Para surpresa de absolutamente ninguém, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques foi preso hoje tentando fugir pelo Paraguai. Confirma também o que todos já sabiam: coragem não é um dos atributos do golpismo bolsonarista.
Ele se junta à longa lista dos que se escafederam para não enfrentar suas pendências com a Justiça. Dos peixes pequenos, que participaram do 8 de janeiro de 2023 e se pirulitaram para a Argentina, passando por Carla Zambelli e Alexandre Ramagem, que conseguiram fugir para a Itália e os Estados Unidos, até Jair Bolsonaro — que até tentou, mas mostrou ter competência derretida.
Silvinei, que foi corajoso para, no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, bloquear rodovias, principalmente no interior do Nordeste, para impedir eleitores humildes de áreas de voto lulista de chegarem às urnas, não deu conta diante da condenação pelo STF.
Foi pego no aeroporto internacional de Assunção, após violar a tornozeleira eletrônica, alugar um carro no Brasil, usar um passaporte falso e produzir uma carta dizendo que estava indo se tratar de um câncer no cérebro em El Salvador. Levou cachorro e tudo. Ele estava prestes a ir para o xilindró após ser condenado pela tentativa de golpe de Estado.
Desde 2018, a lógica é a mesma: o bolsonarista estica a corda institucional até o limite, testa as margens da legalidade e, quando a realidade cobra a fatura, grita perseguição e procura a rota de escape mais conveniente. A fuga pode ser física, simbólica ou narrativa. Vale sair do país, pedir asilo moral às redes sociais, esconder-se atrás de teorias conspiratórias. O que não vale é assumir responsabilidade.

O bolsonarismo sempre se apresentou como um movimento de força, ordem e autoridade. Mas, na hora em que o Estado de Direito bate à porta, a fantasia cai. O que sobra é o medo. Medo da Justiça, medo das provas, medo da verdade.
Há algo de profundamente revelador nisso. O discurso da “liberdade” nunca foi sobre direitos coletivos ou garantias democráticas. Sempre foi sobre a liberdade individual de não responder pelos próprios atos. Liberdade para mentir, para ameaçar, para sabotar. E, se necessário, para correr.
A história recente mostra que não se trata de um caso isolado, mas de um padrão. Quando a lei se aproxima, o bolsonarismo recua. Quando o cerco aperta, inventa-se um inimigo externo. Quando as provas se acumulam, a saída é o aeroporto ou a vitimização calculada.
Silvinei não inaugurou nada. Apenas confirmou, em voz alta, aquilo que seu ex-chefe sempre sussurrou entre quatro paredes: governar pode ser um projeto, mas fugir é um princípio.
Em tempo: Silvinei não é um personagem de Prision Break. Teve ajuda ou agiu nas brechas do sistema? O governo federal e o governo de Santa Catarina, onde ele morava, precisam explicar como ele só foi preso só no Paraguai. A menos que queiram rebatizar isso aqui como a Casa da Mãe Joana.
Publicado originalmente em UOL
