Oona Chaplin, de “Game of Thrones”, vive a vilã de “Avatar: Fogo e Cinzas”. Foto: Divulgação
Receba as notícias mais importantes no seu e-mail
Assine agora. É grátis.
James Cameron nos leva de volta a Pandora em Avatar: Fogo e Cinzas, terceira parte da orgia, digo, franquia de efeitos visuais iniciada em 2009. Como vimos nos filmes anteriores, Jake Sully (Sam Worthington) tornou-se um híbrido Na’vi, casou-se com Neytiri (Zoe Saldana), constituiu família e luta para proteger seu mundo adotivo da escória do universo: nós. Ou, mais precisamente, um complexo industrial-militar humano que quer explorar os recursos naturais de Pandora. Mas dessa vez os caras com 46 cromossomos não são os únicos vilões. Entra em cena o Povo das Cinzas, uma tribo Na’vi agressiva, cuja líder Varang (Oona Chaplin) não está nem aí para o “equilíbrio” de seu mundo. Como toda franquia calcada em efeitos visuais (ou pancadaria, ou acrobacias de carros, ou sustos etc.), acaba virando uma escalada. Cada filme tem que arrancar mais “ooooooh” da plateia para esta não perceber como o roteiro é raso.
Já Nouvelle Vague, de Richard Linklater, vai para o extremo oposto e celebra o cinema feito com roteiro atuação e direção. Trata-se de uma versão um tiquinho ficcional das filmagens do clássico Acossado, obra-prima dirigido por Jean-Luc Godard (1930-2022) em 1960. O franco-suíço Godard era redator da revista Cahiers du Cinéma e, junto a colegas igualmente talentosos, fez-se cineasta e lançou o movimento que dá nome a este filme (literalmente, Nova Onda), transformando a maneira como filmes eram concebidos e feitos. Filmado em preto e branco, como Acossado, Nouvelle Vague nos provoca assombro ainda ao mostrar Aubry Dullin literalmente encarnando Jean Paul Belmondo, padroeiro dos galãs-feios.
Produzido na Suécia por motivos óbvios, Águias da República, do sueco filho de egípcio Tarik Saleh, também aborda o cinema, mas sob um ângulo mais sombrio: o profundo controle que a ditadura militar egípcia exerce sobre a produção no país e como a usa para sustentar o regime. Feres Fares vive o célebre ator George El-Nabawi, coagido pelos militares, as “águias” do título, a estrelar produções ufanistas. Se trabalhar para um governo que não apoia não fosse complicado o bastante, ele se torna amante da jovem esposa do ministro da Defesa, praticamente um convite à morte. O suspense é o candidato sueco ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira.
Naura Schneider estrela e dirige — dividindo esta função com Fred Mayrink — a comédia Meus 4 Maridos. Ela é Joana, uma jornalista divorciada que, ao fazer 50 anos, percebe que passou a metade deles casada, somando os períodos de quatro casamentos. Para celebrar as Bodas de Prata cumulativas, ela chama os quatro para um jantar, fazendo cada um achar que seria o único convidado. Um comparece com a atual esposa, outro com o atual marido, outro com a visível intenção de tentar algo com a ex. O resultado, além do constrangimento, é lavação de roupa suja acumulada e muito riso.
Recomeço também é o tema do uruguaio Milonga, de Laura González. Paulina García é Rosa, uma mulher que passou décadas presa a um relacionamento abusivo com um marido violento. A relação tóxica a fez se fechar para o mundo, inclusive para o próprio filho. Até que o marido morre (não pelas mãos dela, embora bem que merecesse) e Rosa precisa saber o que fazer com a inesperada liberdade, que vai exigir também o revolver de velhas feridas. Nesta hora, uma grande paixão vai ser a chave para seu desabrochar. Não estamos falando de Juan (César Troncoso), um homem que vai se aproximar dela, mas do tango.
Mas antes do recomeço é necessário o fim. E aí que entra Volveréis, de Jonás Trueba. O longa franco-espanhol começa com a cineasta Ale (Itsaso Arana, corroteirista do filme) e o ator Alex (Vito Sanz) decidindo encerrar o casamento de 15 anos. Sem brigas, sem dramas, apenas não querem mais estar casados. A partir de uma frase irônica do pai dela, os dois planejam uma festa de descasamento, para surpresa e reprovação de parentes e amigos. Como se não bastasse, Ale decide transformar toda a preparação em um filme. Até que uma convidada inesperada aparece, a dúvida.
Meio de forma espontânea, meio por imposição da indústria, a cultura sertaneja se instalou em todo o país. Um de seus ícones, o locutor de rodeios Wandemar Rui dos Santos, o Asa Branca (1962-2020), é tema do documentário com atores Asa Branca – A Voz da Arena, de Guga Sander. O longa acompanha a vida de Wandemar (Felipe Simas) desde a juventude, quando tentou a vida como peão até um acidente tirá-lo dos touros e colocá-lo nos microfones, onde se tornou ídolo. Mesmo a fase sombria, como a dependência em álcool e drogas e a infecção pelo HIV, é retratada.
Outro documentário, Lumière – A Aventura Continua!, de Thierry Frémaux, continuação de Lumière – A Aventura Começa, de 2016, é pura metalinguagem. O cinema celebrando o cinema. A premissa é a mesma: cem filmes curtos dos irmãos Auguste (1862-1954) e Louis (1864-1948) Lumière, literalmente os inventores do cinema. Cada filmete é acompanhado de comentários. Obrigatório para quem ama a Sétima Arte.
Confira a programação completa nos cinemas da sua cidade. (AdoroCinema)
