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A festa mais famosa do país repete exclusão: cadê os cantores das religiões afro?

by admin

Todos os anos, milhões de pessoas se reúnem na praia para celebrar a virada do ano aos pés do maior altar sagrado que existe, o mar de Yemanjá. Cantam, dançam, fazem pedidos, agradecem, jogam flores e vestem branco seguindo a tradição.
Mas o poder público, esquece algo essencial. Quem começou tudo isso não foi o show business. Foi o povo de santo.
O famoso réveillon de Copacabana, hoje disputado por artistas internacionais e transmitido para o mundo inteiro, nasceu nas mãos humildes e poderosas dos Terreiros. Nos anos 60, foram praticantes da Umbanda que levaram suas oferendas às praias de Copacabana e transformaram a passagem do ano em um grande rito de fé para Yemanjá.
A partir daí as Giras de fim de ano se espalharam pelo Estado e pelo país. A multidão só veio depois. O espetáculo só veio depois. O glamour só veio depois.
A verdade é simples e pouco falada. O maior réveillon do planeta foi criado pelo povo de axé.
Hoje, Copacabana recebe artistas do mundo inteiro, de Rolling Stones a Madonna, de Stevie Wonder a Lady Gaga. E nesta passagem de 2025 para 2026 não será diferente, com Gilberto Gil, Alcione, Ney Matogrosso, Iza, João Gomes, Alok, Mart’nália, Diogo Nogueira, Bloco da Preta, Grande Rio, Beija Flor e até um palco gospel, que cresce a cada ano segundo a Riotur.
Respeito o crescimento, respeito o segmento, mas não posso deixar de perguntar:
Onde estão os cantores do axé sagrado?
Onde estão aqueles que levam a música de terreiro com verdade e ancestralidade?
Rita Benneditto, Juliana Del Passo, Fabiana Cozza, Tião Casimiro, Luan Pureza, Sandro Luiz. Este último arrastando multidões e lotando teatros. E tantos outros que mantêm viva a musicalidade que deu origem a tudo isso.
Por que eles não sobem ao palco?
Por que não podem cantar para Yemanjá se foram os seus que criaram essa celebração?
Por que o Brasil pode cantar para a Mãe das Águas, mas o povo que a cultua não pode?
Não é apenas sobre oferendas.
É sobre reconhecimento.
É sobre justiça.
É sobre devolver ao povo de axé o lugar que sempre foi seu.
Se todos cantam no réveillon de Yemanjá, o povo de santo também precisa cantar. Até porque, pela história, essa noite tão especial também pertence àqueles que começaram tudo, banhados pelo axé e pelas águas sagradas da Grande Mãe.
Ìṣe ń sọ̀rọ̀ ju ọ̀rọ̀ lọ. (Fatos falam mais que palavras.)
Axé para todos!

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