Venosa.
No Brasil, políticas fiscais expansionistas podem limitar o ciclo de cortes de juros em 2026, pressionando o custo de capital e, consequentemente, os preços das ações. Embora essas medidas impulsionem a atividade econômica e o emprego no curto prazo, podem gerar pressões sobre a inflação. Caso isso ocorra, juros mais altos poderiam aumentar o custo de capital das empresas, pressionando os preços das ações.
Investir agora ou esperar?
Diante dessas expectativas, os analistas incentivam que os investidores se atenham à sua alocação recomendada. Ou seja, quem tem perfil arrojado deve manter alguma exposição a ações.
É possível que, com a alta acumulada do Ibovespa neste ano, a alocação de muitos investidores em ações esteja sobredimensionada. Para esses casos, os analistas do Itaú BBA apontam que talvez faça sentido reduzi-la para ficar mais próximo do portfólio ideal. Já investidores cujas carteiras estão subalocadas em ações devem aumentar a exposição a essa classe de ativos para chegar à alocação de referência.
