A cúpula do Mercosul realizada neste sábado (20), em Foz do Iguaçu (PR), marcou o anúncio da criação de uma comissão permanente para combater o crime organizado transnacional no bloco. A iniciativa foi apresentada pelo chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e reúne esforços dos países-membros diante do avanço das facções criminosas, do tráfico internacional e da lavagem de dinheiro na América do Sul.
Segundo Vieira, a nova comissão será formada por representantes dos ministérios da Justiça e da Segurança Pública, do Interior, integrantes do Ministério Público, forças policiais e especialistas em lavagem de dinheiro e recuperação de ativos. O objetivo é articular ações conjuntas de inteligência, investigação e repressão.
“Estamos convencidos que daremos um salto qualitativo em nossa segurança pública, que se fará sentido no dia a dia dos nossos cidadãos”, afirmou o chanceler durante a reunião.
De acordo com o ministro, a comissão integra a estratégia mais ampla do Mercosul para enfrentar o crime organizado transnacional, fenômeno que ganhou escala continental nos últimos anos. “Esse plano norteará o trabalho das autoridades competentes na prevenção, investigação e repressão do crime organizado transnacional, com base em ações de inteligência e nas sinergias existentes entre os nossos países”, disse Vieira.

O anúncio ocorre em um contexto de maior atenção à segurança pública no governo Lula, diante do domínio territorial exercido por organizações criminosas e da sofisticação de suas operações financeiras.
Também pesa no cenário regional a tensão envolvendo os Estados Unidos, que vêm pressionando a Venezuela sob o argumento do combate ao narcotráfico, tema sensível para os países sul-americanos.
A cúpula em Foz do Iguaçu encerra a presidência temporária do Mercosul pelo Brasil. Havia expectativa de que o encontro consolidasse o acordo comercial com a União Europeia, mas a resistência de países como Itália e França adiou a assinatura, que pode ficar para janeiro.
Participam da reunião, além de Lula, os presidentes da Argentina, Javier Milei, do Paraguai, Santiago Peña, e do Uruguai, Yamandú Orsi. A Bolívia é representada pelo chanceler, e o Panamá, país associado ao bloco, participa com o presidente José Raúl Mulino.
Durante o encontro, Lula também fez um duro discurso sobre a conjuntura internacional. O presidente afirmou que a América do Sul voltou a ser “assombrada” pela presença militar de uma potência extrarregional, em referência direta aos Estados Unidos, que sinalizam com a possibilidade de intervenção militar na Venezuela.
“Passadas mais de quatro décadas desde a Guerra das Malvinas, o continente sul-americano volta a ser assombrado pela presença militar de uma potência extrarregional. Os limites do direito internacional estão sendo testados. Uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para o mundo”, declarou.
Lula também contrapôs a lógica de integração do Mercosul ao endurecimento das políticas migratórias do governo estadunidense. Sem citar diretamente Donald Trump, afirmou que enquanto alguns países “sobem muros”, a América do Sul deve construir pontes.
“Nós estamos dando exemplo de que construir ponte para passar mercadoria e para o povo dos países transitarem livremente é um exemplo de que a liberdade de ir e vir tem que ser assegurada e as fronteiras não pode ser proibitivas. Meus amigos e minhas amigas, construir uma América do Sul próspera e pacífica é a única doutrina que nos convém”, disse.
O recado de Lula a Trump e ao mundo.
Mais pontes, menos muros pic.twitter.com/Cz7gxrZj5G
— Abel Ferreira Comunista! (@AugustodeS62143) December 20, 2025
