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195 anos após sua morte, jovens venezuelanos discutem heranças e contradições de Simón Bolívar

by admin

195 anos após sua morte, Simón Bolívar ainda é uma figura onipresente na Venezuela. Seja em homenagens concretas, como a estátua que domina a praça que leva seu nome no centro da capital, seja como uma espécie de bússola política do chavismo.

Bolívar esteve presente, por exemplo, em um discurso recente do presidente Nicolás Maduro. Durante uma marcha realizada em Caracas no dia 11 de dezembro, o mandatário se dirigiu ao povo da Colômbia e evocou o projeto de integração defendido pelo libertador. 

“Minha saudação, das ruas de Caracas, ao povo da Colômbia. E lhes digo: mais cedo ou mais tarde, teremos que refundar a Grande Colômbia. Povo da Colômbia, irmãos e irmãs, filhos do mesmo pai, da mesma espada, filhos da mesma bandeira, amarela, azul e vermelha”, disse Maduro.

Desde que Hugo Chávez foi eleito, em 1999, o pensamento bolivariano passou a ocupar um lugar central na política nacional. Não por acaso, já no primeiro ano de seu governo, o país foi rebatizado como República Bolivariana da Venezuela.

Mas a consagração de Bolívar como herói nacional é anterior ao chavismo. Em 1986, por exemplo, o então presidente Jaime Lusinchi, da Ação Democrática, aprovou uma lei que determinava que as escolas dedicassem ao menos uma disciplina ao estudo da vida e da obra de Bolívar. Por isso, até hoje, os jovens venezuelanos concluem o ensino médio profundamente familiarizados com sua história.

A estudante Amy Bracovich, que acaba de se formar no ensino médio, afirma que Bolívar é um símbolo central da cultura venezuelana. “Ele é um ícone da nossa cultura, nosso libertador. Temos vários espaços culturais em sua homenagem, porque deixou um legado importante”, diz. 

Para ela, a importância de Bolívar ultrapassa as fronteiras nacionais. “Além de ser um ícone na Venezuela, também o vejo como um ícone para toda a América Latina, porque graças a ele, aqui estamos nós.”

Nas universidades, a figura do homem que liderou a luta contra a dominação colonial espanhola na América é alvo de debates mais aprofundados. O estudante Victor Lugo, por exemplo, questiona até que ponto as ideias de libertação defendidas por Bolívar encontravam respaldo entre as populações americanas.

“Há muitos segredos que precisam ser resgatados para que se possa criticar a figura de Simón Bolívar”, afirma. “Se de um lado era um visionário, que queria libertar a toda uma nação, não se sabe se a nação queria ser libertada, entende?”

Já Sofia Sanchez, estudante de comunicação, avalia que Bolívar plantou a semente da democracia no continente. “Eu o vejo como um pioneiro em relação aos valores que ele queria transmitir sobre a liberdade e, sim, ele plantou a semente da democracia”, diz. Ao mesmo tempo, ela entende que, em determinados momentos, Bolívar atuou de forma autoritária.

Para Juan Gonzalez, estudante de química, Bolívar é um herói histórico. Ele afirma que muitas das críticas ao libertador desconsideram o contexto das guerras de independência. 

“Simón Bolívar é retratado em vários livros, fora da nossa América, como um sanguinário e como um herói traidor”, afirma. Gonzalez reconhece que a história aponta que Francisco de Miranda teria sido traído por Bolívar, mas considera que o libertador fez o que foi preciso para conduzir os processos de independência. 

“Dizem que Simón Bolívar foi muito sanguinário com seus inimigos, mas a verdade é que foi uma batalha muito difícil para conquistar a independência em todos os países. E isso foi algo necessário.”

Simón Bolívar morreu de tuberculose no dia 17 de dezembro de 1830, em Santa Marta, na então Gran Colômbia. Menos de um ano depois, a união que reunia os atuais territórios da Venezuela, Colômbia, Equador e Panamá se desfez, encerrando o projeto de integração. Ainda que não tenha conseguido consolidar essa utopia, os ideais de Bolívar permanecem vivos e em disputa na sociedade venezuelana, servindo como um dos principais pilares ideológicos do chavismo.

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