O crime organizado é um dos maiores vetores de destruição da Floresta Amazônica. As facções criminosas são responsáveis não apenas pela explosão de violência na região, mas também por dificuldades para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Por isso se tornaram objeto de estudos recentes e tema de debates na COP30, em Belém.
“O crime organizado se tornou um grande agente de desmatamento. Ele fragmenta a floresta e as comunidades”, diz o climatologista Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para a Amazônia (SPA), uma rede de cientistas e líderes indígenas. Em relatório recém-lançado, o SPA constata que as quadrilhas do tráfico, do garimpo ilegal e da grilagem encontraram na devastação florestal uma fonte de lucro, usado para ocupar território e lavar dinheiro, como relatou reportagem do GLOBO.
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Cerca de 40% da cocaína mundial atravessa a região amazônica, diz o relatório. O narcotráfico devasta a vegetação e usa vias fluviais em áreas antes intactas. Mais de 4 mil pontos de mineração ilegal se espalham por terras indígenas e unidades de conservação, correspondentes a mais de 2.600km2 da Amazônia brasileira. O garimpo ilegal também provoca devastação no território ianomâmi, com contaminação por mercúrio e danos permanentes à saúde da população. Por fim, mais de 90 mil reses criadas em áreas invadidas entraram no mercado formal de carne bovina, estima o estudo.
A situação é ainda mais preocupante, pois grande parte da fronteira amazônica é aberta, sem vigilância. Muitos rios e afluentes do Amazonas nascem noutros países. O relatório cita o avanço do garimpo ilegal no Peru, responsável por destruir milhares de hectares de floresta e por focos de desmatamento, e também pela Venezuela, no território ianomâmi. Não adianta reprimir garimpo apenas em um lado da fronteira. É urgente haver por parte de Brasília ação política e diplomática incisiva para articular iniciativas com os vizinhos com o objetivo de preservar a floresta.
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Fora a importância para a manutenção do grande volume de água doce da região, as árvores da Amazônia armazenam o equivalente a entre 15 e 20 anos de emissões globais de CO₂, segundo o relatório. Faz sem dúvida sentido o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), para captar recursos destinados a conservar a floresta. Além de programas de preservação, porém, será essencial enfrentar facções criminosas. “Estamos convencidos de que a agenda climática deve incorporar a questão do crime organizado”, diz o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Renato Sérgio de Lima.
Também na COP30, o FBSP lançou um estudo relatando oito experiências promissoras de enfrentamento ao crime organizado na região. São iniciativas como bases fluviais estabelecendo a presença permanente do Estado no Amazonas e no Pará; o programa de rastreamento do ouro ilegal pela Polícia Federal; a Operação Curupira, que usa rastreamento contínuo por satélite para atuar nos municípios com maior desmatamento; uma força-tarefa permanente de combate ao crime organizado; ou a presença no território ianomâmi com um modelo que alia repressão ao garimpo e assistência humanitária. Tais exemplos apontam caminhos promissores. Mas é preciso que ganhem escala e sejam prioridade nacional. Deter as organizações criminosas é crítico também para salvar o planeta.
