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Novas pesquisas mostram que a cooperação entre espécies pode ser muito mais comum e sofisticada do que se imaginava. Em diferentes ecossistemas, animais sem qualquer parentesco têm utilizado sinais compartilhados para alertar sobre perigos e reagir de forma coordenada contra predadores e parasitas.
Um estudo publicado na revista Nature Ecology & Evolution identificou mais de vinte espécies de aves em quatro continentes emitindo chamados quase idênticos ao avistar cucos parasitas. Esses animais depositam seus ovos em ninhos de outras aves e deixam que elas criem seus filhotes. A vocalização foi descrita como um som áspero e inconfundível que tem o objetivo de agir como um alerta coletivo que ultrapassa barreiras evolutivas. Assim que um indivíduo emite o chamado, aves de espécies diferentes se reúnem rapidamente para o mobbing, comportamento de ataque coletivo destinado a afugentar o invasor.
O ornitólogo James Kennerley, da Universidade Cornell, afirma que esse padrão opera como um código comum. Em um sítio de pesquisa na Austrália, ele observou mais de uma dezena de espécies atacando juntas um cuco após ouvir os avisos. A reação é tão intensa que os pesquisadores precisaram proteger o cuco empalhado utilizado nos experimentos, já que as aves poderiam destruí-lo por completo.
Uma linguagem compartilhada além dos limites da espécie
Comportamentos semelhantes têm sido registrados em outros contextos e grupos de animais. Entre eles, os esquilos-vermelhos, que utilizam chamados extremamente agudos para alertar que uma ave de rapina está em voo. Os sons passam despercebidos pelos predadores, mas percorrem grandes áreas da floresta, permitindo que diferentes espécies detectem o risco com antecedência. Quando o raptor pousa, o alerta se transforma em vocalizações mais agressivas que servem para expulsá-lo.
A comunicação interespécies também aparece entre mamíferos. Macacos e lêmures reconhecem alarmes emitidos por outras espécies e ajustam suas ações imediatamente. Nos recifes de coral, peixes sem relação evolutiva demonstram interpretar pistas visuais e químicas para escapar de barracudas. Em alguns casos, as interações nem envolvem predadores, mas ampliam as vantagens de alimentação.
Para o ecólogo Erick Greene, da Universidade de Montana, as descobertas revelam redes complexas de comunicação multiespécies presentes em diversos ambientes. Ele afirma que prestar atenção ao comportamento de outros animais não só amplia as chances de sobrevivência como mostra que a natureza opera em sistemas cooperativos muito mais amplos do que se imaginava.
Com informações Scientific American
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