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Trump cita avanços em reunião com Zelensky, mas divergências entre Ucrânia e Rússia persistem | Mundo

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste domingo que houve avanços rumo a um acordo para encerrar a guerra na Ucrânia após receber o líder do país, Volodymyr Zelensky, em uma reunião na Flórida. No entanto, o republicano alertou que uma ou duas “questões sensíveis” continuam em aberto, com a previsão de novas rodadas de negociações com Kiev e Moscou.

Em uma entrevista coletiva após o término do encontro em sua mansão em Mar-a-Lago, Trump destacou ter feito uma “reunião excelente” com Zelensky e que ambos concordaram em “muitas coisas”, mas evitou cravar que havia fechado um acordo sobre o plano de paz de 20 pontos proposto pelos EUA para encerrar o conflito.

“Acho que estamos bem mais perto [de um acordo de paz]”, disse Trump. “A palavra ‘acordo’ é forte demais, mas estamos chegando mais perto”, acrescentou, revelando que ambos conversaram o presidente da França, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, após a conclusão do encontro.

Zelensky, por sua vez, ressaltou que discutiu com Trump todos os pontos do acordo de paz. Segundo o presidente ucraniano, a dimensão militar estaria “100% acertada”, enquanto ainda restariam 10% dos demais aspectos do plano a serem negociados.

Trump e Zelensky não deram detalhes sobre que “questões sensíveis” permanecem em aberto. No entanto, o presidente americano citou que a criação de uma zona desmilitarizada na região do Donbas, reivindicada e atualmente ocupada por tropas da Rússia, seguia “sem solução”.

O republicano também não explicou como seriam as garantias de segurança para a manutenção da paz após um eventual acordo, exigência da Ucrânia para encerrar a guerra, que completará quatro anos em fevereiro. Questionado sobre o tema, Trump disse que trabalharia com a Europa, que assumiria “grande parte” da responsabilidade sobre a defesa ucraniana com “100% de apoio” do governo americano.

“Nós concordamos que as garantias de segurança são um marco fundamental para alcançar uma paz duradoura, e nossas equipes continuarão trabalhando em todos os aspectos”, afirmou Zelensky na coletiva.

Outro ponto de discordância é sobre a usina nuclear de Zaporizhzhia, também atualmente ocupada por tropas russas. Trump afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, estaria disposto a cooperar com a Ucrânia para operar a instalação em conjunto, algo que Kiev rejeita.

O encontro na Flórida foi resultado de semanas de intensa diplomacia para pôr fim à guerra deflagrada por Putin contra a Ucrânia, apesar da pouca disposição russa nas negociações.

Antes de receber Zelensky, Trump conversou com o presidente russo e também destacou que o diálogo entre eles havia sido “produtivo”. Uma nova ligação estava prevista para ocorrer após o encontro com o líder ucraniano.

Segundo Trump, que sinalizou que receberá líderes europeus e Zelensky em janeiro na Casa Branca para discutir o tema, ficará claro “em poucas semanas” se a nova rodada de negociação sobre o conflito será bem-sucedida.

Em Moscou, o assessor de política externa do Kremlin, Yuri Ushakov, classificou a conversa como “amistosa”, mas disse que a Ucrânia precisa tomar uma decisão sobre Donbas “sem demora”. Ele também afirmou que o governo russo concordou em criar grupos de trabalho para resolver o conflito, com foco em questões econômicas e de segurança.

Antes da ligação entre Trump e Putin, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, havia acusado Kiev de evitar “negociações construtivas”. Moscou rejeita as mudanças feitas por Kiev e a União Europeia no plano inicial de Trump, elaborado com muitas das medidas defendidas pelo governo de Putin.

No sábado, a Rússia atingiu Kiev e outras partes da Ucrânia com centenas de mísseis e drones, causando blecautes em uma grande área da capital. Depois da ofensiva, o líder russo afirmou que seguiria com a guerra se Zelensky não concordasse com um acordo em breve, mas Trump disse ontem acreditar que os dois lados estão falando sério sobre a paz.

Desde a fracassada cúpula entre Trump e Putin no Alasca, em agosto, o líder russo reiterou suas exigências, entre elas a cessão da região do Donbas e de outros territórios no leste da Ucrânia por parte de Kiev. Já o presidente americano elevou a pressão para que Zelensky faça concessões e fez acenos à Rússia sobre cooperação econômica.

Em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, elogiou o progresso nas conversas entre Trump e Zelensky. No entanto, cobrou avanços na segurança da Ucrânia no pós-guerra. “Essencial para esse esforço [de paz] é contar com garantias de segurança inabaláveis desde o primeiro dia”, disse ela..

Embora Kiev e Washington tenham concordado em muitas questões, a questão de qual território, se houver, será cedido à Rússia permanece sem solução. Enquanto Moscou insiste em ficar com toda a região de Donbas, Kiev quer que o mapa seja mantido nas atuais linhas de batalha.

Os EUA, buscando um acordo, propuseram uma zona econômica livre caso a Ucrânia deixe a região, embora ainda não esteja claro como essa zona funcionaria na prática.

Os negociadores americanos também propuseram o controle compartilhado da usina nuclear de Zaporizhzhia. Os reparos nas linhas de transmissão de energia começaram no local após mais um cessar-fogo intermediado pela Agência Internacional de Energia Atômica, informou a agência neste domingo.

A Rússia controla toda a Crimeia, que anexou em 2014, e desde a invasão da Ucrânia, há quase quatro anos, assumiu o controle de cerca de 12% do seu território, incluindo cerca de 90% do Donbas, 75% das regiões de Zaporizhzhia e Kherson, e pequenas porções das regiões de Kharkiv, Sumy, Mykolaiv e Dnipropetrovsk, de acordo com estimativas russas.

Putin afirmou em 19 de dezembro que um acordo de paz deveria ser baseado nas condições que ele estabeleceu para 2024: a retirada da Ucrânia de todas as regiões de Donbas, Zaporizhzhia e Kherson, e a renúncia oficial de Kiev à sua intenção de ingressar na Otan.

Os encontros anteriores de Zelensky com Trump nem sempre foram tranquilos, mas a reunião de domingo ocorre após semanas de esforços diplomáticos. Os aliados europeus, embora por vezes excluídos do processo, intensificaram os esforços para delinear os contornos de uma garantia de segurança pós-guerra para Kiev que os Estados Unidos apoiariam.

O plano de 20 pontos foi derivado de um plano de 28 pontos liderado pela Rússia , que surgiu de conversas entre o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, o genro de Trump, Jared Kushner, e o enviado especial russo, Kirill Dmitriev, e que se tornou público em novembro.

As negociações subsequentes entre autoridades ucranianas e negociadores americanos produziram o plano de 20 pontos, mais favorável a Kiev.

Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o presidente dos EUA, Donald Trump, apertam as mãos durante uma coletiva de imprensa após um almoço nos EUA — Foto: Reuters/Jonathan Ernst

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