Home » BELÉM À PROVA: LULA BUSCA PROTAGONISMO CLIMÁTICO ENTRE FALHAS E ENTREGAS

BELÉM À PROVA: LULA BUSCA PROTAGONISMO CLIMÁTICO ENTRE FALHAS E ENTREGAS

Às vésperas da COP30, “foto de família” embala ambição verde do Brasil — e expõe problemas logísticos em Belém

by admin

Resumo: Lula posa com líderes e tenta cravar o Brasil como referência climática, com o Fundo Florestas Tropicais para Sempre como vitrine. Mas a pré-COP30 abre sob pressão: menos chefes de Estado do que o esperado, obras correndo, banheiro sem água e preços de alimentação que viraram meme — e caíram após críticas. Agora, governo e organizadores precisam transformar discurso em entrega.

O palco global, a estratégia e o recado

Reunidos para a tradicional “foto de família”, chefes de Estado e autoridades posaram ao lado de Lula na abertura da cúpula de líderes que antecede a COP30 (10 a 21 de novembro, em Belém). O Planalto vê o momento como chance de consolidar o país como referência em sustentabilidade e de puxar a fila da agenda climática — com a Amazônia no centro do enquadramento.

O trunfo: fundo para remunerar floresta em pé

A principal cartada é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund), pensado para remunerar países que preservam suas florestas. A meta é captar US$ 25 bilhões, com desenho que busca alavancar recursos privados a partir de aportes públicos e pagar por resultados de conservação. Nos primeiros anúncios, o governo reporta mais de US$ 5 bilhões em compromissos/intenções; países europeus e parceiros tradicionais figuram entre os potenciais contribuintes.

Menos líderes, mais pressão

A presença de líderes ficou abaixo do padrão recente: 57 chefes de Estado e de governo confirmados até o fim de outubro — o menor número desde 2019. Motivos citados por diplomatas e analistas incluem restrições de hospedagem e custos logísticos em Belém. O dado, por si, aumenta a cobrança por resultados concretos.

Bastidores: obras, água, wi-fi e o “menu da discórdia”

A infraestrutura virou assunto. Na área de imprensa, banheiros ficaram sem água por horas no primeiro dia, com reabastecimento por caminhão-pipa — e relatos de conectividade instável. Também houve obras correndo até a última hora. Não ajuda na percepção internacional.

Preços salgados… e recuo após a reação

Os preços da alimentação na Blue Zone estouraram as redes: água a R$ 25, refrigerante a R$ 25, lanches a R$ 35–70. Depois da repercussão (e de vídeos virais de repórteres), parte dos itens foi reajustada para baixo — casos de redução de 20% no refrigerante (de R$ 25 para R$ 20) e cortes em pratos quentes. Ainda caro? Sim. Mas já menos indigesto que na estreia.

A polêmica dos barcos

Sem leitos suficientes em hotelaria tradicional, a comitiva presidencial optou por embarcação tipo hotel. Reportagens indicam valores de até R$ 450 mil para iates similares e mencionam uma segunda embarcação de reserva — tema que virou combustível para críticas diante de um encontro focado em descarbonização.

O que precisa acontecer para não “flopar”

Converter foto em feito. O governo mira três entregas:

  • Consolidar governança e métricas do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (critérios de elegibilidade, auditoria independente, pagamentos por resultado e salvaguardas a povos indígenas).

  • Amarrar aportes adicionais e apresentar cronograma de desembolsos 2025–2026, com pipeline de projetos mensuráveis em Amazônia, Congo e Sudeste Asiático.

  • Deixar legados logísticos em Belém (saneamento, conectividade, mobilidade) testados e funcionando durante a COP — nada de aprender “ao vivo”.

Por que isso importa (além do marketing)

Se bem-sucedido, o fundo altera incentivos: floresta passa a render receita recorrente para quem preserva, e não só custo de oportunidade. É o tipo de instrumento que atrai capital privado e dá escala para soluções baseadas na natureza — desde que ambição climática não seja trocada por contabilidade criativa. Em suma: menos palanque, mais prestação de contas.

Termômetro político

Críticas a preços, barcos e improvisos não derrubam um encontro — mas enfraquecem a narrativa. Se a diplomacia selar cheques e regras claras, a memória que fica é de um Brasil que lidera pelo exemplo. Se não, a “foto de família” vira capa de um álbum de oportunidades perdidas.

You may also like

Leave a Comment