Sindicatos e movimentos sociais ocuparam o granado do Palácio do Buriti nesta segunda-feira (24) para exigir apuração completa das suspeitas envolvendo o BRB e o Banco Master após prisões e denúncias que já movimentam mais de R$ 16 bilhões e expõem o governo Ibaneis Rocha (MDB) a uma das maiores crises políticas e financeiras da história do Distrito Federal.
A manifestação marcou a primeira reação pública organizada após a prisão do dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, acusado pela Polícia Federal de gerir um esquema de emissão fraudulenta de títulos de crédito. A operação levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a tornar réus o próprio Governo do Distrito Federal e a chefe de gabinete de Ibaneis, Juliana Monici, em um processo sobre movimentações suspeitas envolvendo o banco estatal.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no DF, Rodrigo Rodrigues, declarou que a mobilização é a resposta necessária diante da gravidade do caso. Ele apontou uma blindagem da cobertura midiática sobre a responsabilidade do Executivo local no escândalo.
“Queremos saber até onde está o envolvimento do Ibaneis com toda essa crise. O que estamos vendo é uma blindagem do governador na imprensa sobre as responsabilidades que ele tem com o ocorrido”, disse o sindicalista, destacando que a compra de R$ 12 bilhões em papéis considerados “podres” pelo BRB coloca o banco em risco.
Para Rodrigues, o problema é também político e estratégico: “O BRB deveria fomentar o desenvolvimento do Distrito Federal, e não financiar grandes eventos e negócios. Há um desvio da função primária do banco e, pior, um possível mau uso de recursos públicos.”
Oposição ainda tenta emplacar CPI
Parlamentares também avaliaram o desafio para instalar uma CPI na Câmara Legislativa, que é um dos objetivos de mobilização. O deputado Chico Vigilante (PT-DF) classificou o escândalo como sem precedentes. “Esse é o maior escândalo da história do Distrito Federal. Comparado com a Bezerra de Ouro do Roriz, aquilo vira brincadeira”, afirmou o parlamentar ao criticar a separação das operações suspeitas entre o BRB e empresas ligadas ao banco privado.
A oposição ainda não alcançou as assinaturas necessárias para abrir a investigação. Atualmente a proposta tem seis assinaturas, mas são necessários 13 votos para que a CPI inicie.
‘BRB não é propriedade de Ibaneis’
O risco à estabilidade financeira do BRB também marcou o ato. Para a representante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Ana Paula Cusinato, o cenário é preocupante. “É preciso apurar tudo, mas temos indícios robustos de que Ibaneis esteja envolvido nessa questão. Ele está brincando com o nosso recurso”, afirmou.
Ela alerta para os impactos sociais caso o banco público entre em crise. “O BRB é essencial para políticas públicas e para o fomento da economia. Enquanto isso, o serviço público do DF está desmantelado, faltam servidores em todas as áreas, e o governador diz que não há recursos, enquanto faz jogatina com o nosso dinheiro.”
O deputado Vigilante afirmou que parte do esquema fraudulento ainda deve vir à tona a medida em que a Polícia Federal aprofunde o caso. “A informação que nós temos é que não saiu nem um terço do que está por vir. Já pedimos nova audiência com o presidente do Banco Central para que a investigação seja rigorosa”, afirmou ele, que defende a preservação do BRB de qualquer instabilidade causada pela gestão atual.
“O BRB não é propriedade da Celina nem do Ibaneis. Temos que garantir que o banco não quebre, o cuidado que eles não tiveram e nós vamos ter”, pontua.
Mobilização
A dificuldade de mobilizar a população em torno de um caso complexo também foi lembrada. Para o deputado Reginaldo Veras (PV-DF) o desconhecimento sobre o escândalo ainda impede uma reação maior.
“Quando se fala em escândalo do BRB, o povão não sabe o que é. Rodei Sobradinho 2, Fercal e Planaltina, e o pessoal me perguntava: ‘Que escândalo é esse?’ Quem não sabe os detalhes não consegue se mobilizar” relatou. Ele reforçou que o colapso do BRB teria impacto direto no dia a dia da população: “O BRB não é só um banco. É a agência de desenvolvimento do DF. Se ele quebra, toda a economia é afetada.”
Ao final da manifestação, as entidades anunciaram que novos atos serão convocados. Rodrigo Rodrigues, da CUT, afirmou que a pressão sobre a Câmara Legislativa seguirá permanente. “Vamos continuar dialogando com os movimentos e pressionando para que a CPI seja aberta. É preciso defender o patrimônio do DF, e o BRB é o banco do povo.”
