Divulgação/Kalshi
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Luana Lopes Lara ganhou as manchetes internacionais no início de dezembro de 2025. Não era para menos: sua empresa (a plataforma de mercado de previsão Kalshi) captou então US$ 1 bilhão, elevando seu valuation para US$ 11 bilhões e o patrimônio de cada cofundador – donos de 12% da companhia cada – para cerca de US$ 1,3 bilhão. O cálculo catapultou a empreendedora, hoje com 29 anos, ao título de mais jovem bilionária não herdeira do mundo.
Ela afirma nunca ter duvidado de que tinha um bom negócio em mãos com a Kalshi, cofundada em 2018 com um colega do MIT. “Mas nem nos meus sonhos mais ousados imaginei que ela se tornaria tão grande tão rápido”, diz a mineira, que vive nos Estados Unidos há mais de 10 anos.
De Minas Gerais ao MIT
Nascida em Belo Horizonte (MG) e criada em Niterói (RJ), Luana passou pela Escola do Teatro Bolshoi, em Joinville (SC), e pela Escola Técnica Tupy, com foco em exatas. O interesse vem de família: seu pai é engenheiro eletricista; sua mãe, professora de matemática; e sua irmã, engenheira química. “Está nos genes”, diz. Aprovada em Harvard, Yale e Stanford, optou pelo MIT, onde se formou em ciência da computação com bolsa da Fundação Estudar.
Foi lá que conheceu o sócio, o libanês Tarek Mansour, durante um estágio na Five Rings Capital, em Nova York. “Como traders, víamos pessoas tomando posições com base no que achavam que aconteceria com o Brexit ou a eleição do Trump. E se pudessem negociar diretamente os resultados desses eventos, como fazem com ações?”
Alexander Karnyukhin/Forbes
O libanês Tarek Mansour e a brasileira Luana Lopes Lara, cofundadores da Kalshi
A criação da Kalshi
Em uma caminhada voltando do trabalho, decidiram pedir demissão e se lançar no mercado de previsões. “É como o mercado financeiro, mas aplicado a eventos do mundo real, como eleições, premiações, clima, esportes e muito mais.” Na plataforma, usuários compram e vendem contratos que refletem a probabilidade de um evento ocorrer. Se a previsão estiver correta, recebem US$ 1 por contrato; se não, nada.
A Kalshi obteve aval da CFTC, agência federal que regula derivativos e futuros nos EUA, em 2020, após mais de três anos de negociações. Em 2023, o órgão barrou seus contratos eleitorais por considerá-los semelhantes a jogos de azar, mas uma decisão judicial abriu caminho para que, em 2024, a empresa passasse a oferecer previsões sobre a eleição presidencial (como “Trump voltará à Casa Branca?”), impulsionando esse mercado.
Os contratos ligados à política e aos esportes são os mais controversos: críticos dizem que os primeiros podem influenciar eleições, enquanto os segundos poderiam driblar regras estaduais de jogos de azar e ampliar as apostas esportivas, inclusive entre públicos mais jovens.
O sonho de ser a próxima Steve Jobs
Como COO da Kalshi, com cerca de cem funcionários, principalmente nos Estados Unidos, Luana responde por toda a operação. O volume semanal de negociações já supera US$ 1 bilhão, com mais de 90% em contratos esportivos. Em janeiro, Donald Trump Jr., filho do presidente norte-americano, passou a integrar o conselho consultivo da empresa; mais tarde, também entrou no board da rival Polymarket.
A formação como bailarina profissional ajudou a prepará-la para a disciplina, rejeição e dedicação inerentes à rotina empreendedora. No balé Bolshoi em Joinville, única filial fora da Rússia, as aulas iam das 7h às 21h. Professoras ameaçavam queimar com cigarro as pernas que não subissem o suficiente e colegas escondiam cacos de vidro nas sapatilhas umas das outras. “Sabia que não era para sempre; queria fazer algo de grande impacto.”
Dançou profissionalmente na Áustria e focou no balé até o final do ensino médio, quando trocou definitivamente as sapatilhas pela matemática, com um objetivo: tornar-se a próxima Steve Jobs. “Quero ver até onde posso ir e o quanto posso conquistar”, diz. Luana também espera ser inspiração para os empreendedores brasileiros. “Nada é ‘loucura demais’. Você não vai querer olhar para trás e pensar que desperdiçou seu potencial.”
Reportagem original publicada na edição 137 da Forbes Brasil, que traz a Lista Forbes Under 30 2025 e já está disponível no app da revista.
