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Cuba enfrenta uma grave epidemia de doenças transmitidas por mosquitos, com a disseminação simultânea de dengue, chikungunya e febre oropouche, agravada por uma profunda crise no sistema de saúde. Em meio à escassez de medicamentos, energia elétrica e infraestrutura hospitalar, a população relata sintomas severos, sequelas duradouras e uma sensação de abandono.
Com hospitais em colapso, falta de medicamentos e apagões constantes, país enfrenta avanço descontrolado de dengue, chikungunya e febre oropouche/Foto: Getty Images/BBC
“Matanzas hoje parece uma cidade de zumbis”, desabafou a jornalista cubana Yirmara Torres Hernández. A frase resume a cena: ruas cheias de pessoas febris, encurvadas, com dores intensas e sem forças até para buscar ajuda médica.
Segundo o Ministério da Saúde Pública de Cuba, os casos de chikungunya aumentaram 71% em apenas uma semana, enquanto a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) estima mais de 25 mil infectados. No entanto, autoridades reconhecem apenas 47 mortes, número contestado por especialistas que denunciam subnotificação.
A infraestrutura médica da ilha está em colapso: faltam remédios, luvas, seringas e até diagnóstico adequado. A maioria dos doentes opta por ficar em casa, automedicando-se, diante da ineficácia dos serviços hospitalares.
“Não há atendimento, apenas recomendam paracetamol e hidratação”, relata uma moradora da província de Pinar del Río. Outros entrevistados afirmam que comprar medicamentos no mercado informal ou receber ajuda de parentes do exterior tornou-se a única saída viável.
O agravamento da crise econômica, a escassez de água, o acúmulo de lixo nas ruas e a falta de eletricidade para usar ventiladores e ar-condicionado são fatores que impulsionam a proliferação dos mosquitos vetores das doenças. “Sem luz, os mosquitos entram e picam. E os lixões nas esquinas só aumentam o problema”, afirma Hansel, engenheiro de 31 anos que enfrentou sintomas severos durante dias.
Além do impacto imediato, pacientes relatam sequelas prolongadas, como dores articulares que persistem por semanas ou meses. “Mais de um mês depois, ainda sinto dores nas mãos e nas costas”, contou Hansel.
Diante da situação, a OMS/Opas informou que medidas de vigilância e combate aos vetores estão sendo implementadas, como campanhas de fumacê e monitoramento epidemiológico. No entanto, a percepção da população é de que tais ações ainda são insuficientes diante da gravidade do cenário.
Enquanto o governo não apresenta respostas mais concretas, a população cubana vive entre o medo do contágio, a dor das sequelas e a frustração com o colapso de um sistema de saúde que já foi referência internacional.
Informações G1
