Home » Com prisão preventiva, STF deu um ‘basta’ ao bolsonarismo, avalia cientista político

Com prisão preventiva, STF deu um ‘basta’ ao bolsonarismo, avalia cientista político

by admin

A prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), decretada no sábado (22) após a tentativa de violar a tornozeleira eletrônica e estimular atos em frente à sua casa, representa uma virada definitiva no enfrentamento institucional ao bolsonarismo. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o cientista político Rudá Ricci avaliou que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu “liquidar a fatura” com a ação.

“Eu acho que foi uma iniciativa do Supremo para liquidar a fatura de uma vez”, afirmou Ricci. “Não dá mais para lidarmos com gente assim, que coloca em risco a ordem democrática o tempo inteiro no enfrentamento das instituições. Foi um basta nessa confusão que o bolsonarista gosta de fazer com o nosso país”, analisou.

Segundo o pesquisador, a convocação de uma “vigília” feita pelo filho do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e o episódio da tornozeleira foram lidos pelo Supremo como novos testes de limite. “O bolsonarismo foi todo construído em cima da excitação da base, da mobilização permanente. Às vésperas de transitar em julgado toda a situação de Bolsonaro, o filho dele resolveu convocar uma manifestação que é temerária”, disse.

Ricci considera que o gesto de tentar derreter a tornozeleira confirma esse padrão destrutivo. “Não é evidente que ali havia uma trama estabelecida?”, questiona.

‘Bolsonarismo não tem organização’

Ao ser questionado se haveria alguma estratégia na sucessão de crises, o cientista político apontou que “o bolsonarismo não tem uma estrutura organizativa. O bolsonarismo só tem mobilização.” Ricci comparou a lógica do grupo ao personagem “Cavaleiro Negro”, do filme de comédia Monty Python: mesmo destroçado, segue atacando. “Isso é o bolsonarismo. Eles estão absolutamente destruídos, sem o líder, e continuam falando ‘volta aqui, que eu vou morder o teu calcanhar’”, explicou.

Sem Bolsonaro e os filhos operando diretamente, ele prevê que a extrema direita deve migrar para o terreno institucional, especialmente a Câmara, sob figuras como o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido na Casa. Fora desse ambiente, avalia, a direita radical “é instável”.

Disputa tende a favorecer Tarcísio

Para Ricci, a prisão definitiva de Bolsonaro, que deve se consolidar ainda nesta semana, deve inaugurar uma nova fase dentro da direita. Ele avaliou que a força de rua deve diminuir e surgirão tentativas de “herdar” o eleitorado bolsonarista.

“Para mim, sai à frente, com larga vantagem, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas [(Republicanos)]. Fora ele e [o deputado] Nikolas Ferreira [(PL-MG)], não vejo realmente ninguém que possa angariar o espólio dos Bolsonaro, que entram agora em ocaso”, observou.

O cientista político também projetou embates intensos entre 2027 e 2030, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja reeleito. Sem candidaturas alternativas e alianças com o centrão, “possivelmente o lulismo vai pagar caro mesmo com a reeleição de Lula a partir de 2027, e vai até 2030 em uma situação muito tensa”, indicou.

Sem anistia, centrão pauta tensões no Congresso

Ricci descartou o avanço da pauta de anistia no Congresso, apesar da retórica mais agressiva de figuras como Sóstenes Cavalcante. Segundo ele, “a atenção no Congresso e no Senado não vem pelo bolsonarismo, vem pelo centrão.” Ele citou como principal fonte de instabilidade atual o escândalo envolvendo o BRB e o Banco Master.

Sobre a movimentação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), Ricci avaliou que “a tentativa nessa semana do Alcolumbre é pautar o debate com vários projetos que o governo não quer pautar para tumultuar e poder negociar com o governo federal.”

Para o cientista político, o cenário das próximas semanas deve ser de barulho, mas sem avanços concretos. “Nós vamos ter tumultos, sim, mas não são exatamente de bolsonaristas, são do centrão”, concluiu.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

Créditos

You may also like