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Amigos e familiares de vítima de feminicídio em Guarulhos (SP) organizam ato por justiça: ‘É por todas nós’

by admin

A auxiliar de enfermagem Tatiana Aparecida Vieira, de 40 anos, é mais uma vítima de feminicídio. Ela foi encontrada morta no dia 25 de dezembro, na casa onde morava com os quatro filhos, em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. O suspeito é Wesley Roma Palma, com quem Tatiana foi vista pela última vez, na véspera do feriado de Natal.

No próximo domingo (28), familiares e amigos de Tatiana irão realizar uma manifestação em Guarulhos e convidam a população para se unir ao ato, com concentração marcada para às 11h na rua Pendolar, 290, no bairro dos Pimentas, onde ela morava. A proposta é cobrar por justiça e denunciar mais esse caso brutal, que se soma a outros registrados nos últimos dias.

“Muitos casos foram arquivados. Não deram o mínimo valor”, alerta a orientadora socioeducativa e assistente social conhecida como Brooklyn, amiga da vítima e uma das organizadoras da manifestação.

Para pressionar o poder público contra a impunidade, o grupo elaborou uma carta que será entregue na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), após o período de recesso da Casa, exigindo fiscalização e justiça “não somente pela Tati, mas por tantos feminicídios”, como informa o texto publicado em um grupo de Whatsapp criado para a mobilização.

“Por mais que a nossa reivindicação tenha a centralidade na Tati, ela perpassa a todas nós e ela é por todas nós. Porque essas urgências em relação às políticas e às ações públicas é para contemplar todas as nossas vidas e identidades”, ressalta a assessora de projetos Érika Matheus Santos, que também organiza o ato pela amiga assassinada.

Os números são assustadores. De janeiro a outubro de 2025, 1.760 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil, de acordo com os dados do Laboratório de Estudos de Feminicídio (Lesfem), espaço interdisciplinar que reúne pesquisadoras e pesquisadores de diversas universidades brasileiras. Somadas às tentativas de assassinatos, o total de mulheres vítimas de violência extrema é 5.582.

O estado de São Paulo bate recorde, com 930 casos, no total absoluto, entre feminicídios tentados e consumados. Em 2024, foram 651 registros, ou seja, o ano ainda não encerrou e já temos um aumento expressivo em comparação ao período anterior em São Paulo.

No entanto, é no Mato Grosso onde as mulheres correm mais risco, de acordo com os dados proporcionais à quantidade da população. A cada 100 mil mulheres, 19,6 foram vítimas de feminicídio tentado ou consumado no estado. Em São Paulo, o número é de 4,7 para cada 100 mil.

Os relatórios publicados pelo Lesfem revelam que, na maior parte dos casos, os autores do crime têm relação próxima com a vítima, sendo parceiros ou com algum vínculo emocional ou sexual. E, embora estejamos expostas à violência o tempo todo — nas ruas, nas festas e em outros espaços públicos — a maior parte dos feminicídios acontece no lugar onde deveríamos nos sentir protegidas: o lar.

‘Tenho medo de ele fazer algo pior comigo’

Tatiana foi encontrada morta na manhã de quinta-feira (25), dentro da casa onde morava com os quatro filhos, deitada em sua cama. Imagens de câmeras de segurança mostram o suspeito e ex-companheiro saindo da casa dela no início da manhã.

De acordo com o relato de Roseane Sena de Jesus, amiga próxima da auxiliar de enfermagem, um dos filhos dela, um menino de oito anos, foi acordar a mãe e, sem resposta, chamou o irmão mais velho, de 19. Foi ele quem percebeu que Tatiana estava morta, com marcas de agressão e estrangulamento.

Tatiana (à esquerda) e Roseane junto da amiga, na imagem à direita | Crédito: Arquivo pessoal

“Ela me chamou para ir passar o Natal na casa dela. Era para eu estar lá”, lamenta a amiga. Ela conta que, meses antes do assassinato, o suspeito havia agredido a vítima com um soco no rosto. Tatiana chegou a enviar para Roseane uma foto, onde aparecia com os lábios inchados em consequência da agressão.

“Ela tinha medo, sabia? Ela falava: ‘Eu tenho medo de ele fazer algo pior comigo’”, revela a amiga. O caso de Tatiana não é incomum. Mesmo diante dos sinais de violência — ou da agressão, como aconteceu com ela — muitas vítimas voltam a ter relações com os seus agressores.

“Tem alguns estudos que apontam que a mulher reata o relacionamento e retorna para o ciclo de violência, até conseguir romper, de cinco a sete vezes”, explica Lais De Conti, que trabalha no Centro de Referência da Mulher no município de Araraquara, no interior de São Paulo e é Promotora Legal Popular, acompanhando vítimas de violência.

De Conti falou com o Brasil de Fato no início de dezembro, para uma reportagem sobre os recentes casos de violência contra a mulher. “E são diversos os motivos que fazem elas permanecerem no relacionamento. Desde um vínculo afetivo, uma dependência emocional, uma dependência financeira”, diz.

“Ela sempre falou pra mim que amava muito ele e que ele estava disposto a mudar”, conta Roseane, que descreve a amiga “uma guerreira”. Tatiana trabalhava como cuidadora de idosos e, além dos dois filhos de oito e 19 anos, deixa um bebê de um ano e uma menina de 11.

Ato de justiça por Tatiana Vieira
Data: domingo, 28 de dezembro
Horário: a partir das 11h
Local: rua Pendular, 290, Guarulhos (SP)

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