Por Paulo Eduardo Dias, Claudinei Queiroz e Isabella Menon
(Folhapress) – Tainara Souza Santos, 31, que estava internada desde o último dia 29 de novembro após ser atropelada e arrastada por um quilômetro por Douglas Alves da Silva, morreu nesta quarta-feira (24) no Hospital das Clínicas, onde estava internada desde então. A morte foi confirmada à reportagem pela família da vítima.
Após o atropelamento, Tainara teve as duas pernas amputadas e passou por cinco cirurgias para ajudar na reconstrução das lesões geradas pelas amputações. Devido à complexidade dos ferimentos, ela ficou intubada desde o dia do acidente.
A última cirurgia foi realizada na segunda-feira (22) para retirar pele a ser usada como enxerto no pedaço da perna que ainda restava, na região dos glúteos. A família informou que ela também foi submetida a uma traqueostomia para retirada do tubo respiratório.
Nesta terça (23), a mãe de Tainara, Lúcia Aparecida Souza da Silva, postou um vídeo nas redes sociais falando sobre os procedimentos realizados. Ela disse que a filha foi para o quarto muito debilitada, devido ao trauma da amputação, mas que a cirurgia em si ocorreu tudo bem.
Ela contou ainda que os médicos pediram para a família comparecer ao hospital, quando disseram que a Tainara não estava mais respondendo às medicações e que ela se encontrava muito debilitada. A mãe, então, pediu a oração de todos.
Além de lamentar a morte de Tainara, que tinha dois filhos, o advogado Fabio Costa ainda falou como a ausência do depoimento da vítima deixa pontos abertos na investigação.
“Iríamos precisar muito do depoimento da Tainara neste momento. Na parte jurídica, contávamos muito com o depoimento dela sobre o relacionamento dela com o Douglas. Ninguém sabe precisar o que aconteceu e como aconteceu. A gente não sabe se ela foi uma ficante, uma namorada. A própria família não sabe precisar isso e seria importante que ela descrevesse tudo o que aconteceu naquela noite. Seria importante o depoimento para colocar uma pedra em cima do assunto, uma vez que ele sempre dizia que não conhecia a Tainara”, diz o advogado.
Costa afirma que agora o objetivo maior da família é fazer com que, de fato, o suspeito vá a júri popular. “Coisa que nós não tínhamos dúvida desde o início.”
Relembre o caso
Douglas Alves da Silva, 26, virou réu sob acusação de tentativa de feminicídio contra Tainara e tentativa de homicídio contra um rapaz que a acompanhava naquela data.
O atropelamento ocorreu na manhã do último dia 29 no Parque Novo Mundo, na zona norte de São Paulo. O motorista atingiu Tainara com um Golf preto em uma avenida que dá acesso à marginal Tietê e continuou dirigindo mesmo com o corpo dela preso ao veículo.
Câmeras de segurança registraram o atropelamento. Motoristas que estavam nas proximidades também filmaram o carro com o corpo da mulher sendo arrastado em um trecho da marginal.
Um funcionário do estabelecimento disse à polícia que o motorista agiu de forma intencional, atropelando e passando por cima da vítima. Quando a mulher já estava sob o veículo, o motorista ainda teria puxado o freio de mão e feito movimentos bruscos com o carro.
Familiares de Tainara e um advogado da família afirmaram que eles tiveram um breve relacionamento, que já havia terminado por iniciativa dela.
O advogado Marcos Leal, que defende Douglas, afirmou que ele não tinha intenção de atingir Tainara, mas sim o homem que caminhava ao seu lado na saída de um bar. Ele alega que Douglas não conhecia Tainara e nunca teve uma relação com ela –o que contradiz relatos da família de Tainara e de um amigo de Douglas que estava dentro do veículo no momento do atropelamento.
Douglas também negou à polícia que o atropelamento tenha sido proposital e afirma que não conhecia Tainara ou seu acompanhante. Ele ainda afirmou não ter percebido o alerta de outros motoristas de que a vítima estava sendo arrastada pelo seu veículo. De acordo com ele, deixou o local com medo de ser agredido.
O passageiro do carro afirmou que Douglas ficou furioso ao chegar a um bar e ver Tainara na companhia de outro homem. Disse também que ele teve a intenção de atingi-la. O motorista foi preso no dia seguinte ao crime.
Feminicídio bate recorde
Até outubro de 2025, o número de feminicídios registrados na cidade de São Paulo chegou a 53 casos, o maior da série histórica — um recorde. Em 2024, foram 51 casos de feminicídio de janeiro a dezembro, até então o maior número já registrado.
De acordo com um levantamento do Instituto Sou da Paz, a capital paulista foi o cenário de 1 a cada 4 feminicídios consumados no estado. Na comparação dos dez primeiros meses de 2025 com o mesmo período do ano passado, a alta é de 23% na cidade. Em relação a 2023, o crescimento foi de 71%.
Os dados reforçam a tendência histórica da violência contra a mulher: a maioria dos casos ocorre dentro de casa (67%) e as vítimas são assassinadas com armas brancas ou objetos contundentes –instrumentos usados em mais da metade dos crimes no estado.
