Brigitte Bardot
A lenda do cinema francês Brigitte Bardot, morta aos 91 anos, ficou mundialmente conhecida como símbolo sexual nos anos 1960.
Nas décadas seguintes, porém, tornou-se uma militante da causa animal e, mais tarde, uma apoiadora declarada da extrema direita francesa, trajetória marcada por declarações ofensivas contra a comunidade LGBTQ+, muçulmanos e imigrantes, que resultaram em cinco condenações por incitação ao ódio.
Depois de uma carreira que a levou ao estrelato global, Bardot se afastou das telas aos 39 anos e passou a viver de forma reclusa em Saint-Tropez, na Riviera Francesa. Em 1986, criou a Fundação Brigitte Bardot, dedicada à proteção animal. Engajou-se em campanhas contra a caça a focas, em defesa de elefantes, pela abolição de sacrifícios rituais de animais e pelo fechamento de abatedouros de cavalos.
Condenações por incitação ao ódio racial
À medida que seu ativismo ganhava visibilidade, cresciam também as reações negativas às suas posições políticas. Declarações públicas sobre imigração, islamismo e homossexualidade levaram Bardot a uma série de condenações judiciais por incitação ao ódio racial.
Entre 1997 e 2008, tribunais franceses aplicaram seis multas à atriz, sobretudo por comentários direcionados à comunidade muçulmana na França. Em um dos casos, um tribunal de Paris a condenou a pagar 15 mil euros por afirmar que muçulmanos seriam “essa população que está nos destruindo, destruindo nosso país ao impor seus atos”.
Em 1992, Bardot se casou com Bernard d’Ormale, ex-assessor da Frente Nacional, partido de extrema direita. Ao longo dos anos, apoiou publicamente seus líderes sucessivos, Jean-Marie Le Pen e sua filha Marine Le Pen, a quem chegou a chamar de “a Joana d’Arc do século XXI”.
Brigitte Bardot
O atual presidente do partido, Jordan Bardella, foi um dos primeiros a prestar homenagem. “Hoje o povo francês perdeu a Marianne que tanto amava, cuja beleza espantou o mundo”, escreveu nas redes sociais.
Marianne representa a República Francesa como ideal político e cívico. Ela simboliza liberdade, igualdade, laicidade e soberania popular. Costuma ser retratada como uma mulher com o barrete frígio, em referência à libertação dos oprimidos, e sua imagem está presente em prédios públicos, moedas, selos e documentos oficiais. Ao longo do tempo, atrizes e personalidades francesas serviram de modelo para o rosto de Marianne, o que explica associações simbólicas como a feita com Brigitte Bardot.
Em seu último livro, “Mon BBcédaire” (“Meu Alfabeto BB”), publicado poucas semanas antes da morte, Bardot criticou o que descreveu como uma França “monótona, triste e submissa” e atacou Saint-Tropez, sua cidade adotiva, hoje tomada por turistas ricos que ela própria ajudou a atrair. A obra também traz comentários depreciativos sobre pessoas gays e transgêneros.
