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Assange diz que prêmio da Paz virou ‘instrumento de guerra’ e processa Nobel

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O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, apresentou na terça-feira (17) uma denúncia penal contra a Fundação Nobel, acusando 30 membros da entidade, incluindo sua presidenta e sua diretora executiva, de envolvimento em crimes graves sob a legislação sueca. A ação contesta a decisão do Comitê Norueguês do Nobel da Paz de premiar, neste ano, a política venezuelana de extrema direita María Corina Machado.

Assange solicita o congelamento imediato da quantia de 11 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1,18 milhão) prevista para ser repassada a Machado, e argumenta que a concessão do prêmio desvirtua completamente os princípios expressos no testamento de Alfred Nobel, que determinava que o prêmio fosse destinado a quem atuasse pela fraternidade entre as nações e pela redução dos exércitos permanentes.

Na denúncia entregue à Autoridade de Delitos Econômicos e à Unidade de Crimes de Guerra da Suécia, Assange sustenta que a escolha de María Corina “converteu um instrumento de paz em um instrumento de guerra”. A peça jurídica menciona possíveis crimes como apropriação indevida de fundos, facilitação de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, além de financiamento do crime de agressão.

O documento lista declarações públicas recentes da venezuelana, como o apoio explícito à estratégia militar dos Estados Unidos no Caribe, sua defesa da intervenção militar no país sul-americano e o alinhamento com a ofensiva de Donald Trump, presidente dos EUA reeleito em 2024. “A dotação de Alfred Nobel para a paz não pode ser usada para a promoção da guerra”, afirmou Assange no processo.

Além de contestar a escolha de María Corina, o fundador do WikiLeaks questiona por que a Fundação Nobel não exerceu o mesmo controle que teve em 2018, quando suspendeu o repasse do prêmio de Literatura. Assange observa que os gestores têm a obrigação legal de garantir o cumprimento do testamento de Alfred Nobel, e que qualquer desembolso contrário à sua finalidade pode constituir crime.

Entre guerra e petróleo: Nobel aprofunda crise internacional

A denúncia acontece em um contexto de forte escalada militar dos EUA na região caribenha. Apenas dois dias após a cerimônia do Nobel da Paz, em 10 de dezembro, Trump anunciou que os ataques militares à Venezuela “começariam por terra”. O envio de mais de 15 mil soldados, entre eles o porta-aviões USS Gerald R. Ford, é considerado por analistas como o maior deslocamento militar dos EUA no Caribe desde a Crise dos Mísseis, em 1962.

María Corina, que se encontra exilada desde julho de 2024 após tentativas de golpe contra a reeleição de Nicolás Maduro, saudou a mobilização. Em entrevista à emissora CBS, declarou apoio irrestrito à estratégia de Trump e disse que aspira à presidência da Venezuela após uma possível intervenção estrangeira.

Assange

A trajetória de Assange também é diretamente atravessada por conflitos como os que agora envolvem a Venezuela. Perseguido por mais de uma década por revelar crimes de guerra cometidos pelos EUA no Afeganistão e no Iraque, ele ficou sete anos asilado na embaixada do Equador, em Londres, e passou cinco anos preso em regime de segurança máxima no Reino Unido. Libertado em junho de 2024, após um acordo judicial com os EUA, hoje vive na Austrália, seu país natal.

A denúncia penal de Assange contra a Fundação Nobel solicita, entre outras medidas, que o dinheiro seja congelado, a medalha devolvida, os membros da fundação investigados e que o caso possa ser eventualmente remetido à Corte Penal Internacional. Para o ativista, o prêmio de 2025 marca uma inflexão perigosa: “María Corina Machado pode ter inclinado a balança a favor da guerra, facilitada pelos suspeitos nomeados”.

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