Acessibilidade
Observar diariamente como milhões de brasileiros constroem suas trajetórias profissionais no LinkedIn é acompanhar, em tempo real, a economia do país se movendo. E, quanto mais vejo esse movimento, mais me convenço de que entender o mercado de trabalho brasileiro exige ir além da lógica corporativa, porque o Brasil nunca coube dentro de um único modelo de carreira.
O trabalhador brasileiro é plural por natureza. Atua em diferentes frentes, combina fontes de renda formais e informais, transita entre projetos próprios e empregos tradicionais. E essa pluralidade não é exceção, é a regra. Ela revela uma inteligência prática, adaptativa e profundamente empreendedora, que há muito tempo antecede qualquer discussão sobre o futuro do trabalho. No Brasil, uma trajetória raramente é linear. Elas nascem em contextos diversos, e crescem justamente porque estão enraizadas na vida real. Profissionais que aprendem fazendo, que constroem reputação por meio de comunidades, que entendem as nuances do cliente porque vivem dentro de seus contextos.
Há uma potência aqui que o discurso corporativo tradicional costuma ignorar: a expertise que nasce do cotidiano. Foi com esse olhar que lançamos recentemente no LinkedIn uma nova campanha para aproximar diferentes setores da plataforma, com o objetivo de torná-la um espaço representativo para todos os tipos de profissionais. A primeira fase foi focada na área da beleza: uma indústria altamente empreendedora e de enorme relevância econômica, mas, acima disso, um setor que mostra, de forma quase pedagógica, como técnica, criatividade, conexão humana e empreendedorismo coexistem em um mesmo ofício.
E são essas trajetórias que sustentam uma parte essencial da economia brasileira. O mercado de beleza no Brasil movimenta cerca de R$ 130 bilhões e é responsável por 43% de todo o consumo de beleza na América Latina, segundo pesquisa da L’Oréal em parceria com a Provokers. Ao olhar ainda mais de perto para o setor da beleza, fica claro o quanto ele exige domínio técnico – entender formulações, testar combinações, avaliar materiais -, mas também revela um espaço onde habilidades comportamentais surgem quase como uma extensão natural do trabalho: comunicar-se bem, acolher, adaptar-se, solucionar problemas. É claro que isso varia de pessoa para pessoa, mas esse encontro entre técnica e sensibilidade evidencia um tipo de talento cada vez mais requisitado pelo mercado: o de quem equilibra conhecimento especializado com competências humanas, fundamental para qualquer tipo de ambiente de trabalho, seja corporativo ou não.
O que também diferencia esses profissionais no Brasil é a forma como trazem propósito para suas carreiras. Segundo a L’Oréal, 87% dos cabeleireiros(as) brasileiros(as), por exemplo, desejam seguir na profissão movidos pelo prazer de transformar vidas e pela autonomia. E mesmo sem uma exigência formal de qualificação, 74% buscaram capacitação antes de atuar. Há, portanto, uma busca genuína de entregar o melhor e se aperfeiçoar constantemente – não como obrigação institucional, mas como parte do compromisso em entregar um serviço de qualidade. Não é à toa que os profissionais de beleza brasileiros são reconhecidos mundialmente. Quem mora fora do país frequentemente relata o quanto é difícil encontrar a mesma precisão, cuidado e sensibilidade que estão tão presentes no trabalho feito aqui.
E esse reconhecimento de valor também começa a se refletir no LinkedIn. Hoje, mais de 260 mil profissionais da área da beleza têm perfil na plataforma. Muitos utilizam esse espaço para compartilhar seu trabalho, encontrar clientes, aprender algo novo e fazer conexões. É bonito observar esse movimento: à medida que se enxergam como protagonistas de suas trajetórias, esses profissionais passam a ocupar com segurança e pertencimento um ambiente que, por muito tempo, parecia reservado apenas ao universo corporativo, mostrando que há espaço para todos os tipos de talento na nossa rede.
Mas a beleza é apenas um recorte. O mesmo se vê na economia criativa, nos serviços, no esporte, no varejo, na saúde, na gastronomia, na construção civil e nas profissões que, hoje, ainda chamamos de “alternativas”, mas que movem boa parte da renda das famílias brasileiras. São trabalhos que surgem do encontro entre vocação e oportunidade, e que, justamente por isso, carregam valores que o mundo corporativo ainda tenta aprender: presença, resiliência, adaptabilidade, leitura social e autonomia.
Quando falamos sobre o futuro do trabalho, é comum pensarmos em tecnologia, automação e inteligência artificial. Tudo isso já está em curso, mas, observando o Brasil, me parece que o futuro do
trabalho talvez seja menos sobre ferramentas e mais sobre reconhecer trajetórias que já existem (e que sempre existiram) como parte legítima e central da economia. Ao ampliarmos o conceito de carreira, ampliamos também o de sucesso. E, ao reconhecer essa pluralidade, percebemos que o sucesso não está restrito às paredes de um escritório.
*Milton Beck, Diretor Geral do LinkedIn para América Latina e África
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