A perda de um bebê, seja no início da gestação, no meio dela ou após o nascimento — é uma experiência devastadora que atinge muitas famílias em silêncio. Nos últimos anos, várias personalidades brasileiras compartilharam publicamente suas dores, rompendo barreiras do tabu para dar voz ao luto gestacional, neonatal e perinatal. Essas histórias, além de comoventes, ajudam a dar visibilidade a um tema que muitas vezes permanece invisível na sociedade. Nomes como Lexa, Tati Machado, Sabrina Sato, Paula Amorim e Micheli Machado enfrentaram perdas que marcaram suas vidas pessoais e repercutiram nas redes sociais e na mídia.
Lutos maternos
Em fevereiro de 2025, a cantora Lexa viveu um dos momentos mais difíceis de sua vida ao perder sua filha Sofia. A bebê nasceu prematuramente em 2 de fevereiro, depois que Lexa foi internada com quadro grave de pré-eclâmpsia, complicação gestacional que colocou sua saúde e a da filha em risco. Após ficar internada por 17 dias em tratamento na maternidade, a filha de Lexa resistiu apenas três dias após o nascimento e veio a óbito em 5 de fevereiro, uma notícia que comoveu o país inteiro.
A perda mobilizou celebridades e fãs, entre elas, Sabrina Sato, que também já havia enfrentado perdas gestacionais, enviou à cantora uma mensagem de apoio emocionada: “Sinto tanto, tanto. Sinto profundamente a dor de vocês dois. Meu coração está com vocês neste momento tão difícil. A Sofia foi e sempre será imensamente amada… imagino a imensidão do luto que vocês estão vivendo”, escreveu Sabrina em rede social.
Em maio de 2025, a apresentadora Tati Machado anunciou a perda de seu primeiro filho, Rael, quando estava na 33ª semana de gestação. Após perceber a ausência dos movimentos do bebê, exames confirmaram que os batimentos cardíacos tinham parado e ela precisou passar por um parto induzido. A apresentadora descreveu a experiência como uma “ferida acesa” no coração e recebeu apoio de colegas famosos como Lexa, Regina Casé e Lauana Prado.
Na mesma época em que Tati passou pela perda do filho na reta final da gestação, a atriz Micheli Machado também enfrentou uma situação dolorosa. Hospitalizada após notar que a gestação já não evoluía normalmente, exames confirmaram a parada cardíaca do bebê e ela precisou passar por cesariana de emergência — um momento que, assim como no caso de Tati, repercutiu nas redes sociais com mensagens de carinho e solidariedade.
A apresentadora Sabrina Sato tem uma trajetória pessoal marcada por perdas gestacionais. Em novembro de 2024, ela revelou ter sofrido duas perdas gestacionais enquanto tentava engravidar com o ator Nicolas Prattes, incluindo internações e procedimentos médicos que resultaram em curetagens dolorosas. Sabrina descreveu a experiência como “extremamente dolorosa”, destacando a dor física e emocional que esses acontecimentos trouxeram para sua vida.
No início de 2025, a influenciadora e ex-BBB Maíra Cardi compartilhou com seus seguidores a perda de um bebê que esperava com Thiago Nigro (Primo Rico). Ela relatou que o coração do bebê simplesmente “parou de bater”, sem explicação que pudesse confortar. Mesmo diante da dor, Maíra continuou engajada em compartilhar sua trajetória e, meses depois, anunciou uma nova gravidez, revisitando temas como trombofilia e risco em gestação.
A influenciadora e ex-BBB Paula Amorim emocionou seus fãs em julho de 2025 ao revelar sua terceira perda gestacional, ocorrida ainda nas primeiras semanas após a descoberta da gravidez. Descrevendo um “cansaço imediato” e exaustão, Paula abriu o coração sobre como a repetição dessas experiências impacta profundamente a motivação e o emocional.
O que muda psicologicamente com a perda gestacional?
Para a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, cada trajetória de perda é única, mas existe um ponto em comum: a necessidade de acolhimento e significado no processo de luto.
No caso de Clara Maia, que enfrentou a morte de um dos gêmeos em parto prematuro e optou por doar leite materno para outros bebês na UTI neonatal como forma de resignificar a dor, a psicóloga destaca que esse tipo de gesto pode ajudar a manter viva a memória da criança. “Muitas mulheres, quando perdem o bebê, elas têm o desejo de fazer a doação do leite materno. Como uma forma de ajudar outras crianças e como uma forma também de honrar a vida do filho”, disse Rafaela. “Ela quer manter viva a memória do filho e, para ela, muitas vezes fazer essa doação do leite materno pode ajudar no processo de luto, de elaboração desse luto”, explicou.
Mas ela também ressalta que não existe “certo ou errado” na forma de lidar com a dor: “Não existe um formato certo, não existe certo e errado. Os comportamentos que as mães enlutadas têm muitas vezes podem parecer estranhos para a sociedade, mas são formas que elas encontram para manter o filho vivo na memória”, afirmou.
Luto no fim da gestação e identidade materna
Para perdas que ocorrem no final da gestação, como as de Tati Machado e Micheli Machado, Rafaela explica que a dor pode ser particularmente intensa, porque o vínculo afetivo já estava muito consolidado e a sociedade já vinha interagindo com aquela gestação de forma concreta. “Não importa o momento em que ocorre a perda fetal. (…) O fato é que, no final da gestação, você muitas vezes já tem uma barriga, as pessoas já sabem que você está grávida, você muitas vezes já fez o enxoval”, disse ela. “Então, isso choca a sociedade, a mãe e a família”, completou.
A psicóloga lembra que todos os períodos da gestação carregam expectativas e laços emocionais fortes: “Quando você perde um filho, a sociedade não deve julgar se ela sofre mais ou sofre menos. Não é o fato de ter perdido o filho no final da gestação que traz uma maior dor… o fato é que no final da gestação a interação social intensifica esse choque”, explicou.
Dar voz ao luto: acolhimento, riscos e comunidade
Rafaela também aponta os benefícios, e os riscos, de tornar público o luto. “Muitas mulheres que passam pela perda dos seus filhos durante este período perinatal, elas têm o desejo de falar sobre o ocorrido… principal porque ele é muito invisibilizado”, disse. “O que vai ajudar no processo de luto é permitir que ela fale sobre o assunto”, afirmou.
Ela acrescenta que a criação de comunidades e grupos de apoio de mães enlutadas pode ser um fator importante para a construção de significado, acolhimento e compartilhamento de experiências, diminuindo a sensação de isolamento e vergonha.
A importância do suporte profissional
Por fim, a especialista reforça que o acompanhamento com um psicólogo perinatal pode ser fundamental, especialmente em casos de perdas repetidas ou quando uma nova gestação está sendo planejada: “É muito importante que mulheres que perderam o bebê, numa próxima gestação ou quando estiverem planejando uma próxima gestação, já procurem um profissional da Psicologia Perinatal… vai ajudar muito essa mulher na vinculação com esse bebê e diminuir as chances de alterações emocionais significativas”, concluiu.
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Rafaela Schiavo (CRP 93353) é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Desde sua formação inicial, dedica-se à saúde mental materna, sendo autora de centenas de trabalhos científicos com o objetivo de reduzir as elevadas taxas de alterações emocionais maternas no Brasil. Possui graduação em Licenciatura Plena em Psicologia e graduação em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Além disso, concluiu seu mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem e doutorado em Saúde Coletiva pela mesma instituição. Realizou seu pós-doutorado na UNESP/Bauru, integrando o Programa de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Desenvolvimento Humano, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento pré-natal e na primeira infância; Psicologia Perinatal e da Parentalidade.
