O padre Júlio Lancellotti, pároco da população em situação de rua de São Paulo, confirmou nesta terça-feira (16) que a Arquidiocese de São Paulo, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, determinou a suspensão da transmissão da missa dominical do padre pelo Youtube, a TVT e o ICL Notícias. Padre Júlio, no entanto, negou que haja determinação de transferência dele para outra paróquia.
“Conforme informado no último domingo (14), as transmissões estão temporariamente suspensas, porém as missas dominicais continuam sendo celebradas normalmente às 10h, na Capela da Universidade São Judas – Mooca. As redes sociais não estão sendo movimentadas por um período de recolhimento temporário. Não procede a informação sobre a transferência da Paróquia São Miguel Arcanjo. Reafirmo minha pertença e obediência à Arquidiocese de São Paulo”, diz a nota do Padre Júlio.
Nas redes, o padre Júlio Lancellotti recebeu apoio após a divulgação da informação sobre a determinação da arquidiocese.
“Toda solidariedade ao padre Júlio Lancellotti diante da decisão da Arquidiocese de São Paulo de restringir suas transmissões de missas e presença nas redes. Sua atuação pastoral sempre foi pública, transparente e comprometida com os mais pobres. Que o diálogo e o amor prevaleçam”, escreveu o deputado federal pastor Henrique Vieira (Psol-RJ).
A deputada federal Jandira Feghali destacou o exemplo do pároco, que dedica a vida à população em situação de rua. “Padre Júlio é um grande exemplo de solidariedade e amor ao próximo; por seus valores, porém, é constantemente atacado e difamado pela extrema direita. Espero que o padre volte logo às redes e não seja afastado das ruas”, escreveu.
O ex-deputado federal e presidente do PT José Genoino, afirmou que não se pode aceitar esse tipo de determinação contra o Padre Júlio Lancellotti. “O silêncio imposto ao padre Júlio Lancellotti é algo inaceitável. Esse cancelamento merece dos democratas e socialistas uma posição muito firme de solidariedade”, afirmou, em participação no Giro das Onze, do site Brasil 247.
O teólogo e escritor Leonardo Boff conclamou apoio ao padre Júlio Lancellotti, sobretudo em defesa da população de rua. “Temos que reagir positivamente, sem acusações, em favor dos cristos sofredores de rua.
Que o Pater Pauperum (expressão em latim que significa pai dos pobres), o Espirito Santo, ilumine o Cardeal para ser fiel ao evangelho de Jesus”, disse.
“É lamentável que o Padre Júlio Lancellotti, referência no cuidado com a população em situação de rua e os mais pobres de SP, tenha sido impedido de transmitir missas, afastado das redes e possa até ser retirado de sua paróquia. Suas ações sempre foram de fé e amor ao próximo”, ressaltou a deputada federal Erika Kokay (PT-DF).
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o padre Júlio confirmou que o pedido partiu de Dom Odilo. “Dom Odilo me pediu para dar um tempo. Ele acha que é uma forma de recolhimento e de proteção”, disse o pároco. A última missa foi transmitida no domingo (14), quando o padre Júlio comunicou o fim das transmissões. As redes sociais dele não recebem novas publicações há cinco dias.
Padre Júlio não confirmou a informação de possa ser afastado ou aposentado. Pelas regras da igreja, padres que completam 75 anos podem ser removidos das localidades em que atuam para se aposentar. Lancelotti vai completar 77 anos no dia 27 de dezembro.
O pároco da população em situação de rua atua há mais de quatro décadas na Paróquia São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, zona leste da capital paulista. Nos últimos anos, o padre Júlio foi alvo de uma violenta campanha da extrema direita e do Movimento Brasil Livre (MBL) contra suas ações em defesa da população em situação de rua.
Em 2024, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) protocolou na Câmara Municipal de São Paulo o pedido de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o padre Júlio Lancellotti por supostos crimes contra a população em situação de rua da capital paulista. O comissão, no entanto, acabou não avançando após intensa mobilização em defesa do pároco.
A Arquidiocese de São Paulo não se manifestou sobre as medidas sobre o padre Júlio Lancellotti.
