Nate Ryan para a Forbes
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De volta a 1985, quando o negócio de embalagem de carne da família americana Link, em Wisconsin, estado no meio-oeste dos EUA, havia acabado de falir, e Jack Link estava levando seus filhos adolescentes para caçar quando eles pararam em uma loja de conveniência para comprar alguns pacotes de jerky, um petisco de carne bovina ou de mais carnes, que foi salgado, temperado e desidratado lentamente. Depois de pagar, Link não conseguiu acreditar no quão caro era.
“Eu disse: ‘Uau, isso é muito dinheiro,’” diz Link, agora com 79 anos.
A ideia se fixou em Link, que logo percebeu que poderia produzir esses produtos ele mesmo, e que já apresentava fornos em sua fábrica fechada.
“Então, nós colocamos um pouco de jerky lá e ele saiu simplesmente maravilhoso,” diz Link em uma rara entrevista. “E foi aí que tudo começou.”
Usando a receita de 1880 de seu bisavô imigrante alemão, o jerky de Link se tornou um sucesso e, agora, como a marca homônima Jack Link’s, é a marca de jerky mais vendida na América. Com US$ 2 bilhões (R$ 10,7 bilhões, segundo a cotação atual) em receita anual estimada e 34% do mercado de snacks de carne dos EUA dominado, a empresa fez dele um bilionário.
“O jerky esteve lá o tempo todo para me salvar,” diz Link.
Ele ainda vive na mesma casa em Wisconsin onde seus filhos cresceram.
Hoje, os beef sticks (palitos de carne) e os jerkies da Jack Link’s são vendidos em mais de 200.000 lojas em quase todos os grandes varejistas na América, bem como em 55 países ao redor do mundo. O negócio fabrica mais de 800 milhões de pacotes de produtos de carne a cada ano.
Como o rei da indústria global de snacks de carne de US$ 9 bilhões (R$ 48,2 bilhões) em vendas anuais um mercado quente que, na última década, atraiu um frenesi impulsionado por investidores de cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,4 bilhões) em financiamento, juntamente com aquisições de nove dígitos por grandes empresas de capital aberto a Jack Link’s resistiu aos desafiantes, enquanto alguns se tornaram grandes fracassos.
Ao longo desta ascensão, o filho mais jovem de Jack, Troy, agora com 53 anos, lidera o caminho a seguir, sendo nomeado CEO em 2013, conforme seu pai passou para um cargo de presidente do conselho. Troy Link diz que a competição é dura, mas que ainda existe muito espaço para crescimento. “Acredite ou não, ainda temos muita oportunidade,” diz Troy.
A Link Snacks é 100% familiar, e os Links dizem apresentar pouco interesse em vender. Se a empresa fosse adquirida, isso não sairia barato. Diz um investidor de capital privado, “é um negócio que amaríamos possuir, mas não gostaríamos de comprá-lo com base no que os proprietários concebem que vale.”
Nate Ryan para a Forbes
Jack Link na cada da Forbes dos Estados Unidos
A Forbes estima que o negócio vale, conservadoramente, US$ 4 bilhões (R$ 21,4 bilhões). A Jack Link’s se recusou a comentar sobre dados financeiros.
O negócio apresenta forte lucratividade. A Forbes estima que as margens de lucro bruto ultrapassam 30%, graças em parte a margens mais altas em lojas de conveniência e bancas de aeroportos, como a Hudson News. A Forbes também estima que companhia apresenta cerca de US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão) em EBITDA anualmente.
“A empresa pode dizer não ao caminho mais fácil,” diz Troy. “Isso mantém as prioridades realmente diretas, e podemos nos firmar no longo prazo.
“E neste momento, com os custos da carne subindo, somos capazes de prender a respiração. Somos capazes de deixar as coisas se acalmarem,” ele continua. “Elas não ficarão assim para sempre. A questão é: por quanto tempo podemos prender a respiração e quão roxo ficará nosso rosto?”
A Jack Link’s tem muito a lidar em meio a startups crescendo rapidamente e perturbando as prateleiras incluindo Chomps, Archer e Fatty Smoked Meat Sticks, mas a Jack Link’s continua a crescer, mesmo em sua escala significativa.
Diz Jack, “é a nossa força e a permanência nisso que fazem acontecer.”
A revolução da embalagem a vácuo
Quando os Links mudaram de embalagem de carne para jerky, Troy já havia trabalhado no matadouro de sua família em Minong, Wisconsin, por alguns anos, primeiro no chão de abate e então ao longo da linha de desossa. “O que aprendi é que é preciso continuar a se reinventar,” ele diz.
Após a faculdade na University of Wisconsin-Stout, ele retornou em 1993 a uma empresa que havia se tornado lucrativa e ainda estava crescendo. A Jack Link’s era uma marca popular do meio-oeste americano, especialmente em postos de gasolina Holiday e Kwik Trip, que ainda não haviam se expandido para além da região.
O que primeiro levou a marca a nível nacional no início dos anos 1990 foi a comercialização de seus beef sticks com um homólogo de cheese stick (palitos de queijo). De repente, como Troy recorda, o negócio de jerky da família tinha “mais pedidos do que podia produzir.”
Com esse sucesso, Minong, com uma população de cerca de 500 habitantes, logo ficou pontilhada com outros negócios da família Link, incluindo uma concessionária de carros, uma concessionária de trailers, uma concessionária de barcos, uma loja de móveis e uma mercearia. As últimas três fecharam há alguns anos.
A família também possuiu um número considerável de hectares de pastagem e terras agrícolas na área e Jack continua a manter um rebanho de gado todos os anos.
Enquanto Jack liderava o negócio, Troy ajustou-se em vendas, marketing e aquisição de ingredientes. Troy rapidamente deixou uma marca importante no negócio quando percebeu que a Jack Link’s deveria vender beef jerky em saco à vácuo. “Realmente não era algo comum,” Troy recorda. “Ninguém pensava que um item de US$ 5 (R$ 26,8) pudesse vender.”
Robert D Brozek/Alamy
Beef jerky em sacos herméticos
Depois de apresentar a ideia ao seu pai, Jack disse que o negócio não apresentava o capital para apoiar tal lançamento. Mas Troy elaborou planos para manter os custos baixos. Ele finalmente convenceu Jack a lançar quatro sabores em três tamanhos, e a Jack Link’s se tornou oficialmente a primeira a vender jerky em um pacote com fecho hermético em 1997. As vendas dispararam quase imediatamente, conforme Walmart e Target adicionaram a Jack Link’s ao seu portfólio.
“Desde o momento em que o tivemos, não conseguíamos produzir o suficiente,” Troy recorda. “Não conseguíamos mantê-lo nas prateleiras.”
Hoje, a linha ensacada de beef jerky da Jack Link’s constitui mais de 50% da receita total. Mas a verdadeira vitória foi para o resultado final do negócio. Anteriormente, a Jack Link’s havia vendido itens de custo extremamente baixo meat sticks por US$ 0,50 (R$ 2,68) ou US$ 1 (R$ 5,36), dependendo do tamanho e, de repente, cada venda trazia vários dólares de cada vez.
Todo esse lucro incremental ajudou a garantir a fundação financeira, conforme a distribuição se expandiu para redes de varejo americanas como a Costco e Bass Pro Shops, e a Jack Link’s avançou para além do meio-oeste do país.
A competição feroz
Troy se tornou presidente em 2003 e, no ano seguinte, seu irmão mais velho, Jay, renunciou em meio a várias disputas. Os Links entraram com uma ação judicial em 2005 para obrigar Jay a vender suas ações, com base em um acordo anterior, e Jay então entrou com uma ação judicial contra seu pai e irmão, alegando que eles violaram seu dever fiduciário de comprar suas ações por um preço descontado.
Ambas as alegações acabaram indo a julgamento em 2008, e após seis semanas no tribunal estadual de Wisconsin, o júri decidiu que Jay poderia receber seu salário a partir do dia em que deixou o negócio, mas que ele tinha que entregar suas ações pelo valor previamente determinado de US$ 19,4 milhões (R$ 103,9 milhões).
O júri também ordenou que tanto Jack quanto seu filho Jay pagassem US$ 5 milhões (R$ 26,8 milhões) cada um em danos punitivos, embora a alegação de danos de Jay tenha sido posteriormente reduzida por um juiz em recurso em mais de 80%.
Em meio a esse caos legal, as vendas dispararam em 2005 e continuaram a acelerar rapidamente.
Quando Troy assumiu como CEO em 2013, o negócio havia acabado de ultrapassar US$ 1 bilhão em receita anual estimada. Também coincidiu com a indústria de snacks de carne partindo para uma montanha-russa.
Em 2015, a Hershey’s, multinacional americana e uma das maiores fabricantes de chocolate do mundo, adquiriu a marca de jerky de alta qualidade Krave por US$ 240 milhões (R$ 1,3 bilhão). Logo, a General Mills, multinacional americana de alimentos, dona de marcas globais famosas como Cheerios, Yoplait, Häagen-Dazs, Betty Crocker, Pillsbury e, no Brasil, Yoki e Kitano, pagou cerca de US$ 100 milhões (R$ 535,8 milhões) pela marca de barras de bisão alimentado com capim Epic Provisions. Um boom de interesse de investidores de capital de risco e capital privado logo seguiu.
“Temos mais concorrentes e melhores concorrentes do que nunca,” diz Troy. “Temos alguns concorrentes que estão muito firmados em apresentar o mínimo de itens, e quando apresentamos o mínimo de itens, criamos grandes velocidades.”
Para permanecer competitivo com marcas subitamente apoiadas por empresas de capital aberto e outras cheias de capital privado, Troy impulsionou o negócio a se tornar ainda maior, adquirindo a divisão de snacks de carne da Unilever e impulsionando a Jack Link’s para a Europa.
As vendas da Jack Link’s permaneceram fortes, mas a Krave ficou instável na Hershey’s. O fundador da Krave, Jon Sebastiani, recomprou a empresa em 2020 por meio de sua empresa de investimento de capital privado Sonoma Brands e adquiriu uma segunda linha de jerky, a Chef’s Cut.
Levou alguns anos para desfazer o dano. A situação reverteu no ano anterior, especialmente depois que a Krave, anteriormente apenas fabricante de jerky, lançou seu primeiro meat stick.
Ao longo de 2025, Krave e Chef’s Cut aumentaram a distribuição em um somatório de 16.000 lojas de varejo, incluindo na Albertsons, Kroger, Costco, Wegmans e H-E-B. No entanto, outro produtor de jerky, a Stryve, que abriu capital por meio de uma listagem de cheque em branco em 2021, quase implodiu.
A empresa não lucrativa atualmente é negociada como uma penny stock (ações de pequenas empresas negociadas por preços muito baixos e com baixa capitalização de mercado, caracterizadas por alta volatilidade, baixa liquidez e alto risco, mas com potencial de retornos significativos para investidores especulativos).
“Surgiram muito mais pessoas que entraram e falharam do que pessoas que entraram e tiveram sucesso,” diz Troy. “Agora precisamos produzir mais receita com menos espaço.”
Entre as marcas insurgentes que pressionam a Jack Link’s, existe a Chomps, fundada em Chicago, com US$ 400 milhões (R$ 2,1 bilhões) em receita anual estimada, um aumento de quase 150% ano a ano. Fontes internas dizem que a Chomps pode estar mirando em abrir capital.
A Chomps recusou-se a comentar sobre um potencial IPO, mas alega que mais de 22% do crescimento nas vendas gerais de snacks de carne em todo o país este ano foi impulsionado por sua marca.
Existe também a californiana Archer, com US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão) em receita estimada para 2025, um aumento de mais de 60% em relação ao ano anterior. A receita poderia atingir US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões) no ano seguinte, já que cerca de 70% das vendas da Archer provêm de consumidores que não compraram um snack de carne antes ou de consumidores gastando mais do que antes.
Diz o fundador e CEO da Archer, Eugene Kang, membro da classe Forbes 30 Under 30 de 2019: “A Jack Link’s pavimentou a estrada e, em última análise, existe espaço para ambas.”
A Archer é apoiada pela Monogram Capital, que também adquiriu o fabricante contratado de meat stick preferido da indústria, a Western Smokehouse, que produz os sticks para Archer, Chomps e Fatty, no início do ano em um acordo avaliado em cerca de US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões), incluindo dívida.
Existem também empresas apoiadas pela holding americana de alimentos com sede em Chicago ConAgra, de capital aberto, que possui a marca Slim Jim, bem como as aquisições mais recentes da Thanasi Foods, fabricante de snacks de carne Duke’s, em 2017 e da Sweetwood Smoke & Co., fabricante de Fatty, em 2024.
Troy diz que gostaria de adquirir algumas marcas concorrentes, mas “continuo sendo superado em lances por capital privado,” ele diz. Snacks de carne, ele nota, são “mais relevantes hoje do que nunca foram.” E o setor ainda está crescendo. Nos próximos cinco anos, a indústria projeta um crescimento de 11% anualmente. “Tudo o que se pode petiscar é um concorrente para nós,” diz Troy.
Como parte dessa filosofia, a Jack Link’s quer mais clientes da Geração Z e investiu em produzir jerky e sticks de carne de peru em colaboração com o YouTuber mais assistido do mundo (e comprador regular da Jack Link’s) Jimmy Donaldson, mais conhecido como MrBeast. Até agora, 57% dos clientes nunca compraram um produto da Jack Link’s antes.
Fazer crescer a linha de meat sticks da Jack Link’s será crucial para conquistar novos consumidores, especialmente porque é uma categoria de crescimento mais rápido do que o jerky. Para esse fim, Troy quer que a Jack Link’s permaneça relevante e, no início do ano, o negócio patrocinou o Talladega Speedway da Nascar e rebatizou o Geico 500 como o Jack Link’s 500. Terá esse nome até o final de 2027.
Meat sticks são uma parte cada vez mais importante do negócio da Jack Link’s tão importante que a empresa investiu US$ 450 milhões (R$ 2,4 bilhões), em dinheiro e incentivos fiscais, na construção de uma nova fábrica de 37.161 metros quadrados em Perry, Geórgia, que abriu este ano e é dedicada a fabricar apenas sticks de carne e queijo.
Ela pode produzir até 820.000 sticks por dia. A nova fábrica também fica perto de onde Troy vive na Flórida, onde ele divide o tempo com Wisconsin.
Olhando para o futuro, Troy diz que a Jack Link’s permanecerá familiar. Sua esposa, Lorissa, administra uma marca de snacks de carne hipoalergênica chamada Lorissa’s Kitchen, inspirada no mais novo de seus três filhos que sofre de alergias. Os filhos deles poderiam eventualmente assumir papéis na Link Snacks.
Quanto ao que o próprio Jack Link espera que o negócio apresente em outra geração ou duas, ele é muito claro: “Bem, maior é melhor.”
