“Minha vida inteira eu dediquei à busca pela justiça”, iniciou a candidata de esquerda Rixi Moncada em seu discurso de encerramento de campanha presidencial em Honduras. Entre as bandeiras vermelhas do movimento Libertad y Refundación (Libre) e os cânticos da multidão reunida em San Pedro Sula, Moncada reafirmou: “Nossa luta, que hoje chega a esta etapa da campanha, enfrenta os mesmos: os 25 grupos econômicos das 10 famílias que deram o golpe de Estado e que historicamente saquearam este país”.
Moncada falou por quase duas horas para um ginásio lotado de apoiadores e militantes confiantes na vitória eleitoral, e focou em apresentar dois modelos de país, que, segundo ela, representam visões opostas sobre o futuro de Honduras.
De um lado, colocou o bipartidarismo tradicional do Partido Liberal e do Partido Nacional, que governou o país ao longo de sua história, associando-o à “oligarquia”, às “10 famílias” que controlam 80% da economia nacional. Do outro, destacou o “socialismo democrático” — continuidade do governo atual de Xiomara Castro —, definido como um “projeto de justiça social” e de “democratização econômica”.
Durante seu discurso, Moncada prestou um reconhecimento especial ao legado da atual presidenta, a quem atribuiu avanços significativos durante sua administração. A candidata garantiu que seu próprio projeto político surge como continuidade do processo iniciado por Castro, voltado a aprofundar reformas estruturais que beneficiem os setores “historicamente excluídos”, e destacou que pretende ampliar as transformações do país por meio de um eventual governo seu.
“A presidenta Xiomara Castro deixa um grande legado que reconhecemos e exaltamos: reduziu mais de 20% dos homicídios. Isso incomoda os narcotraficantes, os golpistas, que veem uma mulher deixar esse legado. Depois do legado de Xiomara Castro, vem o legado de Rixi Moncada”, afirmou.
Ao longo de sua fala, Moncada enfatizou o que considera o principal eixo de sua campanha: uma reforma fiscal progressiva. Segundo explicou, isso implicaria estabelecer um sistema em que aqueles com maiores rendimentos contribuam mais para o desenvolvimento do país. A reforma busca corrigir desigualdades históricas e permitir que a riqueza gerada chegue às famílias trabalhadoras, consideradas por ela o motor de Honduras.
Seu plano de governo foi apresentado na última quinta-feira (20) sob o título Democratização da Economia, um documento de 71 páginas que detalha os principais eixos de um eventual governo seu e descreve estratégias para fortalecer o papel do Estado em áreas-chave, como saúde, educação, infraestrutura e emprego.
“Vamos fazer com que a riqueza chegue às famílias trabalhadoras deste país”, afirmou a candidata do Libre.
E ainda destacou: “A eles dizemos que chegou a democratização: vamos cancelar as centrais de risco, porque o dinheiro deve ser emprestado aos pequenos e médios empresários, e vamos continuar gerando empregos de forma massiva”.
Moncada sustentou que, sob sua administração, a democratização econômica seria promovida por meio do estímulo a diversos setores produtivos, incluindo apoio a pequenos e médios empresários. Seu objetivo, afirmou, é alcançar um crescimento econômico equilibrado, que não sacrifique a equidade social.
“Não estamos propondo tirar dinheiro de ninguém; estamos propondo que quem mais ganha e quem mais tem pague mais. Estamos propondo equidade”, destacou.
Em seu discurso, a candidata também fez referência à necessidade de Honduras avançar rumo a maior autonomia e justiça social. Sublinhou que o país não deve depender de “receitas econômicas impostas do exterior”, mas, sim, criar e aplicar suas próprias políticas públicas.
“Honduras terá uma presidenta. Eu estou preparada e pronta para conduzir os destinos do país com justiça, de forma pacífica, governando para o povo, levando Honduras e seu povo a melhorar e alcançar o bem-estar econômico e social”, concluiu, destacando que a próxima etapa do “socialismo democrático” deve se concentrar na dignidade, na justiça e no fortalecimento democrático.

Eleições
Com mais de 6,5 milhões de hondurenhos aptos a votar, as eleições do próximo dia 30 de novembro escolherão — em turno único — a presidência do país, além de renovar a totalidade do Congresso e das prefeituras.
Trata-se das primeiras eleições em Honduras desde a chegada ao governo do partido Libertad y Refundación (Libre), em 2021, que pôs fim a décadas de alternância — marcada inclusive por graves denúncias de fraude — entre o Partido Nacional e o Partido Liberal.
Ao todo, são cinco os candidatos à presidência, embora a disputa tenha se concentrado principalmente em três figuras: Rixi Moncada, do Libre; e os conservadores Salvador Nasralla, do Partido Liberal (PL), e Nasry Asfura, do Partido Nacional.
Em caso de uma eventual vitória de Moncada, a atual presidenta Xiomara Castro entregaria a faixa presidencial a Rixi Moncada, marcando a primeira vez na história em que uma presidenta transfere o poder a outra mulher.
