Home » A história de Bruce, meu pitbull

A história de Bruce, meu pitbull

by admin

Um menino de 4 anos foi atacado por um pitbull na casa da avó em Irajá, no Rio de Janeiro. Internado, Igor sofreu parada cardíaca durante a cirurgia e morreu. O cachorro Enrico, um filhote de apenas sete meses, pertencia ao tio do menino. Foi apreendido para ser castrado.

Essa tragédia nem ganhou destaque nos jornais. Virou notícia de rodapé. É possível entender por quê. O mundo já está trágico demais para se noticiar um evento quase corriqueiro: ataque violento de cães da raça pitbull. Basta fazer pesquisa rápida. Só em 2025.

Mulher passeando com cachorro na rua é derrubada e ferida por dois pitbulls no Rio Grande do Norte. Entregador no Rio Grande do Sul é morto por quatro pitbulls da cliente. Crianças sobem no teto de carro para escapar das mordidas de um pitbull em São Paulo, numa cena aterradora. Mulher de 31 anos é morta com pescoço dilacerado por seu próprio pitbull em Goiás.

A culpa, no consenso de especialistas, é do tutor. Ele é o responsável. Ele será processado criminalmente, por negligência, por não colocar focinheira, por não andar com guia, por deixar o pitbull fugir ou por maltratar o cachorro, criando-o para ser cruel e briguento.

Mas, muitas vezes, o tutor é a própria vítima. Ou as crianças da casa, deixadas em companhia do cão, tão dócil e fofo…O pitbull é tratado com carinho, como um membro da família. Não pode ter a ver apenas com a criação. É uma raça imprevisível, com maxilar forte e mordidas potencialmente letais.

E isso tudo me lembra o Bruce.

Ele chegou a minha casa como presente de um ex-namorado sem-noção, que não me informou a raça. Era pequenino, caramelo, com uma mancha branca e olhos verdes. Pensei que fosse labrador. Eu queria um cachorro para meus filhos. O cuidado e as brincadeiras aproximariam o adolescente do irmão, ainda criança.

Eu dirigia um jornal, ficava fora de casa muito tempo. Chamamos o cão de Bruce. Era carinhoso e brincalhão. Os meninos jogavam bola e brincavam de bobinho com o Bruce na sala quase sem móveis. Ele subia na cama de um e de outro. Eu tirava. Pegava no colo.

Até que fui ao veterinário para as vacinas. E ele comentou, na saída. “Que belo animal! Pena que cheguem ao consultório tantos cães desfigurados por essa raça!” E eu, estarrecida. Como assim? “É um pitbull, não sabia?”

Fiquei consternada. Quem tem animal de estimação sabe que rapidamente nos tomamos de amores. O que fazer com Bruce? Já me vinha à mente a notícia: “Pitbull de jornalista mata poodle”. Ou. “Na ausência de jornalista, pitbull ataca vizinho”.

Enquanto eu tentava convencer meus filhos a desistir do amigo, Bruce crescia. Ficava mais forte. E temperamental. Rosnava quando levava bronca. Destruía minhas plantas, roía meus livros de arte, arranhava meus sapatos e as portas.

Finalmente, dei Bruce para uma diagramadora do jornal. Ela tinha um sítio. E uma pitbull para cruzar. Cuidaria bem. Durante anos, mandou fotos e filmes do Bruce e das crias.

Entendo que os donos de pitbull rejeitem a pecha de cães assassinos. No bairro onde moro e nas praias que frequento, volta e meia marombeiros marrentos deixam seus pitbulls livres. É um crime. Mas eles não estão nem aí.

Perguntei ao Dr Mauro Lantzman, veterinário especialista em distúrbios de comportamento animal, o que ele acha dos ataques de pitbulls. “Cães de todas as raças ou sem raça atacam, mas os pitbulls têm enorme força mandibular. Quando pegam, não largam, balançam a cabeça e agitam a presa até matar”.

Podem não ter sido “socializados adequadamente”, diz Lantzman. E alerta: “Nenhuma criança abaixo de 10 anos pode ser deixada sozinha em companhia de nenhum cão”.

Por essas e outras, prefiro gatos.

Créditos

You may also like