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A vida de luxo do empresário acusado de desviar da saúde

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O empresário Humberto Silva e a esposa, Maíne Baccin, em frente à Torre Eiffel, em Paris. Foto: Reprodução

Viagens ao exterior, apartamentos à beira-mar e carros de luxo bancaram a rotina de ostentação do empresário Humberto Silva, preso no fim de novembro sob acusação de liderar um esquema de desvio de recursos da saúde pública. Segundo a Polícia Federal, o dinheiro público retirado de hospitais e postos de saúde financiou uma vida marcada pelo luxo enquanto unidades médicas enfrentavam falta de medicamentos e equipamentos básicos.

As informações foram detalhadas em reportagem exibida pelo Fantástico neste domingo (21), que revelou como o esquema funcionava a partir do uso de uma organização social sem fins lucrativos responsável pela gestão de hospitais.

De acordo com a Polícia Federal, Humberto Silva e outros empresários usaram o Instituto Riograndense de Desenvolvimento Social Integrado (Irdesi) para desviar verbas destinadas ao atendimento médico. Entre 2022 e 2025, o instituto recebeu cerca de R$ 340 milhões em recursos públicos, sendo a maior parte proveniente da Prefeitura de Embu das Artes, com verba federal.

As investigações apontam que pelo menos R$ 25 milhões foram desviados para despesas pessoais e para manter um padrão de vida incompatível com a finalidade da organização.

Apartamento à beira-mar, viagens e luxo

Segundo a polícia, parte do dinheiro foi usada para pagar o aluguel de um apartamento de frente para o mar em Balneário Camboriú, além de viagens internacionais e compras de artigos de luxo. Um dos episódios citados é o casamento de Humberto em Paris, com pedido feito aos pés da Torre Eiffel.

A atual esposa do empresário, Maíne Baccin, recebia salário mensal de R$ 23 mil sem exercer qualquer função. A ex-esposa, Tássia Nunes, também teria se beneficiado do esquema, com despesas de aluguel pagas pelo instituto.

A PF identificou ainda empresas de fachada que emitiam notas fiscais falsas para justificar serviços que nunca foram prestados. Apenas com duas dessas empresas, o prejuízo estimado chega a pelo menos R$ 8 milhões, segundo os investigadores.

Áudios revelam ostentação sem receio

Gravações interceptadas pela Polícia Federal reforçam, segundo a investigação, a ausência de preocupação de Humberto com uma possível responsabilização.

Em um dos áudios, ele reclama dos custos do casamento e menciona a compra de uma bolsa de luxo. “Daí me diz: ‘tu tem que trabalhar menos’. Mas como, se tu vai lá e compra uma bolsa de 30 mil?”, diz.

Em outra conversa, ele compara seus gastos com os do ex-companheiro da esposa. “O ex dela não dava nem um chinelo. Eu já dei dois carros zero e duas viagens. E uma viagem equivale a dois carros zero.”

Há também ironias sobre despesas com acessórios. “Só de óculos ela [a esposa] me gastou 20 conto, só de óculos. Eu não sei em quantas cabeças ela vai colocar esses óculos. Acho que tá levando pra vender.”

Para o delegado Anderson de Andrade Lima, o material mostra que o empresário agia como se o dinheiro fosse privado. “A impressão que dá, à medida que a gente analisava as provas, é de que ele realmente não tinha nenhum temor de que fosse alcançado pela Justiça, de que poderia gastar, de que o dinheiro era privado e que ele administrava da forma que quisesse, inclusive com bens particulares”, afirmou.

Falta de atendimento em hospitais

Enquanto os recursos eram usados para ostentação, hospitais administrados pelo Irdesi enfrentavam problemas graves. Em Jaguari, no Rio Grande do Sul, um idoso morreu após não conseguir nebulização por falta de um equipamento simples, que custa cerca de R$ 70.

Em Embu das Artes, moradores relataram escassez de medicamentos e falhas no atendimento. “É absurdo, porque está faltando na base, no atendimento, no remédio, nos cuidados de saúde”, resumiu um morador do município.

Bloqueio de bens

Até o momento, a Justiça determinou o bloqueio de 14 imóveis, 53 veículos, uma lancha e contas bancárias de 20 investigados. O prejuízo estimado pelo esquema é de R$ 25 milhões.

Em nota, a defesa de Tássia Nunes afirmou que ninguém pode ser considerado culpado antes do devido processo legal e que a antecipação de juízos condenatórios viola a presunção de inocência. A defesa de Maíne Baccin informou que “está realizando análise detalhada de todos os documentos e informações constantes do inquérito”.

Também por nota, a Prefeitura de Embu das Artes declarou que, se confirmadas as condutas apontadas na investigação, a responsabilidade é integralmente da organização social contratada. Sobre a falta de medicamentos, afirmou que a obrigação é da entidade gestora.



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