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A Inteligência Artificial Que Está Redefinindo o Grindr

by admin

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Tristan Pineiro, SVP de Marketing e Comunicação do Grindr, enfatiza: “Queremos ser uma empresa AI-first”

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A trajetória recente do Grindr acompanha a transformação do aplicativo de encontros em uma plataforma central da cultura queer global. Atualmente presente em 190 países e com mais de 15 milhões de usuários mensais, o app tem reforçado sua atuação na América Latina, região que, hoje, concentra cerca de 25% de sua base global e figura entre as comunidades mais ativas e de crescimento acelerado. Nesse cenário, a empresa tem ampliado o foco em produto, segurança, linguagem e iniciativas culturais locais.

À frente desse movimento estratégico está Tristan Pineiro, SVP de Marketing e Comunicação do Grindr. Há dois anos e meio na companhia, o executivo lidera o reposicionamento da marca e o fortalecimento da narrativa institucional após quase duas décadas de crescimento orgânico. Entre as frentes mais recentes, destacam-se a participação na Parada do Orgulho do Rio e as inovações tecnológicas do aplicativo — com especial ênfase no gAI, tecnologia proprietária de inteligência artificial contextual que impulsiona experiências como A-List, Wingman e recursos voltados para viagens, descoberta e conexões mais compatíveis.

Em paralelo a esse avanço tecnológico, a empresa mantém investimentos contínuos em segurança, privacidade e proteção do usuário, priorizando moderação, criptografia e educação dentro da plataforma. Outro pilar central dessa estratégia é o Grindr for Equality (G4E), programa de impacto social que atua na América Latina por meio da distribuição de autotestes de HIV e de parcerias voltadas à promoção da saúde, da segurança e dos direitos LGBTQIA+.

Entrevista com Tristan Pineiro, SVP de Marketing e Comunicação do Gindr

Forbes Brasil — O Grindr lançou sua própria inteligência artificial. Como essa inovação está transformando a experiência do usuário?

Tristan Pineiro — Está transformando bastante. Durante muito tempo, o app permaneceu praticamente o mesmo. Embora o Grindr tenha sido criado para homens se encontrarem para relacionamentos ou sexo, ficou muito claro para nós que somos o principal espaço digital da comunidade em escala global. As pessoas usam o Grindr […] também para encontrar comunidade, informações locais, conteúdos sobre saúde sexual, segurança, amizade — tudo o que você encontraria em um bairro gay. Em grande parte do mundo, esses espaços físicos simplesmente não existem. O Grindr se tornou uma espécie de “gayborhood” digital, uma camada que ajuda as pessoas a se descobrirem quando não é seguro ou fácil fazer isso no trabalho, na rua ou em espaços públicos. Onde quer que você esteja, sempre haverá pessoas gays — e o Grindr é essa lente que permite encontrá-las. Por sermos baseados em localização, os perfis aparecem por proximidade, mas isso nem sempre é o mais útil.
A IA agora ajuda a encontrar as pessoas certas com base em interesses, intenções e comportamentos. Criamos ferramentas como o
A-List, que resume conversas passadas, destaca afinidades, lembra conexões antigas e sugere quando retomar o contato. Também temos a funcionalidade Wingman, que ajuda a iniciar conversas e sugere temas. Além disso, usamos IA de forma intensa para segurança, privacidade e proteção da comunidade. Pessoas mal-intencionadas estão ficando mais sofisticadas usando IA, então precisamos estar à frente. Segurança e privacidade são prioridades absolutas, especialmente porque muitos usuários não são assumidos por motivos culturais, religiosos ou familiares. Todo uso de IA é feito com cuidado: dados criptografados, consentimento do usuário e total transparência.

FB — De que outras formas a IA ajuda os usuários a se conectarem?

Tristan Pineiro — A IA oferece insights para facilitar conexões. Ao visualizar um perfil, é possível saber se vocês têm boa chance de combinar, se compartilham interesses, qual o melhor horário para enviar mensagem e que tipo de conversa a outra pessoa gosta. O objetivo é reduzir barreiras e tornar as conexões mais fáceis e significativas.

FB — Qual é a visão de longo prazo para o uso de IA no Grindr?

Tristan Pineiro — Queremos ser uma empresa AI-first. Em breve, a IA estará tão integrada que nem pensaremos nela separadamente. Ela estará presente no desenvolvimento do produto, na programação, na análise de dados, na criação de conexões melhores e no combate a spam e bots cada vez mais sofisticados. Criamos nossa própria IA, chamada gAI, feita especificamente para nossa comunidade. Isso inclui linguagem adequada, como traduções que não soem apenas como português, mas como português brasileiro gay, respeitando expressões e cultura locais. A IA também ajuda na descoberta de pessoas com interesses semelhantes, mesmo fora da proximidade imediata, e no incentivo a relacionamentos mais duradouros — algo muito valorizado pela Geração Z.

FB — Como vocês equilibram inovação tecnológica com a necessidade de manter a plataforma segura e acolhedora?

Tristan Pineiro — Segurança e acolhimento são nossas maiores prioridades. Nosso produto são as pessoas da comunidade, então protegê-las é essencial. Trabalhamos com ONGs locais, oferecemos orientações de segurança no app e disponibilizamos chamadas de vídeo internas para que as pessoas possam se conhecer sem compartilhar dados pessoais. Todos os dados são criptografados e nunca compartilhados com anunciantes. Isso significa que os anúncios podem ser menos relevantes, mas aceitamos esse custo para preservar a privacidade. O Gindr também não exige fotos de perfil, porque para muitos usuários o anonimato é uma questão de segurança. Estamos sempre revendo esse equilíbrio e ouvindo organizações de direitos humanos e LGBTQIA+. Também usamos nossa plataforma para que essas organizações compartilhem informações importantes sobre saúde sexual, segurança, direitos legais e comportamento.

FB — O Grindr for Equality distribui autotestes de HIV e promove parcerias em saúde e direitos LGBTQIA+. Qual tem sido o impacto dessas ações na América Latina?

Tristan Pineiro — A América Latina é extremamente importante para nós. Cerca de um quarto dos nossos usuários está na região, e o Brasil é o maior mercado. O Grindr for Equality é nossa iniciativa de impacto social e parte central da nossa missão. Somos uma empresa de capital aberto, financeiramente bem-sucedida, com crescimento consistente e menos de 200 funcionários, mas acreditamos que sucesso também significa servir à comunidade. Nossa missão é ajudar a criar um mundo livre, igualitário e justo. Isso inclui igualdade perante a lei, acesso à saúde, direitos de casamento e parentalidade, e a descriminalização da homossexualidade. Atuamos em cerca de 60 países onde ser gay ainda é ilegal ou extremamente difícil. Na América Latina, trabalhamos com ONGs oferecendo apoio financeiro, mas principalmente acesso direto aos usuários. Isso inclui a distribuição de autotestes de HIV, especialmente em áreas rurais, e divulgação de informações essenciais de saúde e segurança. Com o crescimento do Grindr como empresa de tecnologia global, nossa voz ganhou força. Hoje conseguimos dialogar com legisladores e representar melhor a comunidade.

FB — Qual é a visão da empresa para o futuro da cultura queer, tanto no digital quanto no presencial, especialmente em regiões de rápido crescimento como a América Latina?

Tristan Pineiro — Muitas pessoas usam o Grindr apenas para saber que não estão sozinhas. Mas, no fim, queremos que as pessoas se encontrem, criem redes, comunidades e força coletiva. Um dos maiores casos de uso do Grindr é viagem. Ao viajar pelo Brasil ou pelo mundo, os usuários usam o app para descobrir onde é seguro ir, onde evitar, onde conhecer pessoas e quais lugares são LGBTQIA+ friendly. Estamos transformando isso em recursos mais estruturados no produto. Nos EUA, também exploramos integrações com saúde, algo que pode ser expandido globalmente. Estivemos recentemente na Parada do Orgulho do Rio, com foco em segurança e comunidade. Embora 99,999% das conexões no Grindr sejam positivas, problemas podem acontecer — e queremos ser transparentes e ajudar a evitá-los.


Quero reforçar que a América Latina — especialmente o Brasil — é estratégica para nós. No passado, talvez não tenhamos dado a atenção necessária, mas isso mudou. Estamos investindo mais no Brasil, criando campanhas locais, trabalhando com a agência Sherlock e ampliando nossa atuação em assuntos públicos. Mesmo sendo uma empresa de 17 anos, há um novo fôlego para entender melhor a comunidade, falar com ela e ajudá-la de forma concreta. — Finaliza Tristan. 



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