Os jovens da periferia brasileira entram no mercado de trabalho pressionados pela renda baixa e pela necessidade imediata de sustento. Dados do Instituto PROA mostram que quase 70% vivem em famílias com renda de até dois salários mínimos, muitas vezes dividida entre três ou mais pessoas, o que reduz drasticamente a renda per capita.
Diante desse quadro, o ingresso no trabalho deixa de ser escolha e passa a ser urgência. Para muitos jovens, a prioridade é garantir renda, ainda que em condições instáveis, enquanto buscam alguma previsibilidade para organizar a própria vida.
Deivyd Barros, fundador da Investeens, afirma que essa realidade exige políticas de inclusão mais amplas. Segundo ele, há um cansaço acumulado entre jovens que vivem sob pressão constante e querem acesso a oportunidades reais.
Informal por falta de opção
Os dados do PROA indicam que mais de 75% dos jovens preferem uma carreira formal, com estabilidade e possibilidade de crescimento. Ainda assim, muitos acabam no trabalho informal ou em atividades por aplicativo por ausência de alternativas no curto prazo.
Segundo Deivyd Barros, esse movimento não reflete propósito. Para ele, o informal funciona como saída emergencial, usada para cobrir despesas imediatas enquanto outras portas seguem fechadas.
Jovens associam formalização à segurança
A busca por estabilidade aparece como sentimento recorrente entre jovens da periferia. A flexibilidade do trabalho informal convive com o receio da ausência de renda previsível, benefícios e proteção social.
Deivyd relata que, em escolas e comunidades, o discurso é direto. Os jovens querem planejar estudo, moradia e saúde, algo inviável sem previsibilidade financeira. Essa percepção dialoga com outro dado do PROA, que aponta alta rotatividade nas empresas, enquanto apenas 35% oferecem programas estruturados de desenvolvimento.
Jovens empreendem mais por necessidade
O empreendedorismo jovem cresce no país, mas o recorte periférico mostra diferenças importantes. Segundo o Sebrae, 4,9 milhões de pessoas entre 18 e 29 anos comandam negócios próprios, o que representa 16% dos empreendedores brasileiros.
Deivyd destaca que há trajetórias distintas. Parte dos jovens empreende por vocação, enquanto outra parcela abre negócios por não encontrar emprego formal. Misturar esses contextos pode distorcer a leitura do fenômeno e esconder a precarização.
Desenvolvimento e permanência
O estudo do PROA aponta que empresas enfrentam dificuldade para reter jovens, embora esperem permanência média de até três anos. A falta de capacitação e de caminhos claros de crescimento aparece como principal entrave.
Na avaliação de Deivyd Barros, a permanência depende de ambiente que valorize trajetória e potencial. Para ele, quando os jovens enxergam possibilidade de evolução e reconhecimento, a relação com o trabalho muda, refletindo em engajamento e retorno para as empresas.
