Carol Garcia se destaca como uma das atrizes mais versáteis da nova geração do audiovisual brasileiro ao dar vida a Elize Matsunaga, uma das protagonistas da série “Tremembé”, do Prime Video, lançada em outubro. Aos 35 anos, a atriz reafirma sua força em cena ao interpretar uma personagem complexa, cujo enredo envolve dor, violência e consequências profundas. O papel marca mais um passo importante em uma trajetória que já inclui trabalhos de sucesso no streaming, na televisão e no teatro, consolidando sua posição como uma profissional que traz renovação, intensidade e profundidade para cada projeto.
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Antes de estrear na TV aberta pela Globo, Carol trabalhou por quatro anos no canal Parafernalha, no YouTube, participando de esquetes de humor. Na televisão, esteve à frente de seriados como “Questão de Família” (2015, GNT), “República de Férias” (2015, TV Rio Sul) e “Temos Vagas” (2014, TV Rio Sul). Na Globo, participou das novelas “A Dona do Pedaço” (2019) e “Quanto Mais Vida, Melhor” (2021), sendo indicada ao prêmio de Atriz Revelação no Melhores do Ano, do “Domingão do Faustão”, pelo papel de Sabrina.
No cinema, integrou o longa-metragem “Os Parças” (2017, Dir. Halder Gomes) e, recentemente, esteve no elenco principal da série “Sem Filtro” (2023, Netflix), além de “Tremembé” (2025, Prime Video). Paralelamente, construiu uma sólida carreira teatral, atuando em espetáculos como “Kafka e a Boneca Viajante” (2024), que lhe rendeu o prêmio APTR de Teatro, e nos musicais de Daniel Herz, entre outros trabalhos que evidenciam sua versatilidade artística.
Em entrevista à revista ELA, Carol fala sobre a construção de personagens complexos, a transição entre diferentes mídias e a importância de manter a integridade emocional frente a papéis intensos.
Ao comentar sobre sua personagem em “Tremembé”, Carol reflete sobre o que representa interpretar mulheres desafiadoras e como isso se relaciona com o empoderamento feminino.
“Tive personagens fortes, sim, e amo dar corpo a mulheres complexas. A Betina, de ‘Quanto Mais Vida Melhor’, por exemplo, é uma força cotidiana: mãe jovem, trabalhadora, atravessada pelo machismo e ainda assim cheia de alegria. A Elize, por outro lado, é forte no sentido do desafio artístico. Vejo essa força no trabalho da atriz: nas escolhas que precisei fazer, na entrega emocional e na responsabilidade ética de interpretar alguém que existe e cuja trajetória envolve dor, violência e consequências muito sérias. Depois dos 30, sinto que meu corpo, minha escuta e meu emocional estão mais preparados para lidar com esse tipo de complexidade. Para mim, ‘empoderamento feminino na arte’ não está em imitar histórias difíceis, mas em ter espaço, profundidade e autonomia para contá-las sem simplificá-las. Bom, eu amo, tá?”, afirma.
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Carol também comenta sobre os desafios de transitar entre diferentes plataformas.
“Eu acho ‘chiquíssimo’ rsrsrs, mas não tem nada de glamour por trás. É fruto de muita insistência, estudo e trabalho mesmo. Lembro de ser a que não ia às festas porque estava escrevendo uma peça ou preparando uma cena da faculdade. Nunca fui a atriz que ficou em casa esperando o trabalho aparecer… embora, claro, tenha chorado pela falta de oportunidades e de dinheiro. Mas eu fiz de tudo: varri chão de palco para outras pessoas entrarem em cena, operei som, fiz assistência de direção, criei minha própria peça aos 19 anos. Sempre fiz, busquei, observei”, destaca.
A atriz atribui à diversidade de experiências a construção de sua trajetória. “Essa multiplicidade me molda porque me lembra diariamente de onde eu vim e do que realmente me move: uma obsessão boa pela arte, pela palavra, pela cena. É isso que me leva do teatro ao streaming, e é isso que me mantém tentando, estudando…”, diz.
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Ao falar sobre sua atuação em “A Dona do Pedaço”, Carol avalia a pressão de corresponder às expectativas do público.
“Realmente, ‘A Dona do Pedaço’ me reposicionou. Foi meu primeiro grande trabalho de visibilidade e fui indicada como Atriz Revelação no Troféu Melhores do Ano, algo que me deixou profundamente feliz e grata. Mas também me trouxe uma consciência importante: televisão é velocidade. Uma semana depois do fim da novela, a memória do público e, muitas vezes, da própria indústria, já se move para outro lugar. Produtores, diretores e roteiristas que te chamavam de ‘genial’ seguem para o próximo projeto, não sabem nem mais o seu nome… e isso faz parte do jogo. Por isso mantenho a busca por teatro e me desdobro artisticamente em outras frentes”, explica.
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A experiência em comédia também influencia seu trabalho em papéis dramáticos.
“A Parafernalha foi uma grande escola para mim: de improviso, de ritmo, de relação com a equipe e, principalmente, de jogo. Ali também eu vi o que eu não queria como atriz. Depois disso trabalhei bastante com humor, sempre ancorada em estudos como a palhaçaria, que considero uma das linguagens mais potentes e mais puras do teatro. O palhaço parte da falta: ele perdeu tudo, ele tenta, falha, tenta de novo. Nós rimos, mas por baixo existe vulnerabilidade, humanidade, algo cru. A crueza humana. Carrego muito disso para os personagens dramáticos. O humor me ensinou que a dor e o riso são vizinhos, que uma emoção só existe porque a outra também existe”, detalha.
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Sobre Elize Matsunaga, condenada pelo assassinato e esquartejamento do marido em 2012 em São Paulo, Carol detalhou como se preparou para interpretar uma figura tão controversa:
“Eu setorizei o processo, porque sabia que só conseguiria dar conta da complexidade da Elize se entendesse cada camada antes de unir tudo. Comecei sozinha, assistindo tudo o que existia sobre ela para mapear gesto, discurso, silêncio. Depois fui para o livro do Ullisses, que me deu outra perspectiva. A partir daí entrei no roteiro, entendendo o ponto de vista da série e o que aquela história pedia de mim. Só depois fomos para a sala de ensaio, para o contato com a equipe e os colegas de cena, onde tudo realmente ganha carne. Também construí um gráfico emocional da personagem, porque não queria que ela ficasse num único tom durante toda a série. Precisava encontrar as nuances, as fissuras, as quebras, os micro pontos de humor, aquilo que impede uma personagem real de virar caricatura. E, sinceramente, estudei muito. Muito mesmo. E não vou me fingir de ‘fortona’: eu senti. Fiquei cansada, mexida, atravessada. Mas escolhi essa entrega… existem muitas formas de estar em um personagem, e essa foi a minha. Para mim, há prazer em me jogar dessa maneira. Quanto mais complexo o desafio, mais me sinto atraída.”
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A artista valoriza o impacto do streaming no audiovisual brasileiro. “É muito bom, gente. O streaming ampliou muito o nosso horizonte. O Brasil sempre produziu coisas incríveis, somos o país que fez Central do Brasil, Cidade de Deus, Manas, Cangaço Novo. Com o streaming, ganhamos mais espaço para mostrar essa inventividade. Hoje, o público escolhe o que quer assistir, e essa liberdade exige de nós artistas, criadores, produtores, um compromisso ainda maior com qualidade. A novela continua sendo a cara do Brasil, e eu acho é bem bom que seja mesmo. Mas agora temos mais caminhos e mais possibilidades de contar histórias. O streaming não substitui a TV ou o cinema: ele amplia o território. E, quanto mais espaço, mais responsabilidade para fazermos trabalhos que honrem o potencial que o Brasil tem”, pontua.
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Questionada sobre como mantém a saúde mental diante de personagens intensos, Carol revela:
“É preciso criar um estilo de vida. Amigos, uma taça de vinho, um samba, casa limpa e arrumada, organização externa e amor de quem eu amo, meu namorado que me apoia e me coloca para dormir quando pesa.”
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Por fim, a atriz fala sobre a representação feminina na arte e como se conecta com o público. “Olha… eu sou uma mulher de fé. Mas da fé na ação. Que olha para o caminho e busca ali os materiais que vão ser usados para levantar seu trabalho, sua casa, seu sonho. Para quem deseja uma carreira na arte, especialmente na atuação, acredito profundamente no poder da pesquisa. Leia literatura, claro, mas leia também os estudos cênicos. Leia Yoshi Oida, Peter Brook, Fernanda Montenegro, Augusto Boal, Dario Fo… Eu poderia passar horas recomendando. A arte exige entrega, curiosidade e muita coragem. Se nos comprometermos com isso, o caminho se abre. Talvez não na velocidade que imaginamos, mas ele se abre”, conclui.
