Quem são as crianças que deram conselhos e fizeram o príncipe William jogar bola no Maracanã

• Príncipe William no Rio: Cacique Cobra Coral está na cidade para garantir tempo firme
• Herdeiro do trono britânico faz selfies com público no Pão de Açúcar, primeira agenda no Rio; ‘cena de cinema’, diz visitante

O encontro fez parte do “Gols pela Terra”, iniciativa do programa Terra Futebol Clube, que une esporte, inclusão e sustentabilidade. A ação reuniu crianças e adolescentes de três projetos sociais: o Karanba, de Vista Alegre (Zona Norte do Rio); a Onda Solidária, de Santana do Deserto (MG); além de Vilas Olímpicas de diversos bairros do Rio.

Durante o evento, as crianças participaram de atividades socioambientais, conversaram com o príncipe e ainda disputaram uma partida amistosa no gramado do Maracanã. William, que se mostrou à vontade com os jovens, marcou um gol de pênalti e posou para fotos com o grupo.

— O príncipe se mostrou muito interessado em ouvir o que os jovens tinham a dizer. Ele se sentou, perguntou, quis saber o que cada grupo discutia sobre meio ambiente e sobre como o esporte transforma vidas, contou Carolina Senna, educadora da Onda Solidária. — Foi um dia que eles nunca vão esquecer. A gente brinca que, quando ele virar rei, queremos que ele volte ao Brasil para reencontrar essas crianças — já adultas — e ver o quanto cresceram.

Além do futebol, o encontro também teve momentos de conversa sobre sustentabilidade, mudanças climáticas e preservação. O príncipe William ouviu as crianças e jovens e disse que pretende levar para outros países o modelo de integração entre esporte e educação ambiental.

Entre os convidados, estava Miguel Vicente, de 14 anos, vindo de Itaperuna, no Noroeste Fluminense, e reconhecido por seu talento no cavaquinho. Miguel não hesitou em usar sua voz para ir além das dificuldades. Ele destacou a necessidade fundamental de que as crianças e adolescentes sejam ouvidos nas grandes decisões que moldarão o futuro do planeta.

Para ilustrar essa causa, Miguel compartilhou um trecho da música que compôs, um verdadeiro hino da juventude ambiental, que ecoa como um chamado à ação:

“O verde é nossa bandeira, a luta é verdadeira, cuida da terra, é resistência, é fé, amor e consciência… O futuro é agora, é real, juventude ambiental… “, cantou.

No diálogo com o príncipe, a jovem Gabrielly Alves, 15 anos, moradora da Nova Holanda, no Complexo da Maré, demonstrou mais do que preocupações ambientais: ela entregou um conselho direto e incisivo sobre o protagonismo das comunidades. A essência do recado foi que as populações mais vulneráveis não são apenas vítimas da crise climática, mas detentoras de soluções e de “potência” para a mudança, e, por isso, precisam ter sua participação reconhecida e garantida na agenda global.

— Me sinto muito honrada porque nós favelados também somos responsáveis pelas mudanças climáticas porque quem mais sofre o impacto disso somos nós que moramos em comunidade. Poder estar ao lado de um príncipe e falar para ele o que está acontecendo, o que nos impacta e que a gente tem solução, é muito importante — afirmou a jovem.

A oportunidade de encontrar o Príncipe veio de sua atuação no Instituto Cria Tijolinho e da participação em uma mini-COP, que a conectou a grandes nomes e à iniciativa do evento.

Ela fez questão de ressaltar que a favela não é apenas um lugar de adversidades, mas de “potência” e talentos dispostos a mudar o mundo e o clima. A mensagem que leva de volta para a sua comunidade após o encontro com o príncipe é de pura esperança e empoderamento:

— Sonhar não é impossível. Não imaginava que estaria aqui conversando cara a cara com o príncipe. Ela provou que, com persistência e talento, é possível provocar a mudança: — Não importa a sua origem – seja favelado, rico ou de qualquer lugar –, a mudança é possível se houver o desejo de fazer a diferença no ativismo climático.

Complementando essa visão, a delegação da Mini-COP, coordenada pelo Instituto Alana, exigiu que as crianças, por serem as mais impactadas, fossem consideradas e tivessem suas formas de expressão reconhecidas, consolidando a mensagem de que o futuro do planeta depende de dar voz e poder de decisão a quem mais precisa e a quem está ativamente lutando por ele.

A jovem Nina Nisti, 16 anos, de São Paulo, destacou o sentimento de esperança gerado pela atitude do Príncipe:

— É muito legal ver uma figura tão grande se importar tanto por essas coisas… me dá muita esperança. Eu acho que ele ficou muito feliz de ver a gente, a gente ficou muito grata… mas eu acho que muito mais dele estar aprendendo com a gente também, né, aprendendo com os jovens.

Nina ressaltou que o interesse dele foi o que mais a marcou. Segundo ela, o Príncipe falou muito menos do que o esperado, optando por ouvir a perspectiva dos jovens que carregarão a responsabilidade ambiental no futuro. Ele se mostrou muito curioso, perguntando se outros jovens no Brasil compartilhavam a mesma visão e questionando sobre a história, motivações e desafios do grupo.

—Acho que foi o interesse… ele perguntou muito mais, ele tava lá para ouvir a gente.

A visita marcou uma das etapas da viagem do príncipe ao Brasil, dedicada a conhecer iniciativas ambientais e de impacto social. A segurança no entorno do estádio foi reforçada, e o Tour Maracanã ficou temporariamente fechado para o público. Mesmo assim, turistas que haviam comprado ingressos acompanharam a movimentação do lado de fora, curiosos com a presença do herdeiro do trono britânico.

O Terra Futebol Clube é uma parceria entre organizações sociais e a Fundação Earthshot, criada por William para apoiar soluções inovadoras em defesa do planeta. O projeto promove encontros que usam o futebol como ferramenta para inspirar jovens a se tornarem agentes de transformação.

No fim da tarde, entre abraços e sorrisos, o campo mais famoso do país se transformou num símbolo de esperança. Para os pequenos, o gol mais importante não foi o que entrou na rede, mas o de ter sido ouvido — por um príncipe, e pelo mundo.

A presença de 23 crianças e adolescentes no evento foi articulada pelo Instituto Alana, de São Paulo, organização que há 30 anos defende os direitos da infância. Cacau Leite, Gerente de Educação do Instituto, explicou o ineditismo da ação: o Alana, parceiro do evento, criou uma mini-COP (Conferência das Partes) para garantir a participação ativa da juventude.