Em um momento simbólico para o cooperativismo brasileiro, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) inicia um novo capítulo de sua história com a eleição de Tania Zanella para a presidência executiva da entidade. Primeira mulher a ocupar o cargo, a dirigente assume a função em um cenário de grandes transformações, marcado por desafios regulatórios, avanços em governança e maior protagonismo do modelo cooperativista nas agendas nacionais e globais.
Em entrevista exclusiva à MundoCoop, Zanella fala sobre o significado desse marco, as prioridades de sua gestão e os caminhos para fortalecer a representatividade, a inovação e a sustentabilidade das cooperativas. Zanella ainda destaca temas como governança dual, defesa do ato cooperativo, formação de lideranças e o protagonismo recente do cooperativismo brasileiro no cenário internacional.
Confira!
Você acaba de ser eleita presidenta executiva da OCB, sendo a primeira mulher a ocupar esse cargo na história da entidade. O que esse marco representa para você e para o cooperativismo brasileiro?
Ser a primeira mulher na presidência executiva da OCB é, para mim, um marco de responsabilidade e de esperança. Responsabilidade porque a OCB representa um movimento que transforma vidas todos os dias, em todos os estados do Brasil. E esperança porque esse passo sinaliza, de forma concreta, que o cooperativismo é coerente com o que prega: inclusão, participação, oportunidade e construção coletiva.
Esse momento não é sobre uma conquista individual — é sobre ampliar referências, abrir caminhos e mostrar que talento, preparo e compromisso com o interesse comum devem ser os critérios centrais para ocupar espaços de liderança. Para o cooperativismo brasileiro, é a confirmação de que estamos evoluindo também por dentro, fortalecendo a governança, modernizando a gestão e refletindo, cada vez mais, a diversidade do país.
Como a sua gestão pretende fortalecer a representatividade e a voz das cooperativas no cenário nacional? Quais serão as prioridades da nova gestão?
Fortalecer a representatividade passa, antes de tudo, por escuta qualificada e alinhamento estratégico. Precisamos garantir que as demandas das cooperativas estejam preparadas, sustentadas por dados e traduzidas em uma atuação institucional clara e consistente. As prioridades da gestão estão centradas no fortalecimento do Sistema OCB, na defesa permanente do ato cooperativo, na ampliação do diálogo com os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e na valorização da marca cooperativista perante a sociedade. Tudo isso com foco em gerar segurança jurídica, competitividade e ambiente favorável ao crescimento das cooperativas.
Ao iniciar essa nova fase na presidência executiva da OCB, quais novos enfoques ou iniciativas você espera trazer para complementar e dar continuidade ao trabalho que já vem sendo desenvolvido pela organização?
O trabalho realizado até aqui construiu bases muito sólidas, e a intenção é dar continuidade a essa trajetória, que tem acumulado sucesso e conquistas importantes. Entre os pontos principais está aprofundar a integração entre estratégia, execução e comunicação, para que as ações da OCB cheguem com mais clareza e impacto às cooperativas e à sociedade. Outro ponto é reforçar a agenda de educação, inovação e desenvolvimento de lideranças, com atenção especial à participação de mulheres e jovens. Também queremos ampliar a atuação do Sistema OCB em temas estruturantes, como sustentabilidade, financiamento, transformação digital e inserção das cooperativas nas grandes agendas nacionais e globais.
A recente reforma estatutária da OCB adotou um modelo de governança dual, separando funções estratégicas do Conselho de Administração das responsabilidades executivas. Na prática, o que deve mudar? Como essa nova configuração irá impulsionar o fortalecimento das cooperativas brasileiras?
Na prática, o modelo de governança dual traz mais clareza, profissionalização e eficiência. O Conselho de Administração passa a ter um papel ainda mais estratégico, voltado à definição de diretrizes, enquanto a Presidência Executiva concentra-se na gestão, na implementação das decisões e na condução da agenda institucional. Essa separação fortalece os processos, dá mais agilidade às decisões e amplia a capacidade de resposta aos desafios do setor. É uma mudança alinhada às melhores práticas de governança e que prepara a organização para um novo ciclo de crescimento e complexidade do cooperativismo brasileiro.
A OCB tem atuado fortemente na defesa do ato cooperativo e em pautas regulatórias relevantes para o setor. Quais serão os esforços prioritários no campo da representação institucional e no diálogo com o governo e o Congresso Nacional?
A defesa do ato cooperativo seguirá como prioridade absoluta. Isso envolve atuação técnica e política permanente, diálogo contínuo com o Congresso Nacional, ministérios, agências reguladoras e demais órgãos de governo. Vamos intensificar o trabalho de antecipação de riscos regulatórios, qualificar ainda mais nossa presença nos debates legislativos e fortalecer alianças institucionais. O objetivo é garantir segurança jurídica, reconhecimento do modelo cooperativo e políticas públicas que valorizem o papel das cooperativas no desenvolvimento econômico e social do país.
2025 contou com a celebração do Ano Internacional das Cooperativas e também o protagonismo das cooperativas na COP30. Como você avalia os avanços do cooperativismo brasileiro nesse período? Qual o legado que 2025 deixa para o setor?
2025 foi um ano emblemático. O Ano Internacional das Cooperativas deu visibilidade global a um modelo que já entrega resultados concretos, e a participação na COP30 reforçou que o cooperativismo é parte da solução para os grandes desafios climáticos e sociais. O legado desse período é duplo: para fora, mostramos ao mundo a força de um modelo econômico baseado em pessoas, território e sustentabilidade; para dentro, consolidamos uma agenda estratégica que integra desenvolvimento econômico, inclusão social e responsabilidade ambiental. Esse legado projeta o cooperativismo brasileiro para um novo patamar de protagonismo, influência e relevância nos próximos anos.
Por Leonardo César – Redação MundoCoop
