No Natal passado, a mãe Ana Lúcia preparou uma torta que marcou a ceia da filha, Thaís dos Santos Cosme. “Ela chamou de torta de bacalhau, mas na verdade era feita com merluza salgada, um peixe que lembra muito o sabor e a textura do bacalhau tradicional.”
Com todo cuidado, Ana dessalgou o peixe, desfiou com carinho e misturou aos temperos que, para Taís, só ela sabe usar. “O cheiro tomou conta da casa e trouxe aquele clima acolhedor que só a cozinha de mãe consegue criar”.
A torta saiu do forno douradinha, macia por dentro e cheia de sabor. Cada pedaço lembrava a união, o esforço e o amor que ela coloca em tudo o que faz. “Foi uma receita simples, mas cheia de afeto daquelas que ficam guardadas na memória e no coração.”
Toda esta história é para lembrar que o preço do bacalhau está salgado, mas também da fonte criativa que o Complexo da Maré representa no mundo da gastronomia carioca. Não à toa, ela é a primeira das cinco favelas da ação “Impulso de Gerações” que a Fiocruz implementa a partir deste sábado (22). Ana Lúcia (mãe) e Thaís dos Santos Cosme (filha) levarão a tal “torta de bacalhau”, feita de merluza para a estreia.
O “Impulso de Gerações”, ao longo do ano, promoveu formações semanais sobre a economia criativa, para 250 moradores (com bolsa) das cinco favelas do projeto: Maré, Cidade de Deus, Rocinha, Rio das Pedras e Manguinhos.
A gastronomia deverá representar um volume considerável em cada uma das feiras, já que a prioridade são produtos autorais. Para além disso, devem ocorrer oficinas, rodas de samba, forró e diversas manifestações culturais que revelam a potência das favelas como produtoras de conhecimento e inovação.
E começar pela Maré, pelo sua culinária que rende até festivais e prêmios, é um impulso e tanto para eventos que são comuns por ali, como o Festival Comida de Favela e projetos como o Maré de Sabores.
