MATEUS OLIVEIRA
Cidades da região Centro-Sul do Paraná amanheceram neste sábado (8) em meio a escombros, após a passagem de um tornado com ventos que ultrapassaram 250 km/h na noite de sexta-feira (7). O fenômeno deixou ao menos cinco mortos e mais de 430 feridos. Quatro das vítimas estavam em Rio Bonito do Iguaçu — o município mais atingido — e uma em Guarapuava.
De acordo com o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), o tornado atingiu intensidade EF3 na Escala Fujita Melhorada, que vai até o nível cinco, sendo classificado como de grande destruição. (Veja o vídeo no final da reportagem)
O meteorologista Samuel Braun, do Simepar, explicou que a confirmação foi possível a partir da análise de radares meteorológicos, imagens aéreas e dos estragos causados na cidade.
O fenômeno foi resultado de um ciclone extratropical que atingiu o Sul do país e também provocou chuva forte e danos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Os ventos intensos arrancaram árvores, postes e destruíram completamente residências. Segundo a Defesa Civil, mais de mil pessoas estão desabrigadas. Equipes de bombeiros e voluntários seguem as buscas por sobreviventes sob os destroços.
80% da cidade destruída
Imagens gravadas por moradores de Rio Bonito do Iguaçu revelam um cenário de devastação total. A Defesa Civil estima que cerca de 80% do município, que tem 14 mil habitantes e fica a 400 km de Curitiba, foi destruído. Moradores relataram ainda a queda de granizo durante a tempestade.
O Simepar explicou que a cidade foi atingida por uma supercélula, tipo de tempestade caracterizada pela presença de um mesociclone — uma corrente de ar ascendente em rotação no interior da nuvem.
Segundo Braun, a principal diferença entre um tornado e uma tempestade comum é justamente a rotação do vento. Ele destacou que as condições atmosféricas estavam extremamente favoráveis à formação do fenômeno:
“O ambiente estava muito úmido e aquecido, com forte cisalhamento do vento — ou seja, grande diferença entre os ventos na superfície e em níveis mais altos da atmosfera. Esses fatores contribuíram para a formação do tornado”, explicou o meteorologista.
Braun afirmou ainda que, em 23 anos de atuação, esse foi o evento mais intenso que já presenciou. “Foi um fenômeno devastador. Não me recordo de termos registrado um tornado de categoria EF3 no estado”, disse.
Mobilização de emergência
O Governo do Paraná mobilizou 30 bombeiros de diferentes cidades e mais 20 integrantes do Grupo de Operações de Socorro Tático (Gost) — unidade de elite da corporação —, acompanhados de cães farejadores, para atuar em Rio Bonito do Iguaçu.
Outras equipes foram enviadas para os municípios próximos, como Laranjeiras do Sul, Cantagalo, Porto Barreiro e Candói.
No início da noite de sexta-feira, o Corpo de Bombeiros havia informado cinco mortes, mas o número foi momentaneamente revisado para quatro após a constatação de uma vítima contabilizada duas vezes. Na manhã deste sábado (8), uma nova morte confirmada em Guarapuava elevou novamente o total para cinco.
Ambulâncias de Cascavel e Guarapuava estão reforçando o atendimento aos feridos. Hospitais da região permanecem sobrecarregados, e a Secretaria Estadual da Saúde disponibilizou leitos em outras cidades para atender casos graves.
O governador Ratinho Junior (PSD) determinou a instalação de uma base de comando e coordenação no Quartel Central do Corpo de Bombeiros de Guarapuava, com estrutura avançada de apoio para as equipes em campo. Viaturas de Cascavel, Dois Vizinhos e Maringá também foram deslocadas para a operação.
Aeronaves de resgate aguardam a melhora nas condições climáticas para o deslocamento até as áreas mais afetadas. O governo informou ainda o envio de motosserras e equipamentos pesados para desobstrução de vias e continuidade das buscas.
Ajuda humanitária
Caminhões da Defesa Civil foram carregados com cestas básicas, kits de higiene e dormitório e devem seguir ainda neste sábado para a região. Durante a madrugada, o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, anunciou o envio de ajuda humanitária ao Paraná, em articulação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), incluindo equipes especializadas e apoio às ações de reconstrução.
Atendimento hospitalar
De acordo com o governo estadual, os hospitais da região já realizaram centenas de atendimentos desde a noite de sexta-feira.
As unidades de saúde de Laranjeiras do Sul prestam suporte direto aos feridos, e a Central Estadual de Regulação de Leitos coordena as transferências dos casos mais graves.
A Secretaria da Saúde também requisitou o reforço do Samu das regionais de Guarapuava e Cascavel e enviou soros, medicamentos e insumos aos hospitais.
O Hemocentro de Guarapuava despachou bolsas de sangue para Laranjeiras do Sul, e o Hemepar permanece em alerta para novos envios conforme a demanda.
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