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‘Bolsonaro chileno’ José Antonio Kast chega favorito no segundo turno presidencial do país

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Os chilenos vão às urnas neste domingo (14) votar no segundo turno que escolherá o novo presidente do país para o período entre 2026 e 2030. O candidato da extrema direita José Antonio Kast, conhecido como o ‘Bolsonaro chileno’ lidera as pesquisas de intenção de voto por cerca de dez pontos sobre a candidata da esquerda Jeannette Jara.

“A extrema direita conseguiu, com quatro candidatos, totalizar quase 76% dos votos no primeiro turno. Desde então Jara aumentou em 10 pontos suas intenções de voto, chegando a 36%, muito atrás de José Antônio Kast que, nas pesquisas da semana passada, chega a 56% ou 21 pontos a mais do que no primeiro turno”, disse ao Brasil de Fato o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Gilberto Maringoni.

“A menos que ocorra uma reviravolta, é uma derrota anunciada para a esquerda“, disse ele.

“A extrema direita volta ao poder no Chile, bem mais radicalizada do que Sebastián Piñera [que governou o país entre 2010-14 e 2018-22], mas extremamente pinochista, que reivindica um passado glorioso que teria ocorrido durante a ditadura [1973 – 1990].”

Segurança

Jara, uma militante moderada do Partido Comunista de 51 anos, ex-ministra do Trabalho do atual governo de Gabriel Boric, representa uma coalizão de centro-esquerda alinhada ao governo. Ela ficou à frente no primeiro turno, mas Kast e os demais candidatos de direita somaram mais de 50% de apoio com uma proposta em comum: enfrentar a criminalidade e expulsar imigrantes irregulares, a quem culpam pelo aumento dos delitos e do crime organizado.

Kast, de 59 anos, líder do Partido Republicano, promete combater o crime através da detenção e expulsão de quase 340 mil imigrantes sem documentos que vivem no Chile. Se for eleito, ele se tornará o presidente mais à direita desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet em 1990.

Embora o Chile seja um dos países mais seguros da região, as atividades criminosas e a violência são a maior preocupação dos chilenos (63%), segundo uma pesquisa Ipsos de outubro. Os homicídios se estabilizaram nos últimos anos, mas aumentaram 140% em uma década: de uma taxa de 2,5 casos por cada 100 mil habitantes passou para 6 em 2024, segundo o governo.

O Ministério Público chileno também relatou 868 sequestros no ano passado, uma alta de 76% em relação a 2021.

Á época do primeiro turno, em novembro, a professora do departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Miriam Gomes Saraiva disse ao Brasil de Fato que “o fato de o Chile ser mais seguro, em comparação aos países vizinhos, não quer dizer muita coisa. O que é relevante para a gente entender se o tema de segurança é considerado importante ou não, é se houve alguma variação”.

Rafael Urzúa, um arquiteto de 47 anos que vive nos arredores de Santiago, afirma que não sai mais à noite devido à insegurança. Ele votará em Kast.

“Precisamos de ordem e segurança. Sabemos que, se continuarmos com Jara, não haverá nenhuma mudança; com Kast, será uma mudança de rumo”, disse à AFP. Desde 2010, a direita e a esquerda se alternam no poder no Chile a cada eleição.

Guerra aos estrangeiros

Diante de uma população que exige soluções imediatas, Kast promete deter e deportar todos os imigrantes irregulares, a maioria venezuelanos. Sua proposta de “escudo fronteiriço” inclui erguer um muro na fronteira com a Bolívia, cavar uma trincheira e mobilizar 3 mil militares para conter as entradas.

O candidato de extrema direita, que no passado defendeu o legado de Pinochet, mas afirma ser um democrata, promete combater o crime com mais poder de fogo para a polícia e o envio de militares para áreas críticas.

A forte percepção de insegurança “desempenha um papel muito importante na política, especialmente na política eleitoral. A direita soube instrumentalizar isso para se beneficiar”, afirma Guillaume Long, especialista do Centro de Estudos Econômicos e Políticos, com sede em Washington.

Esta é a terceira vez que Kast, que se opõe ao aborto mesmo em casos de estupro, disputa uma eleição presidencial.

Há quatro anos, perdeu o segundo turno para Boric, um ex-líder estudantil que chegou à presidência aos 36 anos com a promessa de mudar a Constituição de Pinochet para garantir maior acesso à saúde e educação depois que mais de um milhão de manifestantes foram às ruas em 2019.

Mas as duas tentativas de reformar a Constituição fracassaram por serem consideradas muito radicais – a primeira vez à esquerda, depois à direita – e a promessa de uma sociedade mais equitativa ficou pela metade.

Comunista moderada

Jara é advogada e administradora pública. Uma de suas principais promessas é aumentar o salário mínimo para quase 800 dólares (R$ 4.340, na cotação atual), 250 a mais que hoje. O plano da candidata para a imigração é controlar as entradas pelas passagens clandestinas e realizar um censo daqueles sem documentos para identificar os que têm antecedentes criminais e expulsá-los.

“Não há candidatura mais comprometida que a nossa com a segurança: segurança para combater o crime e para chegar ao fim do mês”, indicou.

Como ministra, impulsionou a redução da jornada de trabalho de 45 para 40 horas e uma reforma no sistema de aposentadorias, o que a elevou na política. Apesar de considerada ‘moderada’ e tenha tido atritos com a cúpula do Partido Comunista por suas críticas contra Venezuela, Cuba e Nicarágua, sua militância no PC desde os 14 anos dificultou a obtenção de apoios.

“Ser ministra e a continuadora de um governo que não atendeu às expectativas sempre representa um desafio”, afirmou o especialista Rodrigo Arellano, da Universidad del Desarrollo.

“Para Jara ganhar, o governo teria que ter sido excelente. Tendo sido normal, ou não muito bom, já era o suficiente para não vencer, dada a força que a direita tem no Chile”, disse Saraiva.

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