No Maranhão, os números contam uma história que incomoda e, ao mesmo tempo, provoca esperança. O estado fecha o ciclo 2024-2025 com sinais claros de melhora na economia e no emprego, porém segue preso a uma dependência pesada de transferência de renda.
O retrato mais duro veio em 2024. Um levantamento publicado pelo Poder360 mostrou que, no Maranhão, havia 659 mil empregos com carteira assinada (no setor privado, sem contar o setor público) para 1,2 milhão de famílias recebendo Bolsa Família. Na prática, eram quase duas famílias no programa para cada trabalhador formal.
E aí entra 2025, que bagunça a narrativa simples. Em novembro, uma nota no site do gov.br, via Secom, registrou que o Bolsa Família alcançou 18,65 milhões de famílias no país, com valor médio de R$ 683,28 e investimento de R$ 12,69 bilhões no mês.
O Maranhão ainda está no topo do Bolsa, mas 2025 apresentou resultado positivo
Na divisão por estados divulgada pelo governo federal, o Maranhão aparece entre os que têm mais de 1 milhão de famílias atendidas: 1,15 milhão em novembro de 2025. E mais: o estado também entra no grupo onde o valor médio supera R$ 700, com R$ 705,36, ao lado de unidades da região Norte.
Comparando com o quadro apresentado pelo Poder360 em 2024, isso sugere uma leve queda no total de famílias atendidas no Maranhão, de 1,2 milhão para 1,15 milhão, conforme as fontes e os recortes temporais disponíveis. Só que a pergunta que vale ouro é outra: essa redução veio porque a renda subiu, porque o emprego formal cresceu, ou porque o pente-fino ficou mais apertado?
A própria reportagem do Poder360 lembra que indicadores recentes mostravam aumento das carteiras assinadas em relação ao número de beneficiários, com a proporção nacional caindo para 44% do emprego formal em agosto de 2024, influenciada também por revisão cadastral.

Fonte: gov.br
O PIB do Maranhão acelerou e o estado passou a crescer acima do índice nacional
Se 2024 deixou o Maranhão com cara de “dependência”, 2025 trouxe uma virada estatística na economia. O IMESC, no boletim “PIB Trimestral do Maranhão”, informou que a prévia do PIB estadual acumulou 3,7% de crescimento no 1º semestre de 2025. No 2º trimestre, o avanço chegou a 5,2%, acima do Nordeste (2,6%) e do Brasil (2,5%), com destaque para agropecuária e, principalmente, indústria.
O mesmo material aponta a agropecuária com alta de 6,7% no semestre, impulsionada por grãos, e uma indústria que virou “motor” no período, com crescimento bem acima das médias regional e nacional.
Esses dados importam por um motivo simples: quando a economia cresce de forma consistente e espalha atividade por setores, ela tende a abrir mais portas para renda fora do benefício. Só que isso não acontece automaticamente, porque o Maranhão ainda enfrenta um obstáculo clássico: formalizar.
Desemprego em mínima, informalidade nas alturas
No mercado de trabalho, 2025 também trouxe um marco. Uma notícia do Portal do Governo do Maranhão, com base na PNAD Contínua Trimestral do IBGE, afirmou que a taxa de desocupação no estado caiu para 6,6% no 2º trimestre de 2025, o menor nível desde o início da série histórica.
Só que o mesmo “clima bom” do desemprego não apaga um dado que muda a conversa: carteira assinada ainda é raridade para muita gente. Em textos que repercutem os números do IBGE, o Maranhão aparece com 53,1% de empregados do setor privado com carteira assinada, além de informalidade em 56,2% e trabalho por conta própria em 31,8%.
E tem mais um termômetro silencioso, que costuma ser ignorado quando a manchete é só “desemprego caiu”: o desalento. No mesmo recorte, o Maranhão surge com um dos maiores percentuais de pessoas desalentadas do país, o que indica gente que desistiu de procurar trabalho.
Ou seja, 2025 melhora o cenário, mas não resolve a estrutura. O Maranhão pode até respirar melhor, porém ainda corre com uma mochila pesada.

Fonte: poder360.com
Bolsa Família “puxa” ou “freia” o emprego?
A discussão sobre transferência de renda e mercado de trabalho vive de extremos. De um lado, quem jura que o benefício “desliga” a busca por emprego. Do outro, quem lembra que dinheiro no bolso gira comércio, paga comida, compra gás e reduz miséria, o que também sustenta a economia local.
O governo federal, por sua vez, destaca mecanismos como a Regra de Proteção, que permite à família permanecer no programa por um período mesmo após conseguir emprego com carteira ou aumentar renda, recebendo parte do valor. Em novembro de 2025, esse parâmetro alcançou 2,42 milhões de famílias no país, segundo a Secom.
Na prática, isso tenta atacar o “medo da carteira”: aquela sensação de que aceitar um emprego formal pode significar perder o benefício de uma vez. Se a ponte funciona bem, ela pode ajudar justamente estados como o Maranhão, onde o desafio é menos “criar trabalho” e mais “transformar trabalho em formalidade”.
O balanço de fim de ano que interessa ao Maranhão: a virada está em curso
Quando se juntam as peças, a foto fica mais nítida:
-
2024 cravou a dependência: Maranhão liderando a relação Bolsa Família versus emprego formal no setor privado, segundo o Poder360.
-
2025 trouxe melhora de ambiente: PIB estadual crescendo acima do Brasil e do Nordeste, segundo o IMESC.
-
2025 também trouxe um dado simbólico: desemprego em mínima histórica no estado, conforme notícia do governo estadual baseada no IBGE.
-
Mas o “miolo” do problema permanece: informalidade e baixa proporção de carteira assinada seguem entre os piores patamares, conforme recortes divulgados a partir da PNAD.
-
E o Bolsa segue gigante: 1,15 milhão de famílias atendidas no Maranhão em novembro de 2025, com valor médio acima de R$ 700.
A virada real, aquela que muda o destino do Maranhão, não se mede só pelo PIB e nem só pelo desemprego. Ela se mede por quantas pessoas conseguem atravessar da informalidade para a formalidade sem cair no buraco da renda. E isso depende de produtividade, qualificação, atração de investimentos, infraestrutura e, sim, de políticas públicas que não tratem o Bolsa como fim, mas como ponte.
No fim das contas, o Maranhão parece ter começado a trocar “sobrevivência” por “transição”. Só que, por enquanto, a transição ainda não terminou.
Por O Ludovico
