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O verão de 2026, iniciado oficialmente neste último domingo (21), já traz um sinal de alerta tanto para o agro como para o abastecimento de água das cidades e a produção de energia elétrica, que depende do volume das represas.
Segundo o prognóstico elaborado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o primeiro trimestre de 2026 será regido pela neutralidade do ENOS (El Niño-Oscilação Sul). Sem a dominância de El Niño ou La Niña, o clima no Brasil será ditado por sistemas regionais, resultando em uma distribuição de chuvas que favorece algumas regiões, mas penaliza o coração produtivo do Sudeste.
Para o agronegócio, essa configuração é um “divisor de águas”. No Sul do Brasil, a previsão de chuvas acima da média histórica deve sustentar o desenvolvimento das culturas de verão.
Contudo, o excesso de umidade associado a temperaturas elevadas, que podem ficar 1°C acima da média no oeste gaúcho, aumenta a pressão fitossanitária, elevando o risco de doenças causadas por fungos em culturas como o trigo e a soja.
Sudeste e Nordeste: alerta de estresse hídrico
O ponto mais crítico do relatório reside na Região Sudeste e em grande parte do Nordeste. Em Minas Gerais, especificamente na Região Metropolitana de Belo Horizonte e na Zona da Mata, os volumes de chuva podem ficar até 100 mm abaixo da média.
A combinação de menos chuva e calor intenso deve elevar as taxas de evapotranspiração, reduzindo rapidamente a água disponível no solo.
Lavouras de soja e milho de primeira safra que estiverem em fases críticas de desenvolvimento podem sofrer quebras de produtividade por estresse hídrico.
A menor incidência de chuvas no Sudeste impõe um limite à recomposição dos reservatórios das hidrelétricas, o que pode impactar o preço da energia para o setor industrial e o custo de irrigação no campo.
Centro-Oeste e Norte: cenário de manutenção hídrica
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Nuvens de chuva em área de produção de milho
No Centro-Oeste, o Mato Grosso surge como o destaque positivo, com previsão de chuvas dentro ou acima da média, especialmente no setor norte e oeste.
Essa condição é vital para a sustentação das fases de florescimento da soja. Já em Goiás, o cenário é oposto, com tendência de volumes abaixo da média climatológica.
Na Região Norte, o prognóstico é de abundância hídrica em quase toda a extensão, favorecendo a umidade do solo e o desenvolvimento de culturas perenes. A exceção fica para o Tocantins e o sudeste do Pará, onde os volumes tendem a ser mais escassos, exigindo atenção redobrada ao manejo de pastagens.
Energia elétrica e abastecimento de água
A previsão de chuvas acima da média histórica no Sul do país e dentro ou acima da média no Centro-Oeste tende a favorecer o abastecimento de água e a energia a partir de hidrelétricas. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) espera que haja recomposição gradual dos reservatórios durante esse período. Contudo, o monitoramento constante será necessário.
Isso porque as projeções da quantidade de água que deve chegar a rios e reservatórios de dezembro de 2025 a maio de 2026 estão abaixo da média de longo prazo no cenário otimista (95%) e no pessimista (68%). Como consequência, na ocorrência de vazões (quantidade de água que passa por um ponto de um rio, canal ou estrutura hidráulica em determinado intervalo de tempo) menores do que a esperada, os reservatórios intermediários da bacia do rio Paraná merecem atenção.
Se o cenário otimista da ONS se confirmar, a energia armazenada no Sudeste e Centro-Oeste chegaria, ao final de maio de 2026, com um valor de 16,3 ponto percentual acima do registrado no mesmo período do ano de 2025. Já na hipótese menos favorável, será 29,3 ponto porcentual abaixo do valor verificado em maio de 2025.
As mesmas projeções para o conjunto de instalações de geração e transmissão de energia elétrica do Brasil indicam, para o final de maio de 2026, que o abastecimento do país fique 15 ponto percentual acima do mesmo período de 2025, na condição otimista; e no cenário menos favorável, 17,9 ponto percentual abaixo daquela verificado no mesmo mês em 2025.
A previsão para a energia elétrica em 2026 é de abastecimento garantido, mas com um sistema mais caro, pressionado pelo crescimento dos subsídios, principalmente à geração solar, e com impactos diferentes nas tarifas conforme a região do país. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel),
No Sul, Sudeste e Centro-Oeste haverá queda média de 0,81% na tarifa de baixa tensão, enquanto no Norte e Nordeste haverá alta média de 0,71%.
Monitoramento é a palavra de ordem
A neutralidade climática de 2026 significa que não haverá um padrão global “travado”, mas sim mudanças rápidas e locais. Para investidores de commodities e energia, a volatilidade será a norma.
O planejamento agrícola deverá ser acompanhado de atualizações meteorológicas constantes, pois a ausência de grandes fenômenos aumenta a incerteza sobre a atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), o principal motor de chuvas do nosso verão.
