Home » Como lidar com o favoritismo no ambiente de trabalho? | Carreira no Divã

Como lidar com o favoritismo no ambiente de trabalho? | Carreira no Divã

by admin

>> Envie sua pergunta, acompanhada de seu cargo e sua idade, para: carreiranodiva@valor.com.br

“Sou formado em administração, com pós em finanças corporativas. Trabalhei 2 anos e meio numa empresa, saí para abrir meu próprio negócio e, depois de dois anos, voltei ao mercado CLT em outra companhia. Fui então convidado a retornar à antiga organização, agora para atuar em planejamento, programação e controle da produção com a promessa de crescimento. Aceitei, mesmo com salário menor. Mas desde que voltei, percebo situações que vão contra meus princípios: meu gestor favorece uma colega de mesma hierarquia, com quem parece ter envolvimento pessoal, compartilha com ela informações sigilosas e cumpriu apenas parcialmente a promessa de revisão salarial. Além disso, essa colega fez amizade com uma pessoa da minha equipe oferecendo presentes, o que levou à quebra de confiança interna. Já tentei conversar com meu gestor, mas ele não permite diálogo aberto. Como continuar trabalhando sem me deixar afetar por esse ambiente, ou como decidir se é hora de sair?” Administrador, 28 anos

Sua pergunta toca em um tema central da vida profissional: o dilema entre permanecer em um ambiente que fere nossos valores ou buscar um novo caminho. Não é apenas uma questão de carreira — é uma questão de saúde emocional e integridade.

Primeiro, é importante reconhecer que o que você descreve configura um ambiente eticamente disfuncional. Relações de favorecimento, falta de transparência e assimetrias de poder costumam gerar insegurança psicológica e sentimento de injustiça. Segundo a pesquisadora Amy Edmondson, da Harvard Business School, a segurança psicológica é o alicerce do desempenho coletivo. Sem ela, as pessoas deixam de se expressar com autenticidade, o diálogo se fecha e a confiança se fragmenta — exatamente o cenário que você relata.

Outro ponto relevante é o rompimento do contrato psicológico. Esse conceito, desenvolvido por Denise Rousseau, descreve as expectativas não escritas entre colaborador e organização, como promessas de reconhecimento, respeito e crescimento. Quando essas promessas são quebradas, mesmo parcialmente, há uma perda simbólica de confiança que impacta motivação, engajamento e saúde mental. É o que muitos chamam de “cansaço moral”: a exaustão que surge quando se é forçado a atuar em desacordo com seus valores.

Colunista escreve que o vínculo mais determinante para a experiência de trabalho é o de liderança, e quando esse vínculo se deteriora, o sentido do trabalho também se perde — Foto: Freepik

Diante disso, há duas perguntas-chave que podem te orientar:

O que ainda te conecta a essa empresa?

Se há espaço real de aprendizado técnico, fortalecimento de currículo ou ganho de experiência estratégica, talvez valha estabelecer um plano de permanência com prazo determinado, enquanto prepara a transição para um novo ambiente.

Nesse caso, o foco deve ser proteger sua energia: documente fatos, mantenha interações estritamente profissionais e busque apoio fora da estrutura hierárquica direta, seja com RH, mentores internos ou colegas de confiança.

O que te custa permanecer?

Quando o ambiente ameaça sua paz ou integridade, insistir pode sair mais caro do que adiar a mudança. Estudos da Gallup mostram que 70% das pessoas que pedem demissão o fazem por causa da relação com o gestor, não da empresa. Isso se dá porque o vínculo mais determinante para a experiência de trabalho é o de liderança, e quando esse vínculo se deteriora, o sentido do trabalho também se perde.

A decisão de sair não precisa ser abrupta, mas deve ser consciente. Transforme essa vivência em um marco de autoconhecimento profissional: o que te fez aceitar voltar? O que essa experiência te mostrou sobre os limites que você não quer mais ultrapassar?

Toda jornada de amadurecimento passa por um momento em que aprendemos a dizer “isso não é sobre mim, é sobre o sistema que me cerca”. Esse discernimento é o que te permitirá seguir sem amargura, mas com clareza.

Enquanto se organiza, cuide-se: preserve sua rotina, evite se envolver em disputas internas e mantenha foco no que depende de você: sua entrega, sua reputação e sua serenidade.

E se decidir sair, faça isso de forma planejada e digna. As experiências que testam nossa ética, embora dolorosas, costumam ser as que mais fortalecem a bússola interna que orienta as próximas escolhas.

Dani Jesus é psicóloga, ativista, criadora do Currículo Oculto e apaixonada por cultura, gestão de pessoas, diversidade, equidade e inclusão.

>> Envie sua pergunta, acompanhada de seu cargo e sua idade, para: carreiranodiva@valor.com.br

Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

Créditos

You may also like